Hoje o meu barbeiro, um transmontano valente, enquanto de tesoura e pente me tosquiava, pegou no assunto dos últimos dias: os distúrbios na Cova da Moura na Amadora.
- O que me diz a este caso?
Respondi de forma diplomática:
- Não digo nada porque só sei o que vou lendo. E provavelmente nem tudo será verdade!
Todavia percebi qual seria a sua ideia e não lhe dei lastro ao assunto. Nem precisei, pois o J. voltou ao assunto com um discurso quase radical. Muito no seguimento de alguns líderes de certas forças políticas.
Não imagino o que seguirá naquele bairro nos próximos dias e noites, no entanto fico a aguardar o desenvolvimento dos acontecimentos, esperando sinceramente que tudo amaine para bem dos cidadãos que ali vivem e das forças policiais, que independentemente do seu trabalho, quantas vezes ingrato, também são gente e têm família. Como tinha a vitima mortal!
Fica ainda a ideia de que alguns partidos e associações aproveitaram-se desta nefasta situação para atirar achas para uma fogueira já de si demasiado crepitante. Eu sei que estes tristes episódios têm sempre um grande impacto nos bairros mais herméticos e vai daqui alguns grupos políticos gostam de se aproveitar da situação no sentido de abichar mais uns votos.
Só que a incontinência verbal trará sempre mais atritos a uma sociedade assaz carente e sensível, mas pronta para a violência, que ninguém deseja!
Finalmentte convém não esquecer que há gente que esfrega as mãos de contente com estas pequenas revoltas.
Quando oiço ou leio notícias sobre tiroteios como o desta semana no Texas que vitimou 21 pessoas pergunto-me: como chegámos aqui?
Tenho consciência de que a sociedade americana é completamente diferente das sociedades europeias. O uso e porte de arma é natural e quase me arriscaria a dizer é fomentado.
Basta para isso que não tenha cometido qualquer crime e que aparentemente esteja de posse das suas faculdades mentais. Assim qualquer pessoa nas condições anteriores pode entrar numa loja da especialidade e comprar qualquer arma. Haja para tal o dinheiro!
Desde sempre que escutei e li que o maior negócio do Mundo seria o armamento. Nem petróleo, nem diamantes, nem droga… apenas armas. E pelo que tenho percebido este lóbi é tão poderoso que não há político que consiga alterar qualquer lei que ponha em causa a venda livre de qualquer arma.
A consequência desta política de venda livre de armas está em mais um ataque, desta vez a uma escola primária. Vinte e uma vítimas mortais parece-me um custo demasiado elevado, mesmo para a sociedade americana que defende a auto-defesa com base na segunda emenda.
Provavelmente se Salvador Ramos – o atirador de Texas – tivesse entrado numa escola onde estudassem filhos ou netos de políticos americanos e matado algumas crianças, provavelmente repito a lei seria mais tarde ou mais cedo alterada.
Todavia a forte divulgação deste tiroteio por todos os meios também não ajuda a controlar os ímpetos de quem possa ter desejos assassinos comuns ao de Salvador.
Por fim continuo a questionar-me: como chegámos aqui?
Ultimamente as notícias de violência nas ruas em diversos pontos do Mundo tem sido uma constante. Hong Kong, Barcelona, La Paz, Santiago do Chile e este sábado Paris, são exemplos de cidades onde os tumultos têm vindo em crescendo.
A população sai à rua, revolta-se, protesta, criando em cada cidade um ambiente assaz truculento com consequências (ainda) imprevisíveis.
Tenho perfeita consciência de que o povo, quando se revolta, é porque tem razão. Só que tantos focos e tensões ao mesmo tempo não me parecem, de todo, obra do acaso.
Nunca acreditei em coincidências e na política seja ela nacional ou internacional ainda menos. No entanto e nestes casos todos ainda não entendi quem irá ganhar com estes conflitos.
Vou ficar à espera de novos desenvolvimentos para tirar uma eventual conclusão.
Quando em 1999 aterrei pela primeira vez em Barcelona e já no táxi que me levaria à cidade condal vi um enorme placard que dizia: "Bem vindo ao País da Catalunha".
Pela assertividade do texto e da maneira como estava escrito percebi logo que estava numa zona de Espanha muito diferente do restante país.
Este sentimento foi-se adensando sempre que regressei àquela cidade.
Conheci relativamente bem Barcelona, visitei tudo o que havia para visitar e caminhei quilómetros na cidade. O curioso é que, não obstante alguns catalães mais regionalistas, o que eu senti é que todos viviam em boa comunhão.
Dir-me-ão que tudo não passava de uma paz podre. Até pode ser que sim... Todavia era preferível essa paz, mesmo que fictícia, aos gravíssimos distúrbios que vamos actualmente assistindo.
É que os catalães mais radicais nem imaginam o que o futuro poderá reservar à região. Sinto mesmo que não será coisa boa...
A cidade de Barcelona imortalizada por Freddy Mercury jamais será a mesma...
De vez em quando eis que surge mais um caso de violência juvenil filmada e indevidamente publicada nas redes sociais ou algo semelhante.
As televisões pelam-se por estas notícias… Ui e de que maneira. Através de longuíssimas reportagens com a passagem dos vídeos até à exaustão ou entrevistas, geralmente aos pais das vítimas, ou então escutam a opinião de alguém que consideram um analista deste tipo de fenómeno.
As vítimas são assim espoliadas da sua reserva e atiradas para o meio das televisões sem qualquer preconceito. É o tal direito à informação, dizem!
Creio ter chegado o tempo dos meios de comunicação social, especialmente os canais televisivos, acordarem uma espécie de regra tácita para que este género de assunto não seja divulgado de forma generalista. Acima de tudo para bem dos violentados.
Todos temos consciência que não é por não se falarem das coisas que elas não existem. Longe disso. No entanto seria fantástico evitar-se mostrar imagens dos acontecimentos. Estas deveriam ser entregues somente às autoridades competentes de forma a fazer-se investigação e apuramento dos factos.
Outro problema nestes casos prende-se como a Justiça (não) faz o seu trabalho. Primeiro porque na maioria os prevaricadores são menores e neste sentido inimputáveis à face da lei criminal. Serão os pais, em última instância, a pagar pelos erros dos filhos. Segundo porque não parece haver uma condenação eficaz para este género de crime.
Seja como for, e de modo a evitarmos males maiores, seria muito bom que este tipo de violência gratuita não surgisse nas televisões porque simplesmente a dignidade de quem é vítima destes horrores, ficará sempre em causa.
Não consigo entender como em pleno século XXI ainda há mulheres capazes de matar os próprios filhos por não saberem lutar contra. Os filhos geralmente são (ou deveriam ser) o lastro da coragem e do estoicismo da maioria das mães. Infelizmente nem de todas!
Ora é exacatamente este ponto, a falta de coragem maternal, que me aflige e nos devia afligir a todos.
O caso da mãe que foi ontem à noite apanhada a sair da água em hiportermia sem os dois filhos mexeu comigo. Fala-se em depressão da mãe e de eventuais abusos sexuais aos menores. mas sem uma investigação policial é obviamente difícil de dizer mais alguma coisa.
Porém o que resta de toda esta trágica história é a forma como uma mãe se liberta de um jugo que eram, essencialmente, os seus filhos. Um caso que não é único, infelizmente. Na maioria por violência doméstica e abusos de toda a natureza.
E o problema é que a nossa justiça olha para os autores de todos estes crimes com alguma permissividade. Geralmente tendo como base longos e elaborados relatórios médicos apontando diversas deficiências cognitivas e de personalidade. Resumindo: os criminosos são todos loucos.