Ter Presidente ou não ter Presidente, eis a questão
O nosso povo é tendencialmente estranho. Daí talvez existir aquela expressão tão sobejamento conhecida e usada: preso por ter cão e preso por não ter.
No caso presente será mais ter Presidente ou não ter Presidente.
Durante anos, mas especialmente nos últimos tempos, li muitas críticas ao antigo Presidente por não falar. Ou se falava só dizia coisas impensáveis. Expurgando algumas parvoíces, muito comuns na nossa sociedade, a maioria das críticas faziam sentido.
O Professor Cavaco Silva no seu último magistério calou-se quando devia falar e falou quando devia estar calado. Mas acontece a muitos e o ex Presidente nunca foi pessoa para o politicamente correcto... mas ainda assim reconheço que deveria ter tido mais cuidado.
Ao invés Marcelo Rebelo de Sousa utiliza o diálogo como forma de apaziguar o país e o discurso de hoje é um óptimo exemplo. Para além da presença física em actos simples e corriqueiros que ele sempre fez. Assumo que muuuuuuuuito antes de Marcelo surgir como candidato eu já o deixara de escutar na televisão havia algum tempo. Aquele discurso de alguém que sabe tudo, sobre tudo, que lia livros como quem bebe água, que fazia "bodyboard" no Guincho, que corria no paredão de auscultadores causava-me alguns pruridos...
O que é estranho é que, paulatinamente, surja nos dias de hoje uma espécie de campanha contra um Presidente falador e interventivo. Campanha essa mais ou menos lançada pelos mesmos que tanto criticaram silêncios anteriores.
Então é que é que ficamos? O Presidente deve ou não falar? Deve ou não intervir? Se não porque criticaram o antigo Presidente? Se sim, que deve intervir, que faz o Presidente que não deveria fazer de forma a ser tão escrutinado?
Percebo que o fruto amargo da vitória de um Candidato mais moderado, contra uma quantidade de candidatos mais progressistas, seja difícil de engolir oara alguns sectores políticos otriundos da tal esquerda radical e ortodoxa mas, quer queiram quer não a democracia é isto. Ou será que não?