Há 20 anos eu estava numa quinta numa formação de inglês. Os meus filhos estavam também na quinta, mas na piscina. Felizes e contentes.
Após o almoço e um breve passeio eis-nos, todos os formandos, chegados a uma sala de estar onde encontrámos uma televisão e onde, em directo, vimos a queda das Torres Gémeas.
Um choque foi o primeiro sentimento que tive ao ver a queda dos prédios. Depois vi a repetição dos ataques, uma e outra vez. Pensei: isto é ficção!
O professor estava lívido! Canadiano de nascimento e casado com uma portuguesa acabou por confessar:
- Eu estive ali a semana passada.
Obviamente que nessa tarde não houve mais aula, tal a forma como ficámos presos ao pequeno ecrã.
Hoje, duas dezenas de anos decorridos, percebemos que aquele ataque ao coração da "BigApple" foi acima de tudo um ataque às nossas fragilidades e à tomada de consciência de que ninguém está realmente seguro.
O Mundo mudou muito desde esse trágico dia... Para pior, certamente. Estamos mais inseguros e desconfiamos de todos.
Nunca chegaremos a perceber qual o fundamento verdadeiro daquele ataque, o que sabemos é que a vida humana tem para muitos o valor de um ínfimo grão de areia.
Feliz é a frase em que deveríamos ser mais 9 do 11 (queda do muro de Berlim) e menos 11 do 9 (ataque às torres Gémeas). Só que a realidade actual está muuuuuuuuuuuuuuuuuuuito longe deste desiderato!
Termino com o sentimento de que da mesma maneira que nunca se deve esquecer o Holocausto será bom jamais olvidar este malfadado dia!
Após os diversos e mortíferos ataques terroristas a polícia local refere sempre a prisão de outros eventuais terroristas e o desmantelamento de diversas células. Surgem como um acto quase heróico...
Quando oiço estas notícias pergunto-me sempre:
- Porque é que a polícia não descobre antes dos terríveis acontecimentos as tais células e ditos terroristas?
Provavelmente se o fizessem poupariam muitas vidas. Ou não?
Cada vez estou mais convencido que a 3ª Guerra Mundial é hoje uma dura realidade.
Se a história mais ou menos recente nos trouve milhões de vítimas mortais, não é menos verdade que as actuais formas de guerra não matarão tantas pessoas como as anteriores (mas provavelmente, nem isso), mas identificamos cada vez mais a morte de valores conquistados faz muito tempo.
Falo obviamente de algo como a liberdade, seja esta de ideias, religiões ou até sexual. Falo da liberadde de imprensa e de opinião. Falo de algo mais simples como é a liberdade de escolher.
Pode parecer estranho esta conversa, mas a forma como esta guerra de está a alargar (e alastrar) sem que ninguém a consiga deter, surge como pano de fundo de um Mundo que não sabe como lidar com as diferenças.
O terrorismo não é, por si só, a 3ª guerra, mas o detonador infeliz que coloca no coração de um qualquer ser humano um sentimento de medo profundo!
É esta bizarra evidência a verdadeira guerra. Durante séculos as armas bélicas ganharam e perderam conflitos. As batalhas antigas eram autênticos jogos de guerra onde os actuais programadores informáticos se inspiraram (e ainda insperam) para criarem as suas aventuras. Todavia as novas técnicas de luta colocam cada um de nós como arma única.
O sentimento de receio na insegurança, que cada vez mais vimos instalado nas nossas ruas, transportes ou empregos e principalmente nos nossos espíritos é a tal arma que não comprámos, que não desejamos mas que os nossos inimigos sabiamente usam contra nós.
Como combatê-la? Talvez com a coragem de não nos deixarmos atemorizar por qualquer acontecimento mais trágico. Se assumirmos o medo, estamos a entrar na guerra sem o sabermos, apresentando então os nossos inimigos mais confiança e mais sabedoria nestes novos conflitos.
O triste atentado de ontem à noite em Nice leva-me a colocar uma questão e para a qual não obtenho qualquer resposta: até quando estes constantes morticínios?
Cada vez mais começamos a perceber (e a temer!) que o nosso inimigo pode ser aquela pessoa que está sentada ao nosso lado no metro e vai brincando com o telemóvel ou simplesmente vai lendo um livro. Ou o jovem que passou por nós a correr devidamente equipado com roupagem de atleta e de repente se transforma numa bomba humana... só porque sim!
Este problema que vai alastrando pela Europa é assim responsabilidade de quem?
Curiosamente e regressando por breves instantes à Final do Euro2016 dei por mim a rever algumas imagens de sofredores por Portugal em alguns países lusófonos. Isto quer dizer que, não obstante a nossa passagem como colonializadores, restou todavia um factor de ligação a este rectângulo por parte desses povos. Algo que não vejo nas antigas colónias Francesas, por exemplo.
É mais ou menos sabido que o Estado Islâmico convive mal com a liberdade e com a democracia ocidental. Basta perceber o estatuto das mulheres de lá e cá... quão diferentes! Depois há todo aquele fanatismo religioso que lhes retira qualquer discernimento humano. Sei que a nível dos católicos também há gente adepta do radicalismo religioso... mas jamais capazes duma barbárie como a que aconteceu ontem em Nice.
Não sei que solução se deverá dar para este gravíssimo problema. O que sei é que as sociedades modernas conforme estão montadas, fracassaram. E este fracasso vai naturalmente fazer crescer radicalismos ainda mais extremistas.
Portanto e de uma forma velada a Europa está em guerra. E se noutras batalhas conhecíamos o inimigo no campo de batalha... hoje ele almoça a nosso lado sem que realmente o saibamos!
Os bárbaros acontecimentos desta última quarta-feira acrescisdos aos de hoje obrigaram que todos nós acordássemos para uma realidade cada vez mais evidente e para a qual (talves) nunca estivemos preparados: a guerra vive ao nosso lado.
Quero com isto dizer que podemos cruzar-nos na rua com um qualquer terrorista sem termos disso consciência. Este desconhecimento trás-nos assim uma outra coisa a que se chama medo.
Viver debaixo de um clima de terror parece-me muito pior que viver em qualquer tirania. Mas é este género de receios que estes terroristas pretendem implementar por essa Europa fora. Com ou sem (imensos) apoios políticos..
Pela minha parte continuarei sem medos ou temores a fazer de conta de que nada aconteceu. Não por desrespeito às vítimas mas porque só assim esses terroristas perderão esta guerra a que chamam de "Santa".
Como se pode invocar o nome de Deus para cometer uma atrocidade como a de hoje? Foi a pergunta que fiz a mim mesmo.
Fiquei obviamente sem resposta porque não posso aceitar esta ideologia fanática e retrógada.
Sabemos que o Mundo está (muito) mudado. Para pior! E um dos exemplo é a permanenete deterioração das relações entre países e sociedades. É neste clima profundamente instável que certas organizações se movem com enorme à-vontade sem qualquer controlo, usando e abusando do nome de Deus para as suas acções, mais ou menos subversivas. Para não chamar um nome bem pior.
O estudo e interpretação dos acontecimentos do passado mais ou menos longínquo e que comummente tratamos por história, deveria servir para se aprender alguma coisa. Mas há quem se julgue capaz de lidar com todas as situações sem receios de qualquer espécie.
Um atentado terrorista é sempre um acto de profunda cobardia, mesmo que assente nas melhores teorias.