Neste mesmo dia de 2020 Portugal assumia publicamente que tinha entre mãos um grave problema de saúde pública. Falamos obviamente do covid-19 que tantas vítimas fez e que obrigou a um recolhimento nunca visto em Portugal.
Era sexta-feira e as ordens recebidas eram de recolher a casa donde se trabalharia. Iniciei pela primeira e única vez o teletrabalho, que valha a verdade para mim nem era mau de todo. Desde este dia 13 de Março de 2020 até finais de Junho quando entrei de férias para depois passar à reforma, só voltei ao meu gabinete uma única vez.
Nesse dia 19 de Maio fiz o que havia a fazer numa enormíssima sala completamente vazia e silenciosa. Foi realmente um dia triste, após tantos anos a ver a sala sempre repleta de colegas. Saí do andar, desci as escada a pé, despedi-me dos seguranças e entrei na rua quase deserta.
Temi que me assaltasse aquele sentimento de nostalgia tão próprio de quem sai de um local onde jamais regressará. Tal não aconteceu!
Como também não aconteceu quando neste mesmo dia 13 de Março me apercebi que a minha vida iria mudar radicalmente com a assumpção da reforma no Agosto seguinte.
A vida tem os seus momentos, nomalmente efémeros. Ousar percebê-los e aceitá-los é apanágio de muito poucos.
Uma amiga destas lides de escrita (obrigado Di|) enviou-me um video muito engraçado e deveras curioso, através de uma dessas plataformas de comunicação tão em voga.
O filme tem realmente muita graça, mas chama-nos outrossim para uma nova problemática com este regresso à normalidade laboral.
Certamente que o afastamento das pessoas dos verdadeiros locais de trabalho fomentou alguns, não direi vícios, mas parametros desajustados àquilo que era a normalidade de um gabinete.
Um desses parãmetros prende-se, por exemplo, com a deslocação para os locais de trabalho. Novos horários, transportes públicos apinhados ou trânsito anormal com filas podem originar alguns constrangimentos neste novo regresso. Assim como as refeições que em casa eram provavelmente mais lentas e agora terão de ser mais céleres.
Mas pior que tudo é o reencontro com antigos e novos colegas. Já para não falar das chefias. Diz o povo "loge da vista, longe do coração" o que equivale dizer que cada um no seu espaço privado (leia-se casa!) terá sido muito mais útil (e provavelmente mais feliz) do que com a sua presença num gabinete, quantas vezes vazio de bem-estar!
Esta pandemia vai certamente fazer com que muitas empresas repensem as suas estruturas laborais, não só no sentido organizacional, mas também no sentido estrutural e físico, evitando com isso muitos custos excessivos.
- Ainda era um elemento activo na empresa onde trabalhei mais de 37 anos;
- Era sexta-feira e as regras haviam mudado drasticamente, tudo por causa desta pandemia que ainda nos afecta e infecta;
- Iniciou-se o processo de teletrabalho que para mim durou apenas alguns meses já que me reformei a meio do ano;
- Deixei de contactar com os meus colegas de uma forma mais visível e passei a resolver as coisas à distância;
- Despedi-me do meu gabinete.
Aquilo que parecia ser, há um ano, um interregno de um par de semanas tornou-se num situação quase permanente e para a qual não há fim à vista. Mesmo depois de um Verão quase desconfinado que se viria a plasmar num aumento sucessivo de casos no final do ano e inicio de 2021, o que conta perceber como é que o teletrabalho tem sido observado por parte das entidades empregadoras.
Uma visão que seria interessante desmistificar. Por algumas informações que vou recebendo quem está em teletrabalho, geralmente trabalha mais horas do que se estivesse num gabinete ou num escritório.
Há um ano ainda acreditávamos que iríamos passar pelos intervalos da chuva desta pandemia. Porém a realidade foi tenebrosamente diferente e hoje vivemos aquilo que este vírus nos deixa viver.
Tanta coisa mudou no Mundo e em Portugal. O que há um ano parecia uma profunda utopia é hoje uma triste realidade.
Desde Setembro que tomo conta da minha neta que hoje conta com 11 meses. Esta presença agora permanente durante a semana e durante todo o dia, levou-me claramente a entender as dificuldades daqueles de quem tem filhos pequenos e que tem de trabalhar a partir de casa.
Já não me lembrava de como uma criança é profundamente absorvente e de como requer atenção a 100 por cento. Nem sequer imagino como será com duas ou mais presentes de diferentes idades e curiosidades.
Mesmo com canais televisivos dedicados às diversas idades das crianças tenho que reconhecer que os pais confinados em casa e em teletrabalho são uns verdadeiros heróis e amplamente premiados com... coragem.
Para todos eles vai um forte abraço de solidariedade.
Recebi esta semana uma mensagem de correio electrónico do Director do meu Departamento a comunicar que hoje, quinta-feira de Páscoa da parte da tarde, seria dado folga, descanso, tolerância de ponto, o que quiserem chamar.
Todavia são quase seis e meia da tarde e ainda estou à espera de um relatório e da comunicação da resolução de diversos problemas que hoje, por azar, surgiram.
Isto é... se estivesse no meu trabalho por volta do meio dia largaria o escritório e só na próxima segunda feira voltaria a preocupar-me.
Com o teletrabalho tenho de estar quase sempre em prevenção e não tenho grande escolha.
A obrigatoriedade de ficarmos em casa tem levado muita gente a sentir-se desconfortável e deveras ansiosa. Percebe-se porquê… estar confinado às paredes do lar pode tornar este uma espécie de prisão.
Posto isto diria que sou um privilegiado já que posso sair de casa, sem propriamente andar em espaços públicos, pois tenho um jardim e um quintal que requer alguma atenção.
Mas estar em casa a trabalhar tem também as suas vantagens. Eu vejo algumas:
Levanto-me mais tarde - em tempo normal o despertador toca às 6 e 10, agora não necessito que me acordem pois às 7 e meia estou a pé;
Deixei de andar de carro e de transportes – o que se reflecte numa economia de combustível, passes e diminuição de poluição;
Poupança de vestimenta – a trabalhar no escritório mudo todos os dias de roupa, em casa a “farpela” é (quase) sempre a mesma;
Bebo muito menos café – de quatro a cinco cafés diários passei a dois;
Aqueles almoços com colegas e amigos desapareceram – em casa as refeições são normalmente mais frugais;
Estando em casa não há problemas de tráfego para chegar;
Portanto eis meia dúzia de óptimas razões para estar em casa e de cá não sair.
Jamais pensei terminar a minha carreira profissional com um espectro destes. Esta gripe tem-nos limitado a vida e independentemente do que possam dizer ou pensar, estou perfeitamente de acordo com esta quarentena.
Estou por isso em teletrabalho.
Mas duplo... que eu não brinco nestas coisas.
Nota final: o portátil da esquerda é o meu e serve para escrever aqui e noutros sitios, obviamente.
Precisamente daqui a três meses estarei reformado. Se bem que oficialmente só seja a 1 de Agosto, mas como tenho férias para gozar... a partir de 16 de Junho digo adeus à minha vida profissional.
No entanto jamais pensei, nem nos meus pensamentos mais radicais, que um dia estivesse em casa a trabalhar para a minha empresa. Sei que a informática evoluiu muito, que agora quase tudo é possível mesmo de forma virtual, mas trabalhar no meu negócio... parece-me, no mínimo, estranho.
Sempre fui uma pessoa de fácil convívio (uma forma mui súbtil de me auto-denominar tagarela!!!). Como também sempre previligiei o contacto pessoal em vez do telefónico.
Porém nada na vida é certo, a não ser a morte e o nosso passado. E de um momento para o outro eis-me em casa a tentar resolver problemas informáticos dos meus utilizadores à distância de um rato ou de um teclado.
Não tenho colegas aqui, nem falo com ninguém, mas estou no meu escritório sujeito à temperatura ambiente que gosto, rodeado de muitos livros e de diversos relógios.
Uma inovação realmente forçada mas com a qual concordo plenamente. A vida e a saúde das pessoas é muito importante e deverá ser tomada como primeira prioridade.