Faz hoje dois anos que recebi pela primeira vez a incumbência de ser avô a tempo inteiro. Estávamos em 2020 e a pandemia alastrava-se a tudo e todos (ainda haveria de ser pior, como todos sabemos).
A boneca entrou nesta casa sorridente e por cá ficou. Certo é que a nossa vida alterou-se toda... todinha! Os horários certos de comer, as horas de dormir, as fraldas e mais importante que tudo as brincadeiras.
A menina tinha então quase 9 meses, mas nada que nos atemorizasse! Agora tem quase quase três anos.
Dois anos decorridos a bebé é agora uma princesa... destemida e de resposta pronta (não imagino a quem sairá!!!). Fala tudo num discurso coerente e assertivo. Sabe o que quer e percebe quando esticou em demasia a corda da tolerância. Aí aproxima-se e diz com aquela vozinha e melosa:
- Desculpa avô!
E eu derreto-me...
Os meus filhos sempre se relacionaram bem com os avós, tal como eu me relacionei com os meus que pude conhecer mais a fundo. Hoje sou eu que estou do outro lado da estrada da vida e que busco ser exemplo de cuidado, carinho, ternura e exemplo para a mais nova da família.
Faz muitos anos que não recebia uma carta destas... Daquelas manuscritas por uma mão firma e decidida, com uma caligrafia muito bonita e perceptível e que nos comove até às entranhas.
Todavia uma missiva simples que percorreu milhares de quilómetros até chegar à minha mão.
Não falava de trivialidades, mas da vida tal como ela é, de bons e menos bons momentos, dos filhos e dos netos, de alegrias e tristezas, de solidão e companhia.
Recebi hoje uma carta!
De alguém que me diz muito, que sempre me apoiou e estendeu a mão. Lembro-me das matinées no cinema Avis e a seguir aquele lanche! Lembro-me dos poucos brinquedos que tive e que ela me ofereceu.
Hoje tem muita idade... mas ainda consegue escrever uma carta!
Bela... como são todas as cartas escritas com o coração!
Há aproximadamente um mês que passei a ser avô a (quase) tempo inteiro. Ou dito de outra forma todos os dias úteis, logo pela manhã, recebo nos braços a nova mulher da minha vida.
Após quase nove meses de licenças de maternidade, paternidade e férias foi o momento dos pais regressarem presencialmente ao trabalho. Daí esta minha ajuda...
Os meus dias dividem-se agora entre brincadeiras para bebés, dar de comer, mudar fralda ou simplesmente ajudá-la a adormecer.
Nunca fui pessoa onde o tempo abundasse tal era a quantidade de "burros" que tocava diariamente, como sói dizer-se. Deste modo para chegar a muito lado roubava horas ao sono. Porém agora o tempo parece escassear ainda mais. Sempre me imaginei a escrever serenamente longos textos durante a minha reforma. Mas tal não tem sido possível.
Tudo por uma causa maior que é alguém que entrou na minha vida sem pedir licença e ocupa já todo o espaço que havia livre no meu coração.
Finalmente a minha neta não é só uma linda e simpática criança, como é um anjo que vai iluminando o meu caminho.