Uma prenda infindável!
Quando li a primeira vez o texto infra do escritor argentino Jorge Luis Borges fiquei atónito. Como se pode escrever tão pouco e dizer tanto?
Pudera... os verdadeiros escritores são assim.
THE UNENDING GIFT
Um pintor prometeu-nos um quadro.
Agora, em New England, sei que morreu. Senti, como outras vezes, a tristeza de compreender que somos como um sonho. Pensei no homem e no quadro perdidos.
(Só os deuses podem prometer, porque são imortais.)
Pensei num lugar determinado que a tela não ocupará.
Pensei depois: se lá estivesse, seria com o tempo essa coisa mais, uma coisa, uma das vaidades ou hábitos da minha casa; agora é ilimitada, incessante, capaz de qualquer forma e qualquer cor e não ligada a ninguém.
De algum modo, existe. Viverá e crescerá como uma música e estará comigo até o fim.
Obrigado, Jorge Larco.
(Também os homens podem prometer, porque na promessa há algo de imortal.)
De: Jorge Luis Borges
(Nova Antologia Pessoal - Editora DIFEL - 1983)