Faz hoje 30 anos que uma doença estúpida (como são todas as doenças!!!) levou dos portugueses a voz que cantou a luta contra um regime ditatorial.
Zeca Afonso cantou e encantou-nos. Curiosamente nunca comprei um disco dele, vá lá saber-se porquê, mas conhecia muitas das suas músicas.
Não foi somente o homem de compôs Grandola, Vila Morena... Foi um cantor que amou a liberdade e a música a um nível que dificilmente alguém conseguirá superar.
Era conhecido a sua tendência de esquerda, mas isso não invalidou que o valor das suas canções fosse naturalmente reconhecido por todos os que o escutaram, independentemente da opção de esquerda ou de direita.
Uma coisa tenho a certeza em relação a este cantautor: Zeca foi a voz que cantou a dor, a tristeza e o medo de Portugal e soará, como um eco, para sempre.
Nunca fui a uma manifestação. Nem contra nem a favor de rigorosamente nada.
No entanto entendo e concordo que as pessoas tenham o direito de se manifestar. De usarem todos os meios legais ao seu alcance para protestarem contra aquilo que consideram não estar correcto.
As “Grandoladas” como agora iniciaram a chamar a estes tipos de protesto, tendo em conta que usam a canção de Zeca Afonso como arma sonora de arremesso contra o governo, parecem exagerar no uso daquele tema tão popular e umbilicalmente ligado à “Revolução dos Cravos”.
Se bem que vivamos tempos conturbados e deveras difíceis, a verdade é que “Grândola Vila Morena” foi escrita (e cantada) num contexto diametralmente oposto ao de agora. Em 1974 vivíamos debaixo de uma ditadura assente numa polícia política feroz, sem direito a liberdade de expressão ou de opinião.
Naquele tempo não eram autorizadas manifestações, comícios ou qualquer tipo de debate político. O silêncio era a ordem normal de um país que vivia em guerra, mais com o seu próprio passado, do que contra os guerrilheiros em África.
Hoje nada disso existe… e ainda bem!
Dir-me-ão muitos, que as políticas deste governo se assemelham ao que se passava nesse tempo. Até posso aceitar esse pensamento, todavia muitos dos que estavam na manifestação de ontem nunca souberam o que foi viver sem democracia! Naquele tempo jamais poderiam fazer o que se fez este sábado por essas cidades de um país á beira de um profundo colapso.
Finalizo com um tema, também do Zeca Afonso, que talvez, repito talvez se adapte melhor à época que estamos a viver.