Quando era miúdo os pouquíssimos brinquedos que tive tinham a função de me manter sossegado. Eu e todas as crianças na altura a quem eram oferecidos objectos para brincar fosse nos anos ou no Natal.
Já era alguém crescido quando me apercebi de diversas iniciativas, oriundas de grupos chamados pacifistas, contra a ideia de darem às crianças pistolas, arcos e flechas e mais uma panóplia de artefactos bélicos, mesmo que fossem todos falsos e feitos de plástico.
Quando alguns anos mais tarde fui pai de dois rapazes nunca lhes ofereci aquele género de brinquedos. Acima de tudo porque o brinquedo deve ter, repito deve ter, uma função pedagógica. Apenas!
Hoje o meu varão de nove meses foi deixado no chão da cozinha onde gosta de estar e gatinhar a alta velocidade. A determinada altura a avó entregou-lhe uma pequena peça de plástico sem arestas perigosas, mas com a qual o miúdo adora estar entretido. Pergunta então a avó à laia de desabafo:
- Brinquedos para quê?
Naturalmente percebi a ideia, mas duvido que o cachopito aprenda alguma coisa com aquele pedaço de plástico.
Isto leva-me a opinar sobre o que vamos dando às nossas crianças. Cá por casa há uma certa "legodependência" derivado dos pais que sempre gostaram da arte de construir as coisas, mas a Lego acaba por ser um brinquedo mais ou menos caro. Depois muitas crianças, estando já viciadas nos pequenos ecrans de casa, acabam por retirar dali os seus próprios desejos que os pais e restante família facilmentem satisfazem.
Assim que tive filhos considerei que os brinquedos são ferramentas para entretenimento, mas outrossim formas muitos básicas para as crianças aprenderem e obterem algumas valências.
Todavia há nesta minha filosofia uma falha enorme e que se prende com a ideia de que as actuais crianças já sabem muito bem o que querem e desde muito cedo. Como já observei acima as televisões são um enorme fomentar de vontades, mas os coleguinhas de escola não são menos, para não dizer que serão mais.
Dito isto... tento que o petiz agora se vai desenvolvendo por aqui se interesse mais pelos meus livros que pelos periféricos que eu reconheço assaz aliciantes, mas pouco inteligentes.
As notícias que vamos diariamente tendo (ou lendo!) saltitam entre o problema da Ministra da Saúde com o INEM, a saída de Amorim para Manchester, as próximas parvoíces de Trump e a imbecil continuação da guerra na Ucrânia.
Fora isto é um rame-rame de diferentes novelas, a maioria sem qualquer interesse.
Talvez por tudo isto é que não vejo televisão (nem sequer os jogos de futebol de uma equipa que se diz ser a selecção nacional!!!). E na rádio só oiço música.
Jornais foi coisa que deixei de comprar faz muuuuuuuuuuuuuuitos anos. Acima de tudo porque nem tudo o que lia correspondia à verdade, mas simplesmente o que a população adora ler, ver e ouvir.
Esta minha posição surgiu pouco tempo depois da enorme crise financeira de 2010 e que acabou por destruir um enorme império financeiro (Grupo GES) e um outro ainda que muito mais pequeno, deixou marcas (BANIF).
Nesse tempo todos os dias via e lia notícias falsas em jornais e televisões ou no mínimo pouco realistas. Um dia acabei por chamar a atenção alguém de peso que semanas mais tarde deu uma longuíssima entrevista a um semanário e milagre dos milagres as notícias desapareceram quase como por magia.
Prestar informação correcta e assertiva deveria ser a função principal do jornais e televisões, sem colocar nenhuma pressão (leia-se opinião) no que se escreve. Factos são factos e devem ser transmitidos de forma realista e fria.
As redes sociais são por isso um pantâno de mentiras e frivolidades sem qualquer interessa que não seja a promoção do próprio. Que o diga Trump e demais apreciadores deste género de desisformação.
Por tudo isto aplaudo de pé e com vigor a postura do jornal inglês The Guardian que decidiu fechar as suas contas na plataforma X. Se todos os jornais e demais orgãos de informação tivessem esta coragem, quiçá os seus leitores, acordassem para uma nova realidade.
Obviamente que necessitamos saber. Mas com seriedade, objectividade e assertividade.
Quase a comemorar meio século de democracia, fico com a ideia de que esta é um conceito em vias de extinção. Hoje como o Mundo e a nossa sociedade estão a ser formatados, a ideia genuína do bem comum quase desapareceu. E uma das razões prende-se com a dificuldade dos lideres partidários falaram, a sério, dos problemas das sociedades. A sério e a fundo...
Isto percebe-se muito bem nos debates televisivos, pois o tempo para falar realmente dos problemas da nossa sociedade é tão escasso que quase nem merece a pena ver um debate. Também os representantes dos partidos são culpados porque, em vez de exporem as suas propostas para o futuro, passam o pouco tempo que têm a atacar políticas antigas ou outros partidos. A conclusão primeira que se tira disto é: não votes em mim pelo que apresento, vota por aquilo que sou contra!
Tenho vindo a dar alguma atenção aos encontros televisivos. A primeira irritação é aquele cronómetro indicando o tempo gasto por cada responsável político, a falar! Depois vem aquele discurso contra a tróica, ou a Europa, o Euro em vez de se esclarecer verdadeiramente o que se pretende para o futuro.
Li que até as sapatilhas da Mariana Mortágua foram mais faladas que as soluções que apresentou. Isto mostra que as pessoas já não querem ouvir estes políticos e que preferem saber mais da vida dos famosos ( oque comem, bebem, vestem, etc.).
É usual escutar-se referindo os políticos: são todos iguais, são farinha do mesmo saco! Diria que é quase verdade!
Mas... e muitos de nós não seremos outrossim iguais a tantos outros?
Finalmente estes debates só demonstram que a estamos muito longe de sermos um país evoluído e competente. Daí estes debates a roçar o sofrível!
De vez em quando eis que surge mais um caso de violência juvenil filmada e indevidamente publicada nas redes sociais ou algo semelhante.
As televisões pelam-se por estas notícias… Ui e de que maneira. Através de longuíssimas reportagens com a passagem dos vídeos até à exaustão ou entrevistas, geralmente aos pais das vítimas, ou então escutam a opinião de alguém que consideram um analista deste tipo de fenómeno.
As vítimas são assim espoliadas da sua reserva e atiradas para o meio das televisões sem qualquer preconceito. É o tal direito à informação, dizem!
Creio ter chegado o tempo dos meios de comunicação social, especialmente os canais televisivos, acordarem uma espécie de regra tácita para que este género de assunto não seja divulgado de forma generalista. Acima de tudo para bem dos violentados.
Todos temos consciência que não é por não se falarem das coisas que elas não existem. Longe disso. No entanto seria fantástico evitar-se mostrar imagens dos acontecimentos. Estas deveriam ser entregues somente às autoridades competentes de forma a fazer-se investigação e apuramento dos factos.
Outro problema nestes casos prende-se como a Justiça (não) faz o seu trabalho. Primeiro porque na maioria os prevaricadores são menores e neste sentido inimputáveis à face da lei criminal. Serão os pais, em última instância, a pagar pelos erros dos filhos. Segundo porque não parece haver uma condenação eficaz para este género de crime.
Seja como for, e de modo a evitarmos males maiores, seria muito bom que este tipo de violência gratuita não surgisse nas televisões porque simplesmente a dignidade de quem é vítima destes horrores, ficará sempre em causa.
Detesto espectáculo gratuito. Mas a gratuitidade que falo não é aquela em que podemos ver um teatro sem pagar mas a forma como as televisões transmitem as notícias.
Nos últimos tempos a detenção de José Sócrates, ex-primeiro ministro de Portugal, trouxe à ribalta o pior que tem as televisões: a mediatização estúpida dos acontecimentos.
Justa ou injustamente detido, o antigo lider do PS é neste momento o preso nº 44 de um estabelecimento prisional. A aguardar o que a justiça tem para lhe perguntar ou decidir. Não mais do que isso.
Como detido terá direito a visitas de amigos e familiares...
E é aqui que bate toda a imbecilidade das televisões e jornais: qualquer visita que apareça em Évora é levada ao extremo de perguntas. Todos querem saber o porquê da visita, o que disse o JS, como se sente, o que pensa, quantos vezes foi ao WC...
Parece-me que é tempo de se dissipar, de uma vez por todas, esta exacerbada euforia. Não basta já a condenação de JS por parte da opinião pública?
Parece-me que mesmo em democracia nem tudo deveria ser legítimo. O exagero da (má) informação é um deles!