Conquanto vamos envelhecendo vamo-nos tornando cada vez mais cuidadosos com o que dizemos, ou na forma como falamos e mais que tudo passamos a ser mais responsáveis com o nosso corpo (leia-se saúde). Mas a realidade é que muitas vezes com a idade chega alguma incapacidade de perceber que há coisas que não cabe nos anos que já temos.
Sempre fui muito aberto às diferentes matrizes que cada geração acarreta. Posso não assumi-las para mim até porque a minha idade não me permite algumas dessas veleidades, mas aceito quem gosta de se mostrar mais... "in"! (Sinceramente não percebo o porquê do uso desta expressão inglesa, mas entendo o sentido).
Pois bem! Nas minhas costumadas caminhadas matinais passo por muitas praias, frequentadas obviamente por diferentes pessoas, idades e estratos sociais. Algo que à beira mar ninguém percebe realmente a diferença.
Todavia há algo que tenho vindo a constatar. Não é de agora... mas de há alguns anos e que se prende com a quantidade de pessoas, algumas muito mais velhas que eu, cheias de tatuagens. E até poderiam ser pequenas, no entanto há algumas enormes e que cobrem todo o corpo.
Não estou com este meu texto criticar quem o faz. Longe disso. Até porque como alguém me diz amiúde (a idade é apenas um número!) e se as pessoas se sentem bem... óptimo. Porém ainda estou para perceber o que leva estas pessoas a oferecerem o corpo a esta activivade. Realce-se que com a idade a pele tem uma normal tendência a ficar engelhada e mais frágil.
Finalmente e enquanto a minha cabeça trabalhar como até agora jamais terei na minha pele algo que não seja de origem... (já há coisas que vieram de fábrica e já saíram). Mas amanhã já não sei... A tonteria pode-me abraçar e embalar para a parvoíce!
Tornei-me hoje quase por decreto… um sénior. Uma forma simpática que as entidades portuguesas usam para me chamarem velho.
A partir de agora que somo os tais 65 anos (antigamente era a idade da reforma) passo a ter direito a uma série de benesses.
Uma delas será o preço especial de um passe para os transportes aqui na zona… que eu nunca uso. Outra das valências para este velhote é o preço nos diversos museus pois também se tornaram mais simpáticos.
Deveria, em face destes benefícios, ficar menos triste por ter chegado à idade em que deixamos de ser um homem de 64 anos para nos tornarmos um idoso de 65!
Portanto eis-me aqui velho, cansado, triste e apoquentado com esta nova fronteira da idade, já que a partir de hoje o meu caminho jamais será o mesmo do que foi até aqui.
Mas digam o que disserem tentarei, por todos os meios ao meu alcance, contrariar esta coisa parva da idade!
Pois é… faço hoje 65 anos e tudo o que escrevi nos parágrafos supra foi para enganar os meus queridos leitores. Consegui? Não?
Ainda reconheço este 6 de Janeiro como dia dedicado aos reis Magos, se bem que a igreja católica celebre este dia no primeiro Domingo de Janeiro, mesmo que não calhe a dia 6.
O bolo-rei não pode faltar à minha mesa assim como outras iguarias.
Mas hoje há um aniversário na família. A minha sogra, completamente demente, faz hoje 93 anos.
Desde 2021 que está num lar. Profundamente incapaz de se valer acabou por ter de ser colocada numa instituição especializada. E se há muitos lares em que os idosos ficam piores do que estavam em casa a verdade é que este mantém uma qualidade de vida aos utentes muito apreciável!
Por exemplo hoje organizaram um lanche com direito a bolo para a minha sogra. Ao que sei uma iniciativa que têm para todos os idosos ali residentes.
As filhas estiveram presentes e cantaram os parabéns. Até tiveram direito a apagar as velas do enorme bolo já que a mãe nem tem consciência do que teria de fazer!
Sei que há ali muitos idosos de diferentes idades e com diferentes níveis de insanidade e até alguns quase perfeitos não obstante a longevidade. Todavia e tendo em conta que já não caminho para novo temo que o meu futuro seja aterrar num local deste tipo.
Mas assumo já... se for este estabelecimento fico bem entregue!
Uma das coisas que por aí vou escutando é que as pessoas chegando a uma certa idade tornam-se gulosas. Ou dito de uma forma mais simplista começam a apreciar melhor os doces!
Os mais conhecedores deste fenómeno atiram para a idade a perda de paladar o que vai originar uma buscva por coisas mais apetitosas.
Ora bem... então não é que eu tenho notado um maior gosto por doces. Na verdade antigamente ligava pouco ou nada a bolos, bolachas e chocolates. Mas recentemente dei por mim a comer uma tablete de chocolate de uma só vez. Obviamente que não era muito grande, mas ainda assim considerei um exagero.
No entanto esta fuga para a frente não me leva a comer tudo o que é doce e me aparece na frente. Um pão-de-ló, por exemplo, ainda é para mim incomestível. Tal como as filhós que se fritam cá por casa... aquilo sabe a... coisa nenhuma, já que açúcar é apenas uma amostra!
Ao invés dos bolos, os pudins são bem vindos assim como as rabanadas e demais doces... de colher! Portanto... levanto a questão: isto de ser guloso será da velhice?
Estou há uma semana com os meus pais. Desde Sábado passado!
O meu pai tem 91 anos, feitos recentemente, e começa agora a ter problemas de saúde mais graves indiciado a iniciar hemodiálise.
A minha mãe, quatro dias depois do meu pai, fez 85 anos. Pouco mais de metro e meio de uma genica única, diria eu que herança da mãe! Todavia a cabeça começa a falhar essencialmente com alguns lapsos de memória. Repete amiúde as mesmas questões e percebe que já não é a mulher de outrora.
Portanto constato um pai triste e quase inerte - o exemplo encontra-se na sua total ausência da apanhana da minha azeitona, algo que nunca aconteceu - e uma mãe que chora o seu novo estado intectectual.
Deste lado temo pelo futuro deles... Como irá o corpo do meu pai receber um tratamento tão forte? Ou como acordará amanhã a minha mãe?
Desde que os meus avós partiram já lá vão muitos anos, houve um palheiro que nunca mais foi cuidado. Durante muuuuuuitos anos ali foram criadas muitas vacas e bezerros alguns cuidados até por mim. Lá moraram cavalos, burros e mulas e foi mais recentemente garagem de um velho tractor do meu pai.
Mas agora... Bom agora não estando em ruínas (eu não deixaria) em alguns espaços os barrotes que seguram as tábuas da parte de cima apresentam esta imagem.
Quando chegamos a certa idade e começamos a ver os nossos a definhar, ficamos com aquela ideia ou será sensação: amanhã sou eu que estou assim!
Quer queiramos quer não, a idade tudo nos dá e tira.
Dá-nos sabedoria, mas tira-nos descernimento!
Dá-nos sensatez, mas esconde-nos memória!
Dá-nos calma, mas retira-nos a consciência!
Portanto cada dia será mais um dia. Vivido em plenitude ou muitas vezes nem isso.
Nesta altura da minha vida peço pouco da vida. Talvez um pouco mais de paz no coração, uma noite tranquila e saúde q.b.
Vejo neste mundo tanta demanda, tanta bravata que me sinto chocado. Seria bom que muitos ouvissem o que os chineses dizem após uma partida de xadrez: o peão e o rei encontram-se dentro da mesma caixa.
Entre diversas coisas que aprendi nos meus relacionamentos com as crianças (filhos, sobrinhos e outros petizes!), uma delas prende-se com a capacidade que os miúdos têm na resposta que devem dar à estúpida pergunta: gostas mais de quem?
Obviamente que o questionado percebe sempre que resposta deve dar e assim contentar quem lhe lançou a questão. Muitas vezes com direito até a prémio.
Nunca gostei deste estratégia para ganhar o carinho e a atenção das crianças. O melhor mesmo é descermos ao nível deles e participarmos nas suas brincadeiras, por muito parvas que sejam para nós (nunca são para eles!). Sermos um deles!
Educar hoje uma criança não é fácil (creio mesmo que nunca o foi!), mas quem educa deve ter sempre em atenção que nenhuma criança é igual à outra. Mesmo que filhos do mesmo pai e mãe! As crianças requerem dos educadores muita atenção, genuíno carinho e uma enorme resistência psicológica. Diria que sem estes três vectores um miúdo pode facilmente desviar-se do bom caminho.
A disciplina deve ser ministrada, mas outrossim explicada e nunca olvidada... Uma criança que não saiba respeitar a disciplina que lhe é apresentada nunca singrará convenientemente na vida. Porque desde cedo aprendeu que o Mundo rodava à sua volta. Por isso tem de se habituar a escutar a palavra Não. A chantagem psicológica que muitas crianças utilizam para conseguirem os seus intentos nunca deve ser valorizada.
Por fim há que dar a perceber a eles que todos somos precisos... independentemente da idade e da capacidade intectual!
Hoje são eles que precisam de nós! Amanhã somos nós que precisaremos deles!
Esta minha ideia resulta de muitos anos de vida, de demasiadas vicissitudes e de muitos exemplos que me são oferecidos ver!
Na verdade há gente jovem provavelmente mais velha que eu. Da mesma maneira que se poderá encontrar pessoas com muita idade bem mais novos que eu!
Um destes dias em conversa percebi que a minha mãe, com 84 anos, aceita pacificamente as opções que cada pessoa faz na sua sexualidade. O que tendo em conta a idade que tem e acima de tudo a sua educação religiosa (diria que roça a beatice!) que exibe, parece ser um caso raro de aceitação.
Portanto saio à minha mãe que por sua vez herdou os genes estranhos da minha avó, que sempre foi uma mulher muito à frente do tempo em que viveu.
Voltando à ideia da velhice gostaria de manter este meu espírito sempre aberto a aceitar aquilo que é mais jovem que eu... especialmente as ideias!
Sempre que vou o lar ver a minha demente sogra saio de lá sempre a pensar: quando serei eu a entrar aqui?
Tenho perfeita consciéncia que o meu caminho será naquele sentido, pois os filhos terão de trabalhar até mais tarde e provavelmente até estarão longe de mim.
Mas independentemente de todas as razões sinto-me sempre confrangido quando visito o lar. Mesmo sabendo que a idosa estará muito melhor ali que estaria em casa.
A idade é uma coisa tramada! Quando pensamos que nada nos atinge, lá vêm os anos a colocar-nos no sítio devido para que não tenhamos ilusões ou renovadas esperanças.
Saber viver com a idade que temos é quase um luxo. Mas é aqui que reside essencialmente o meu maior receio: jamais conseguir assumir a minha idade e com ela as minhas reais limitações.