Nunca percebi muito bem a relação que os homens têm com as suas viaturas. Para a maioria daqueles um carro é uma extensão de si mesmo, como se fosse mais um braço, uma perna, um orgão.
Serei provavelmente a excepção já que a minha viatura é um simples objecto para meu uso tal como é este portátil onde escrevo estas pobres palavras ou o telemóvel através do qual me ligo a tanta gente.
Mas esta estranha relação entre carros e respectivos condutores quase sempre culminam em acidentes, por vezes graves. Essencialmente porque os condutores consideram-se os melhores do mundo e consequentemente perfilam da ideia de que as suas viaturas como... imbatíveis.
Talvez seja por tudo isto que quando conduzo, principalmente nas vias mais rápidas, noto que há cada vez mais gente a andar (demasiado) depressa, como se fugissem de alguma coisa. E nem vale a pena as sucessivas campanhas das autoridades contra o excesso de velocidade, pois nenhum desses automobilistas apressados sente que a campanha é para eles e somente para os outros, quando no fundo é para todos os que andam na estrada!
Raramente vejo televisão. Um filme aqui e outro ali são para mim suficientes. Mas naquele início de noite estava acompanhado e fiquei a escutar as notícias que outros queriam ouvir. E de repente falou-se de um acidente de viação em S. Jacinto junto a Aveiro. A notícia parecia não ter grande interessse quando percebi que o veículo se despistara e caíra na ria de Aveiro.
O condutor conseguiu salvar-se com a ajuda de um pescador mas o pendura acabou por morrer afogado preso ao carro pelo cinto de segurança, desesperadamente solicitando por ajuda que chegou demasiado tarde. Morreu tragicamente consciente do seu destino.
Sou há muito radicalmente contra o uso de cinto de segurança, especialmente no trânsito citadino, já que aceito que nas grandes distâncias convém usar esse acesssório.
Aquele evento deu direito a debate familiar. De um lado estava eu a lutar contra uma lei que considero absurda, do outro a defesa intransigente do diploma que me obriga a usar o cinto.
Vencido mas não convencido, considero que estes tipos de leis servem outros interesses que não os dos condutores. Por acaso não terão sido as seguradoras a apertar o cerco aos constantes governos para publicarem tal lei? Uma questão para a qual nunca teremos uma resposta válida.
Falam-se dos custos sociais que acarretam as mortes em acidentes de viação. Até posso aceitar... No entanto está provado cientificamente que fumar faz mal e mata prematuramente. Mas não há governo que proiba as pessoas de fumar. Porque será? E agora já não há custos sociais com estas mortes?
Bom, detesto que o governo mande na minha casa e na minha carteira mais do que já manda. Mau feito, eu sei!