Ultimamente tenho lido, em alguns diários de economia, opiniões sobre o futuro de Portugal… no pós-troica. Não obstante algumas ligeiras diferenças de análise, a maioria dos comentadores partilham da mesma ideia: Portugal não pode voltar ao que era dantes.
O Primeiro-ministro já o disse, em diversas ocasiões, que não se desviará do rumo traçado, mesmo que isso lhe venha a custar, como é previsível, as próximas eleições. Parece-me uma atitude anormalmente coerente e corajosa para um político.
Ao invés o líder do PS vai conseguindo acertar mais no seu próprio pé do que no governo. Hoje pretende uma coisa, amanhã quer outra e assim, de contradição em contradição, vai tentando levar o seu PS a uma vitória eleitoral.
Percebe-se que Seguro não está preparado para ser PM. Tal como não estava Passos Coelho. E é esta impreparação que se torna o calcanhar de Aquiles de António José Seguro. Dentro do PS surgem cada vez mais frentes de batalha contra o seu próprio líder. Mesmo não sendo publicamente assumido, percebe-se que há no maior partido da oposição um ambiente de alguma turbulência, com o intuito de minimizar a futura vitória de Seguro.
Este líder tenta, com a actual recusa de um pacto com o governo para o futuro, descolar a sua imagem das futuras medidas impostas pela troica. Um processo que lhe pode dar algumas alvíssaras… ou talvez não. Os futuros eleitores o dirão!
Pior quer ter um governo demasiado subjugado às vontades de entidades estrangeiras é termos uma oposição mole, fraca e demasiado volátil. Tivesse o PCP outro líder, com uma visão mais actual, e talvez fosse o grande ganhador no futuro acto eleitoral.
Até às europeias muita água há-de correr debaixo de muita ponte.
Já estava no dia 5 quando cheguei à paragem do autocarro, que me levaria a casa após as maçudas aulas da noite. Num vão de escada um casal jovem, que eu conhecia de algumas lutas estudantis de cariz esquerdista, parecia festejar qualquer coisa. Despreocupado, tomei o autocarro. Só quando cheguei a casa é que soube o que horas antes havia acontecido. Num acidente (?) de aviação o PM e um ministro, entre outros elementos duma comitiva, haviam falecido.
Fiquei em choque! Não só pelo acidente mas acima de tudo por me lembrar das comemorações do tal casal… Comemorar a morte de alguém, para mim, não era fazer política, era destruí-la.
No fim de semana seguinte havia uma eleição presidencial e Ramalho Eanes ganharia as eleições para o seu segundo mandato a Soares Carneiro, candidato apoiado pelo PSD e CDS. Naquele tempo lia amiúde um semanário e que na altura era uma referência. E se bem me lembro, nesse jornal, após o trágico acidente que vitimou o primeiro-ministro, alguém perguntava “A quem serviu a morte de Sá Carneiro?”.
Esta questão morou comigo todos estes 33 anos, desde essa fatídica noite, e ainda não consigo vislumbrar uma resposta. Nem mesmo as sucessivas comissões de Inquérito conseguiram trazer alguma luz a este caso quanto mais dar resposta à tal questão.
O tempo e os novos políticos têm vindo a encarregar-se de colocar Francisco Sá Carneiro num pedestal que o próprio, se fosse vivo, não aceitaria. A génese que criou o partido PPD em 1974, mais tarde rebatizado em PSD, há muito que desapareceu. Provavelmente por culpa dos políticos do próprio partido que não souberam manter a herança, em termos ideológicos que o malogrado Sá Carneiro deixou.
Já aqui escrevi que o malogrado Primeiro Ministro jamais aceitaria o que a Troika nos impôs neste últimos anos e provavelmente jamais escolheria parte do actual elenco governativo. Porque Sá Carneiro sabia o que queria para Portugal e para os portugueses.