Cheguei ontem ao fim da tarde à capital após 1110 quilómetros percorridos em quatro dias. Se fizer uma média diária até que nem andei muito... mas as estatísticas servem para isto: diluir no tempo a nossa vida.
Posto isto, levantei-me ontem cedo pois desejava chegar o mais cedo possível a Lisboa acima de tudo por causa do volume de trânsito que sempre surge por estas alturas na estrada, sejam pelas férias, praias ou festas da aldeia!
Mas o dia começaria com uma enormíssima surpresa. A ideia não era nova em mim, mas guardei-a. Porém o meu bom amigo João-Afonso abriu as portas à vontade e ao desejo de constatar uma das mais surprendentes visões deste Douro. Um mar de natureza, um oceano de sensações, uma galáxia de beleza imensurável ou simplesmente uma obra divina. Já vi muitas coisas belas neste país, mas este olhar para uma imensidão e ficar sem saber respirar, deve ser difícil voltar a sentir.
No miradouro de S. Leonardo da Galafura que Torga adorava e escreveu sobre isso um belíssimo poema* é como se se avistasse o Mundo todo de uma só vez. Aquilo dói ao nosso olhar tão pouco habituado à beleza espontânea. E nem os rascos naúticos lhe retiram um mílimetro que seja. Nem o Sol que nunca deixou de brilhar colocando a névoa.
Há montes vísivéis e vales escondidos, mas mesmo assim adivinha-se a beleza nos socalcos rasgados de verde, primórdios de novos espíritos.
Entretanto o local estava repleto de gente. A festa de S. Leonardo e de Santa Bárbara estaria prestes a principiar na aldeia antes. Uma pena... Porque a aparelhagem sonora disparava decibéis de som em todo o redor do monte enquanto os copos de cerveja e "panache" escorriam goleas abaixo na manhã quente e um grupo de bombos carregava mais nas peles esticadas.
Quebrada a magia do momento para mais uma festa popular parti para (re)ver Peso da Régua. Chegado à entrada da ponte velha a opção estava tomada e segui para Lamego. Quilómetros a deixar o belo Douro para trás.
Só que a cidade de Lamego não deixa também ninguém indiferente. A sua velhíssima Sé pode ser o primeiro exemplo, mas a Capela de Esp+irito Santo ali quase ao lado também parece relevante.
onde se misturam diferentes estilos: românico, barroco, manuelino...
Só que Lamego é a cidade de Nossa Senhora dos Remédios. Um imponente templo encrustado no monte e onde se chega de diversas maneiras, mas normalmente a pé!
Mas são necessários 656 degarus para no topo se avistar uma cidade que serenamente se ajoelha aos pés desta sua Padroeira.
A hora do almoço aproximava.se e decidido o espaço encontrei uma mesa... na rua! Nem em casa como no jardim quanto mais num restaurante. Contudo... ou isso ou nada!
Fiz-me à estrada mais tarde do que previra, mas felizmente os emigrantes parece que corriem em sentido contrário. É! Os franco-luso descendentes continuam, e não é de agora, a ser um perigo na estrada.
Cheguei bem e a horas de regar a minha sedenta horta!
* São Leonardo de Galafura
À proa dum navio de penedos, A navegar num doce mar de mosto, Capitão no seu posto De comando, S. Leonardo vai sulcando As ondas Da eternidade, Sem pressa de chegar ao seu destino. Ancorado e feliz no cais humano, É num antecipado desengano Que ruma em drecção ao cais divino. Lá não terá socalcos Nem vinhedos Na menina dos olhos deslumbrados; Doiros desaguados Serão charcos de luz Envelhecida; Rasos, todos os montes Deixarão prolongar os horizontes Até onde se extinga a cor da vida. Por isso, é devagar que se aproxima Da bem-aventurança. É lentamente que o rabelo avança Debaixo dos seus pés de marinheiro. E cada hora a mais que gasta no caminho É um sorvo a mais de cheiro A terra e a rosmaninho!
O dia de hoje principiou muito bem com um pequeno almoço fantástico. Só acepipes que comi com gosto e vontade.
A estrada esparava-nos e lá fomos visitar o ex-libris da cidade: a Fundação da Casa de Mateus! Um local muito bonito e que eu andava desejoso de visitar.
Todo este local é fabuloso, não só pela localização, mas acima de tudo pela conjugação de diversos factores donde se realça obviamente o lindíssimo edifício e os arranjadíssimos jardins,
se bem que esta época do ano não seja a melhor para este tipo de jardins, acima de tudo pelo imenso calor que por aqui se vai sentindo.
Acabei também por visitar a casa no seu interior onde entre mobiliário antigo, loiça, quadros e livros realço uma edição de "Os Lusíadas" em pergaminho que José Maria, 5º Morgado de Mateus, mandou imprimir pouco mais de 200 cópias e ofereceu-as às reais casa da Europa, sendo hoje uma obra de valor incalculável.
Doversos móveis com diferentes origens donde se destacam os lindíssimos contadores.
Feita a visita foi o momento de entrar na Capela que me pareceu ser pobre, não estando ao nível do restante palácio.
Segui, após muito tempo no palacete, para Murça. Outra vila que estava na minha ideia um dia visitar. A tal que tem no meio da praça principal uma tosca estátua de pedra com a aparência de uma porca. Contam-se sobre esta pedra/animal/estátua uma série de fantasias, mas eu não cheguei a escutar nenhuma.
Cá para mm, que percebo pouco daquilo, parece-me mais um javali, mas isto sou eu...
Após um almoço de posta barrosã, óptima por sinal, fui calcorrear as Caves da Adega Cooperativa de Murça, devidamente acompanhado e onde tive a oportunidade de perceber como as uvas chegam às nossas mesas transformadas em bom vinho.
Fica aqui apenas o armazém dos barris.
Quando saí desta vila o carro marcava 40 graus e eram ainda três e meia da tarde.
Pela estrada de regresso a Vila Real pude ainda perceber muito que os incêncios devem ter destruído nesta zona. Pinhais e castanheiros em profusão que é parte do parque do Tua.
Já na capital de distrito e após um breve descanso parti para fazer os passadiços do Rio Corgo. São curiosos, mas e mais uma vez este circuito deve ser muuuuuuuuuuuuito mais bonito no inverno ou na primavera essencialmente pela água que o rio deve levar. Mas não é desengraçado.
De regresso à praça principal de Vila Real fiquei com a certeza de ser uma cidade bem acolhedora e muito simpática.
Bom por aqui o calor aperta. Após mais de 400 quilómetros percorridos sob um Sol inclemente eis-me chegado ao destino: Vila Real!
A bonita cidade sobre o rio Corgo calhou-me em sorte para uma escapadela de fim de semana.
Mas antes de chegar ousei entrar na Batalha, mas as festas deste feriado não deixaram. Resultado: andei às voltas até voltar ao caminho para Trás is Montes. Mas como sou anormalmente teimoso decidi sair um Condeixa e procurar as ruínas de Conimbriga. Bela aposta já que não sendo a primeira vez que as visitava, ainda assim fiquei espantado com o que ali pude observar e aprender.
Ao invés do que diz Óbelix nas suas aventuras gaulesas, os Romanos não eram doidos e deixaram coisas fantásticas para a posteridade. Que se podem observar neste belíssimo espaço. Vida e actividades com perto de 2 mil anos e que ainda conseguimos imaginar sem grande esforço. O Museu Monográfico está muito completo e ajuda a perceber melhor o que foi a vida nesta povoação romana.
Seguiu-se o belo de um almoço e finalmente o regresso ao verdadeiro caminho. Muitos quilómetros palmilhados e entrei em Peso da Régua, mas azar dos azares também estava em festa e desta vez entrei e saí da bonita vila ribeirinha ao Douro sem sequer parar.
Finalmente Vila Real. Às seis da tarde o termómetro marcava 34 graus, sem vento e um ar abafado.
Uma volta rápida pelo centro da cidade e umas compras para a ceia chancelaram definitivamente este dia. E fui dormir num quarto deste casa!
Lembram-se desta celebérrima frase que Vasco Santana quase vocirava na "Canção de Lisboa"? Pois é... em Águeda os chapéus são mesmo muitos.
Nesta volta de três dias a primeira paragem ocorreu na Pateira de Fermentelos (bem bonita por sinal, especialmente do lado da Óis da Ribeira) para a seguir parar em Águeda. Percorri algumas ruas do centro e deparei-me com esta beleza.
Termino com a seguinte pois parece-me uma foto feliz!
Parti na passada segunda-feira para a zona centro de Portugal. Não sei bem se Sever do Vouga é centro, já que sempre aprendi que o centro de Portugal seria em Vila de Rei. Enfim adiante...
Regressei hoje após uma grande volta... Saí de Sever de manhã, fui tomar café a Mortágua, visitei o Bussaco (ainda não sei por que mudaram o çê cedilhado original para dois esses), almocei na Mealhada e acabei em casa por volta das seis da tarde.
Vi muitos sítios bonitos mas o que mais gostei foi desta cascata.
Inserida dentro do Parque Natural da Cascata da Cabreia é um sítio muito agradável e com direito a banhos se for adepto disso. Até o nome do rio é curioso: rio Mau!
Nas redondezas há, ao que soube, outras cascatas, mas nesta altura do ano avisaram-me que têm pouquíssima água! Não merecia o investimento do tempo que perderia.
Portanto esta valeu por todas, com toda a certeza.
O regresso na segunda-feira ao Continente foi demorado, como é quase sempre que se sai dos Açores ainda por cima de ilhas sem voos directos para Lisboa. Portanto "check-in! às 10 da manhã em Santa Cruz das Flores e chegada a casa às 20 horas! Posto isto é só para comunicar que as deslocações de e para os Açores dá quase sempre um dia perdido!
Mas regressemos ao que conta.
1 - As Flores e o Corvo são duas ilhas onde o tempo parece ter parado. Não no sentido evolutivo, mas unicamente na forma como se gere esse mesmo tempo. Dito de outra forma há tempo para tudo.
2 - Não há filas de trânsito. E se alguém pára, o carro que vier a seguir aguarda pacientemente. Assisti a um casal que parou a viatura à porta do café, deixou o carro a trabalhar, foi beber o café matinal e entrou no carro sem que ninguém barafustasse.
3 - Os restaurantes são razoáveis, mas anormalmente caros. Não sei a insularidade é uma (má) desculpa.
4 - As pessoas são muito simpáticas e tenho a certeza que se lá vivesse ao fim de pouco tempo conheceria a população toda.
5 - Quanto ao que vi... gostaria de fazer uma lista do mais bonito... todavia tornar-se-ia injusto para outros locais de uma beleza fantástica. No entanto reconheço que viajar para o Corvo acompanhado pelos golfinhos foi algo que deixou marcas.
6 - As hortenses ocupam grande parte da ilha. Dividem estradas, terrenos, cobrem os campos mais inóspitos para as vacas, enfim dão uma beleza quase infinita à ilha.
7 - Muita gente afirma que não gostaria de viver numa ilha devido â falta de assistência médica, por exemplo. A minha pergunta é esta: quantas pessoas morreram e que vivem perto dos hospitais? Teria mais receio de um tremor de terra que do resto. Mas isto sou eu!
8 - Não percebi grande agitação nocturna o que equivale dizer que a malta gosta de se deitar cedo. Os que desejam agitação terão de escolher outra ilha, provavelmente.
9 - As viagens não são baratas mesmo que algumas se possam fazer em "low-cost", mas continuo a dizer que vale a pena uma viagem ao local mais ocidental de Portugal e da Europa.
10 - As Ilhas perfeitas mais uma vez encheram o meu coração de imagens que jamais esquecerei! Ide, ide que não se arrependerão!
Domingo foi o último dia de passeio pela Ilha das Flores. Mas foi também dia de festa em honra de S. Pedro, padroeiro da freguesia e do Divino Espírito Santo. Logo de manhã notou-se movimento defronte do Império consagrado ao Divino. Aproximei-me lentamente e fui percebendo pais e mães de mãos dadas às filhas de branco vestidas... Uma ternura.
Eram dez e meia da manhã, já batia um Sol quente, quando sairam todos em procissão até à Igreja Matriz. Tudo muito bem organizado com direito a fanfarra e poucos fiéis a acompanhar.
No largo da igreja mais gente, mas estranhamente ainda pouca para a conhecida fá católica daquela região.
Não fui à missa desta vez e parti em busca de uma Reseva Natural na Fazenda de Santa Cruz. Este é um local que é outra boa surpresa. Com cerca de três hectares, este local tem uma diversidade de polantas e animais que faz as delícias dos visitantes.
Foi uma volta demorada e pensei como gostaria de ter as minhas netas ali! Nas costas do parque há ainda uma belíssima queijaria gerida pelo senhor Fernando, um beirão radicado há muitos anos na ilha, e pela filha Ana Catarina, onde comprámos uma série de queijos... fabulosos!
Fazia-se tarde e logo dali saí para as Lages onde me esperava um almoço fantástico: boca-negra grelhada com batata doce. E abrótea frita! Ui... como me soube bem!
Entretanto o tempo estragara-se e caía uma pequena chuva. Nada que um bom continental não aguentasse. Por isso mesmo à chuva fui dar conta dos estragos que o furacão Lorenzo fez ao porto em 2018 e não obstante muitas obras ainda visíveis.
Mas há também alguns pedaços reparados e prontos a receber embarcações, se bem que de pequeno calado o que ainda é insuficiente para as necessidades da ilha.
Por ali deambulei até chegar bem perto de um veleiro com bandeira peruana e acabadinho de atracar. Acabei por meter conversa com um dos triputlantes que me disse serem três e que haviam partido bas Bahamas 13 dias antes. Apanharam na viagem uma forte depressão e que agora seguiriam para... a Horta! Só podia, pensei eu!
A povoação teve em tempos um museu da baleia mas desapareceu também com o tal furacão.
Faltava já ver pouco da ilha. Porém as paisagens de Costa, Lajedo e Mosteiro não deixam ninguém indiferente.
A beleza é tanta que quase tenho de parar a cada 100 metros de estrada.
Finalmente encontrei esta estranha formação rochosa a que deram o nome de Rochedo dos Bordões.
Neste sobe e desce de estrada íngreme e demuitas curvas, quase se assemelhava aos caminhos para as Fajãs de S. Jorge, a beleza destas serranias verdes é algo inesquecível.
À saída da estrada que vem de Mosteiro ao lado esquerdo há um marco geodésico e um miradouro... Parei, aproximei-me e...
A Fajãzinha e as quedas de água do Poço da Ribeira do Ferreiro e toda azona envolvente e a uma altura considerável.
Esta paisagem autenticamente de bilhete postal é por assim dizer o toque final desta viagem, se bem que ainda aproveitei o resto do dia para visitar as Lagoas Branca
e a Lagoa Seca
Saí deste local bonito para parar mais à frente no miradouro do Bico de Sete Pés.
Regressei a Ponta Delgada onde vim mais tarde a descobrir que faltara ver o farol do Albernaz ali bem perto do Ilhéu Maria Vaz!
Cheguei a Santa Cruz já perto do fim do dia.
Quando a noite caiu consegui perceber movimento de arrumações no Império ao Divino Espírito Santo.
Entretanto a Lua se escondia-se por detrás de uma nuvem tendo como companhia um candeeiro de rua!
A ilha do Corvo é das nove ilhas que compreendem o arquipélago dos Açores, a mais pequena. Talvez por isso é muitas vezes colocada em segundo plano.
Porém quem como eu já conhecia a Ilha sabe que aquele pedaço de terra que se ergue de um mar tão azul merece uma visita. Porque também esta ilha tema sua beleza.
Mas vamos ao que importa. No primeiro dia e assim que cheguei ao apartamento encontrei um número de telefone para onde liguei a marcar viagem para o Corvo. Só tinham disponibilidade para sábado e para mim era totalmente indiferente. Marquei para Sábado e o embarque seria no Porto das Poças.
Assim à hora marcada lá estava a aguaradar a embarcação que me levasse até ao outro lado do canal. Já passava das onze da manhã quando surgiu a lancha.
Foi nesta embarcação aparentemente frágil que embarquei e durante mais de uma hora naveguei pelo belo mar anil dos Açores. A determinada altura os motores reduziram a força e durante muitos e saborosíssimos minutos pude apreciar isto:
Uma alegria esta companhia que durante algumas milhas nos acompanharam. Porém a foto que mais gosto desta singela viagem para o Corvo é esta.
Há neste vôo do cagarro uma liberdade que ninguém tem! Depois a ilha das Flores já distante e o azul do mar... sempre o azul!
Cheguei à ilha do Corvo por volta da hora do almoço. Eu e mais de duas dezenas de viajantes. Achei mais avisado ver o que queria ver e depois mais tarde almoçar. A subida para o caldeirão do Corvo não é fácil. Perto de sete quilómetros pela única estrada que existe foram da povoação.
Depois... bom depois é aquele choque, aquela sensação de pequenez perante tamanha beleza.
Não sei se o léxico português terá palavras suficientes para descrever o que se vê do alto daquele Caldeirão. Umas vezes límpido, outras ata+petado de umas nuvens que desaparecem rapidamente, mas que quase nada deixam ver!
Da primeira vez desci até lá abaixo junto à água, mas desta vez considerei arriscado até porque o chão estava molhado e uma queda naquele tapete não seria coisa de somenos! Fiquei pelo meio caminho... Donde aproveitei para fotografar mais de perto... hortenses!
E vacas!
Há quem faça a volta inteira ao cimo do Caldeirão, mas isso leva muitas horas porque são só... cinco quilómetros de perímetro.
Sair daqui, deste local tão belo quanto pacificador é quase uma violência, mas haveria que o fazer, até porque às duas e meia o restaurante deixaria de servir refeições.
A vila do Corvo é pequena, mas tem quase tudo o que as vilas têm! Supermercado, CTT, duas agências bancárias, para além, obviamente da Câmara Municipal e um conjunto de outros serviços públicos, todos a trabalhar no mesmo edifício onde o azul celeste (a exemplo da Fajãzinha nas Flores) é a cor predominante. Parece que a República aqui ainda não chegou...
A igreja é humilde mas bonita.
A vida por aqui faz-se à velocidade de chegada e partida dos turistas, seja de barco seja de avião, mesmo quw aeroporto seja do tamanho da vila.
Às cinco horas lá estou novamente da embarcação desta vez de regresso às Flores. Levantou-se uma nortada ligeira suficiente para nascesse alguma onulação no mar. Ainda assim nada de preocupante e a viagem fez-se muito bem.
Mas faltava ainda uma pequena surpresa. O responsável pela embarcação deu-nos a hipótese de ver mais maravilhas...
Para além das cascatas que caiam no mar, pude ver grutas onde o azul do mar ganhava novas tonalidades.
Simplesmente imperdível este fim de tarde no regresso à ilha e que mais uma vez surpreendeu por uma beleza invulgar.
O dia acordou com Sol e uma temperatura branda tão característica da ilha, mas sempre com aquela estranha humidade a invadir-nos!
Tinha a consciência que seria um dia especial e vai daí iniciei pelo Museu da Fábrica da Baleia do Boqueirão onde percebi a razão porque a busca pelos cachalotes era tão importante na economia dos ilhéus.
Tempos duros de um risco sempre patente e a vida presa por um laivo de sorte ou azar! Muitos por lá ficaram, mas os que regressavam, sentiam que deviam agradecer ao Altíssimo tamanha façanha. Daí haver tantas festas, tantos impérios (pequenas oradas) consagrados ao Divino Espírito Santo, quase sempre criadas para agradecer.
Bom adiante que temos caminho para percorrer...
De viatura nas unhas toca a subir montes atapetados de... verde e vacas,
até chegar a um cruzamento de dizia simplesmente: "Lagoas". Incentivo suficiente para virar e procurá-las. Poucos quilómetros à frente eis que surge a primeira lagoa ou como chamam comummente na ilha Caldeira. Esta é a Caldeira da Lomba.
Um sítio calmo, sereno e sem grande aparato turístico. A estrada de acesso apresenta esta singela beleza,
Um caminho ladeado de frondosas árvores. Não percebi se eram cliptomérias ou eucaliptos californianos ou simplesmento cedros. Mas também não procurei saber.
Logo a seguir, um par de quilómetros mais à frente, novas caldeiras com dois miradouros, um de cada lado, onde se observam duas belíssimas lagoas: a Caldeira Funda e a Caldeira Rasa. A primeira está a uma altura de 368 metros acima do nível do mar,
e a segunda a perto de 600 metros de altura.
A foto seguinte demonstra a diferença de alturas das duas lagoas.
Saí daquele lugar tão fascinante para a vista como para o espírito e segui até à povoação mais próxima: Fajâzinha.
Uma aldeia rodeada por beleza por todo o lado, muito activa já que tem uma queijaria muito boa da D. Ilda, uma Filarmónica, restaurante e outrossim algumas casas fechadas e outras abandonadas. Afirmam convictos os mais velhos que os jovens partem para longe para estudar e nunca mais regressam...
No imo da povoação uma belíssima igreja de um azul celeste muito bonito.
No seu interior, ao invés de outros templos açorianos a pedra principal da edificação não é o negro basalto, mas uma espécie de mármore branco com uns singelos laivos negros. O seu interior é singelo, mas encontra-se bem estimada.
Subi a estrada até apanhar o caminho para a Fajã Grande onde iria almoçar. Mas antes uma visita especial para abrir o apetite para o que seria a tarde!
Uma queda de água que só pára numa pequena bacia onde muita gente toma banho...
Depois a água corre por entre pedras, simplesmente até ao mar!
Umas pequenas levadas roubam alguma desta água alimentando o que em tempos terá sido um moínho.
Veio finalmente o almoço e de seguida a visita a um local muito especial: a aldeia da Cuada!
Diria que aqui a vida que os florentinos deixaram nos anos 60 tomou novamente forma e pujança. Um conjunto de casas originais em pedra, num local idílico próprio para quem quer viver a vida em paz. Interior e exterior.
As casas da aldeia mantêm a traça original e à entrada o nome do último residente, Por dentro foram recuperadas de forma a terem conforto. Sei que marcar para esta aldeia um alojamento é deveras difícil e caro, mas pode-se passear por entre ruas e ruelas sem qualquer problema.
Tem uma pequena capela e o sossego do local é fabuloso.
Voltei à estrada principal para parar um pouco mais à frente. Diversos carros edtacionados sinal que muita gente andaria por ali.
Uma seta indica "Poço da Ribeira do Ferreiro", mas os locais chama-lhe unicamente "lagoa dos patos". Cerca de seiscentos metros a subir por um caminho muito irregular e de um grau de dificuldade acima da média! Pelo caminho encontramos diversas levadas com muita água que se cruzam por debaixo das pedras do caminho. Sobe-se, sobe-se e parece que o caminho não vai dar a lado nenhum.
Até que passado esta espécie de pórtico mágico deparamos com isto:
É um momento único! Simplesmente sublime!
Nem mesmo o cagarro, ave prima da gaivota, que por ali deambulava percebe a beleza do local.
Não sei quanto tempo ali estive, mas se pudesse morreria ali...
Descer tornou-se muito mais fácil,
Finalmente na estrada em busca de mais lagoas. Estas...
A Lagoa Escura e
a Lagoa Comprida!
O dia caminhava para o fim... ou seria para o início de uma paixão por esta ilha?
Quando em 2018 visitei pela primeira vez o local mais ocidental da Europa, fiquei tão impressionado com estas duas ilhas que nem consegui escrever algo como deveria ser. Todavia desta vez não irei fugir à responsabilidade de partilhar com todos o que vi através das fotografias, mas outrossim dar conta das minhas impressões escritas. Termino esta nota aconselhando aos que nunca foram à ilha das Flores e ao Corvo que o façam quanto antes! O Turismo é muito importante, é certo, para a economia da região, mas desde que não estrague!
Chegada!
Cheguei às Flores por volta da hora do almoço. Chovia uma água forte que durou pouco para mais tarde voltar a repetir. Sentia-se uma temperatura muito agradável, no entanto pairava no ar uma humidade, diria que... tropical!
Descarregada a mala no apartamento espaçoso, agradável e central, logo procurei onde comer. Lapas e queijo para entrada seguido de um lírio (ou írio) grelhado.
Como só tinha meio dia para andar decidi viajar pela costa oriental, quase sempre bem acompanhada pela ilha do Corvo que se via perfeitamente no horizonte, se bem que por vezes o tempo nublado quase tapasse a paisagem.
A estrada é boa, mas convém andar devagar para se poder apreciar a beleza das vistas. E logo ali dei conta que as hortenses se sobrepunham em beleza e profusão.
Curioso também a foto seguinte onde as vacas (o superior sustento da maioria dos florentinos) convivem com as flores sem lhes tocarem. Também terão melhores opções...
O verde entretanto é a cor predominante em toda a ilha...
Esta costa é muito recortada, escondendo nos seus recortes e bacias grutas e outras maravilhas que veremos mais tarde.
Os pequenos e grandes ilhéus todos de origem vulcânica parecem nascer do mar.
Pelo caminho encontrei também quedas de água de denunciam a fartura de tão maravilhoso e escasso líquido,
que irá engrossar pequenas ribeiras e desaguar no imenso mar!
Lentamente fui-me aproximando da pequena vila de Ponta Delgada, povoação que se espraia junto ao mar, qual Fajã!
Mas antes Ponta Ruiva, um lugar pobre, humilde, mas com... um museu.
O dono abriu-me a porta com a acostumada simpatia dos florentinos e deixou-me deambular pela pequena casa escura desarrumada e suja, mas ainda assim com alguns objectos curiosos nomeadamente as alfaias agrícolas locais. Contou-me que fora o avô Machado que dera início à junção do espólio. O neto manteve e mantém o ideal!
Como disse aproximava-se a povoação de Ponta Delgada (nota à margem: nos Açores é costume repetiram-se os nomes das povoações! p.e. Ponta Delgada, Lages, Fajã, Faial...) e surgiram diversos miradouros para as terras, fajãs unicamente acessíveis a pé, para o mar e obviamente para o Corvo que na foto infra mal se percebe devido às nuvens.
Entretanto as hortenses continuam a dar razão ao nome da ilha.
Desci a estrada até, ao que parece ser, um pequeno porto para os pescadores artesanais. Num largo onde a estrada acaba, um melro habituado certamente ao homem já nem foge.
A tarde compunha-se e foi a hora de regressar à vila, capital da ilha. Mas ainda deu tempo para visitar uma zona balnear, obviamente sem areia, mas com bons passadiços de acesso.
Até aqui, a meia dúzia de metros da água salgada e por entre a rocha basaltica, as plantas crescem viçosas.
No fundo por esta ilha tudo cheira a vida e abundância!
Até o mar é hoje fonte de vida quando há muitos anos este foi um local de morte com a caça ao cachalote.
Este local, já dentro da vila, chama-se Boqueirão, onde em tempos foi uma fábrica de transformação dos cachalotes e hoje é um belo museu dedicado àquela faina!
Fechei por fim o dia (ou foi a noite?) a escutar o ensaio dos cantares dos "irmãos da confraria do Divino Espirito Santo", festa que se realizou neste fim de semana!