O Natal passado trouxe-me um Concerto de Ano Novo que assisti no CCB logo no dia 1 de Janeiro e uma saída ao Politeama para ver o mais recente espectáculo de Filipe La Féria, Laura.
Tal como indica o nome este musical roda à volta da celebárrima actris Laura Alves, a menina de diversos amores e que morreu,, talvez, cedo demais.
Figura controversa do nosso teatro, estou espectante quanto à peça que irei hoje presenciar, ciente da chancela de qualidade que La Féria costuma colocar nos seus espectáculos.
Veremos como se sairá deste desafio! Que não me parece ser muito fácil
Saltou para a ribalta das notícias a polémica em redor das Aventura dos Cinco escritos pela britânica Enid Blyton. Ao que li aquelas aventuras escritas no séculos passado vão ser agora reescritos porque algumas pessoas sentiram-se ofendidas pelas personagens.
De uma forma encapotada e sob um tecto que não sei como se chamará, mas certamente não será liberdade, percebo que regressou a censura. Hoje cada vez mais há que ter muito cuidado com o que se escreve e acima de tudo como se redige um texto. Porque uma qualquer pessoa pode-se sentir ofendida com uma frase ou uma mera palavra que foi aplicada num determinado texto.
Vivemos tempos parvos, atípicos e idiotas! Somente porque uns "iluminados" consideram todas as palavras ofensivas.
Deixem-me agora acrescentar mais uma acha para esta fogueira: estou a ler um livro escrito por Eça de Queirós e que a determinada altura diz "um velho com quase sessenta anos"! Ora tendo eu já sessenta e quatro anos e não me sentindo velho terei o mesmo direito de outros em não me invectivarem ou, pelo menos de não me chamarem de velho, mesmo com esta idade. E portanto obrigar que Eça seja reescrito. Ou será que só alguns têm direitos?
Ainda não se lembraram de alterar os Lusíadas. Cheira-me que já estivemos mais longe!
Já perdi o conto às vezes que fui ver os espectáculos de Filipe La Féria (alguns deles mais que uma vez). Todavia só iniciei a assistir aos seus bons espectáculos aquando do musical Amália, que vi repetidamente. Perdi estupidamente "Passa por mim no Rossio" ou "Maldita Cocaína" entre muuuuuuuuuuitos outros.
Assim sendo, e sem qualquer ordem cronológica, assisti:
Casa do Lago (com a inesquecível Eunice Muñoz e Pedro Lima):
Gaiola das Loucas:
Violino no Telhado,
My Fair Lady,
Revista à Portuguesa,
Jesus Cristo Superstar,
Música no Coração;
A Severa;
Fado, história de um povo;
e finalmente assisti ontem a:
Revista é sempre Revista.
Sendo a Revista um das mais populares formas de teatro português, a que se junta 100 anos do Parque Mayer, pareceu-me natural que o reconhecido encenador Filipe La Féria recriasse alguns dos momentos mais marcantes da Revista, num super espectáculo apresentado no costumado centro de teatro, alegria e diversão de Lisboa: o Teatro Politiema!
A sala aprentemente cheia (fiquei na primeira fila, sem muita percepção de como se encontrava o recinto) deu força e mais alegria a uma revisitação de tantos e memoriáveis sucessos que todos nós ao longo da nossa vida fomos ouvindo.
Certamente que muito do que ali se cantou e reviveu dirá muito pouco ou nada às gerações mais novas. No entanto a forma como La Féria encena o espectáculo faz com que todos os presentes, sem excepção, entrem fluentemente no espírito da... Revista.
Temi a ausência de referências como Ivone Silva ou Camilo, mas felizmente enganei-me. Gostei outrossim da bonita homenagem a Eunice Muñoz. Merecidíssima!
Em conclusão breve diria "Revista é sempre Revista" é um óptimo espectáculo que merece ser visto e apreciado por todos os portugueses!
Só conheci fisicamente o Parque Mayer em 1979 quando fui trabalhar para aquela zona da capital. Já não me lembro o dia que entrei naquele recinto pela primeira vez, mas tenho ainda hoje consciência que aquele local continha qualquer coisa de diferente.
Almocei muitas vezes em alguns dos restaurantes que havia naquele espaço. Comprei livros em alfarrabistas e gastei rios de dinheiro nas casas de jogo de “flippers” que existiam por lá.
Mas o que mais me surpreendia era ver os actores – aqueles mesmos que surgiam amiúde nas televisões - passearem-se por aqueles lugares e alguns a almoçarem na mesa ao lado da minha.
Conheci por isso Ivone Silva, Octávio de Matos, Henrique Santana e muitos outros cujos nomes já não me lembro.
No entanto há uma actriz que já não actuava por aquela altura, mas que todos conheciam e idolatravam. Chamava-se Beatriz Costa e mantinha a sua franja que tão bem lhe assentava.
Simpática e afável tinha sempre uma palavra de carinho para quem com ela se metesse. Geralmente costuma almoçar no melhor restaurante do Parque Mayer da altura e que se chamava Dominó.
Recordo-me também dos teatros ABC, Variedades (onde cheguei a ver Raul Solnado em “Há petróleo no Beato”) ou o Maria Vitória. O Capitólio fora por aquela altura transformado num cinema de filmes de qualidade muito duvidosa.
Pelo centenário li que querem reactivar aquele espaço. Acho muito bem, mas façam o que fizerem jamais recuperarão o “glamour” de outros tempos. Pode-se reconstruir um teatro mas jamais se reconstrói a alma!
Vi uma única vez Eunice Muñoz actuar. Foi no teatro Politeama com a peça "A Caso do Lago" que nos anos 80 Henry Fonda e Katharine Hepburn imortalizaram no cinema. Como costumava dizer: para ver Eunice nem que seja a fazer o pino, pois fa-lo-á melhor que todos os outros actores.
No entanto há no falecimento de Eunice uma irónica ou será estranha coincidência, ao perceber que a deusa do teatro morreu a uma Sexta-Feira Santa.
Naturalmente que Eunice não ressuscitará no próximo Domingo de Páscoa, mas pegando no simbolismo destes dias, especialmente para os católicos, a verdade é que toda a vida que a malograda actriz entregou ao teatro irá, sem dúvida, vencer a morte do esquecimento.
Eunice Muñoz ficará para sempre no coração de todos os portugueses.
Desde que voltámos a ser donos das nossas vidsas esta foi a primeira vez que fui ao teatro. Desta vez para ver a celebérrima peça de Agatha Christie "A Ratoeira" em cena no Teatro Politeama.
A noite estava agradável e a sala apresentou-se repleta, o que é nesteotável. As pessoas andavam anormalmente necessitadas deste género de espectáculo.
Uma das figuras do elenco é sem dúvida Ruy de Carvalho. Aos 95 anos de idade e com 80 de carreira o decano dos actores é ainda uma referência no teatro, a quem o público não regateia elogios. De tal maneira que assim que entrou em cena as palmas soaram na sala.
A peça é engraçada, mas o final é facilmente previsível para quem, como eu, já leu quase todos os policiais de Agatha Christie. Todavia vi óptimas interpretações em palco.
Um pequeno senão... O som pareceu-me um tanto deficitário. Bastava que os actos se desviassem um pouco dos microfonae e logo os diálogos surgiam difíceis de entender. Provavelmente o problema será meu tendo em conta a minha surdez.
No final na fase dos aplausos Ruy de Carvalho avançou, fez um "t" com as mãos a solicitar tempo para finalmente agradecer a presença de todos. A sala veio abaixo com aplausos.
Quem diria que um actor com tamanha carreira, tantos prémios e condecorações alcançadas se digne agradecer de viva voz a presença do público. Um momento inesquecível que guardarei certamente nas minhas profundas memórias.
Hoje, dia de Carnaval, tinha a intenção de escrever sobre a tradição aqui de casa, mas que este ano não se realizou por razões óbvias e que se prenderia com a feitura de um saborosíssimo “Cozido à Portuguesa”. Fez-se unicamente o “Caldudo”, um doce beirão!
Alterei a minha ideia inicial após saber que Carmen Dolores havia falecido. Sei que já tinha uma idade muito bonita, porém foi uma perda para a cultura portuguesa, nomeadamente para a “arte de Talma”.
Um ano de 2021 que já nos levou cantores (p.e. Carlos do Carmo) e outros grandes actores não poderia ficar pior sem que nos retirasse outrossim uma grande, grande referência da cultura.
A minha relação próxima com o gosto do teatro vem desta senhora que ora nos deixou. Era miúdo, mas vi diversas vezes o Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Uma peça de teatro que me deixava sempre em êxtase, essencialmente pela actuação de Carmem Dolores.
Muitos anos mais tarde tive a sorte e o privilégio de a conhecer pessoalmentee aproveitei aquele momento para lhe comunicar que o meu gosto pelo teato adviera dela.
Acabei nesse dia muito feliz e que guardo para sempre como um momento sublimado na minha pobre existência, por escrever um postal e que publiquei neste espaço.
Desde que soube da morte de Pedro Lima que fiquei em estado quase letárgico. O que leva alguém a colocar um fim à sua própria vida assim sem mais nem menos?
É a pergunta que me bate no coração permanentemente.
Cruzávamo-nos muitas vezes na mesma rulote onde o via com um dos filhos antes dos jogos no nosso Sporting. Vi-o também actuar no Politiema na peça “Casa do Lago” onde contracenou com Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho.
E vi-o em algumas telenovelas…
Sempre me pareceu uma pessoa equilibrada e sensata. Estranho por isso a sua atitude sem regresso.
Em tempos debati o tema do suicídio. Alguém defendia que quem se suicida é um corajoso, eu defendi o inverso. Mas seja uma coisa ou outra o público português não merecia perder este bom actor. Dos melhores…
Que descanse finalmente em paz… já que parecia não a ter na vida terrena!
Entre o dérbi de hoje à noite em Alvalade e ver a Severa de Filipe LaFéria no Politiema... escolhi o teatro.
A minha confiança na equipa de futebol do Sporting nunca esteve tão em baixo. Num momento menos bom da minha vida o que menos preciso é de ir ver mau futebol quando, ao invés, posso ir ver bom teatro.
Uma mera questão de opção!
Já vi a Severa e gostei, de tal maneira que vou repetir.
Porque a vida não pode nem deve ser só maus momentos.