Vício!
Seis da tarde. Enquando aguardo que a minha mulher saia do tratamento de fisioterapia vou a uma caixa de multibanco.
É uma daquelas salas fechadas, onde àquela hora só se acede através do próprio cartão. Chegámos dois à porta na mesma altura. Passo o cartão mas dou passagem à senhora, que primeiro hesita mas após a minha insistência entra mas educadamente agradece.
A sala é grande e eu afasto-me o suficiente para a senhora fazer as suas operações descansada. Noto que primeiro pede uma espécie de consulta de movimentos, que percebo através do tamanho do talão. Observa o dito papel, abana a cabeça e resmunga qualquer coisa que não percebo. Levanta então algum dinheiro.
Finalmente liberta a máquina. Todavia ao passar por mim tem a seguinte confisssão:
"Um destes dias nem tenho dinheiro para comer."
Não sei que dizer nestas situações. Encolho os ombros, coloco um sorriso brando e tento chegar-me ao Multibanco. Foi a minha vez de requerer o dinheiro. Depois procuro uma pastelaria perto para merendar. O estabelecimento vende à entrada outrossim jogo: lotarias, raspadinhas e tem um posto de obliteração de bilhetes de totobola, totoloto e euromilhões.
O curioso é que quando entro encontro a mesma senhora do multibanco a comprar uma mão cheia de raspadinhas, que após breves minutos deitou fora sem qualquer prémio.
Fiquei a pensar nas palavras dela minutos antes:
"Um destes dias nem tenho dinheiro para comer."
Concluí baixinho: "A gastar dinheiro daquela maneira será muito fácil ficar sem dinheiro para comer!"
Um vício é pior que cem esposas.