Devagar ou com vagar?
Quando há 9 anos fiquei surdo do ouvido direito devido a dois AIT'S não tinha consciência do meu futuro, especialmente o que seria viver com uma anomalia.
A surdez é algo invisível. Enquanto os invisuais, por exemplo, andam normalmente acompanhados nem que seja por um cão que os ajuda e qualquer um consegue dar conta da sua incapacidade, à surdez ninguém percebe... Até se falar!
Toda a minha família sabe que tenho esta deficiência com a qual tento viver normalmente. Talvez esta seja uma das razões porque também deixei de ver televisão: tinha sempre de aumentar muito o volume para conseguir escutar.
Quem comigo fala a primeira vez não se apercebe, mas eu tenho, quase sempre, o cuidado de avisar o outro que terá de falar mais devagar para que eu perceba. Não é preciso mais alto... somente mais lentamente.
No entanto o que mais me custa é no momento em que me chamam. Então se for na rua, pior ainda.
Já que só um dos ouvidos está operacional, sempre que oiço o meu nome que não sei de onde vem, é uma desorientação da minha cabeça. Pareço uma ventoínha a tentar descobrir donde virá o chamamento.
As próteses auditivas pouco me ajudam já que com elas a minha cabeço assemelha-se a uma caixa de ressonância. Prefiro ficar assim e solicitar que falem pausadamente.
Tendo este tema como pano de fundo ficam desde já a saber que quando me encontrarem na rua têm de falar devagar e com vagar!
A gente lê-se por aí!