Hoje li a estória de Luís Dias, o agricultor que esteve em greve da fome durante 28 dias devido a apoios não recebidos por parte do Estado.
Daqui deste espaço envio o meu abraço solidário ao agricultor beirão, porque conheço demasiado bem esse sentimento de impotência perante tanta mesquinhês por parte das entidades agrícolas lusas. Quando para outros as facilidades são tão grandes...
Relembro a este propósito que há uns anos a nossa pobre agricultura poderia não ter dinheiro para distribuir pelos pobres agricultores, mas existiam uma série de Institutos públicos para gerir... ainda estou para perceber o quê!
Chamaram-se: INGA, INA, IFADAP. Com os respectivos presidentes, vice-presidentes, secretárias, motoristas, viaturas e mais não sei quanta gente a ganhar dinheiro à "pala" do Orçamento português.
Um dia alguém do governo (e bem!) decidiu juntar os institutos numa entidade chamada IFAP que no fundo herdou os processos do IFADAP. Mas não só, pois esta entidade recebeu outrossim os processos dos outros Institutos extintos, criando uma normal confusão burocrática. E eu que o diga que estive anos para transferir simplesmente a titularidade dos projectos. De tal forma que acabei por meter também o Provedor de Justiça ao barulho.
Dizem que a agricultura é o parente pobre do nosso país, mas acho curioso o que em tempos escutei: há quem receba subsídios para semear trigo no Alentejo mas nessas terras só nascem "jeeps".
Estive cinco anos para receber 2200 euros de um projecto (uma verdadeira fortuna) quando gastei nas fazendas em todo esse tempo mais de 30 mil euros. Eu sei que aquete naco de terra é pobre, sei que não é produtiva... mas as medidas de apoio que lançaram contemplava esta matriz de fazendas agrícolas.
Ao invés do agricultor beirão, não necessitei do dinheiro que gastei para sobreviver, mas há muito agricultor que precisa.
Finalmente tenho das entidades agrícolas a pior opinião possível. Que começa obviamente na própria Ministra da Agricultura de quem raramente vejo notícias.
No início desta semana tive de ir à aldeia num tiro pois fui convocado pelo IFAP para uma visita às propriedades sobre as quais incidia um pedido de ajuda.
Este processo iniciou-se há uma meia dúzia de anos para após uma recusa por falta de verbas, ter sido aceite com direito a uns euros.
A verdade é que desde que comecei a fazer intervenções nas fazendas que ainda são do meu pai já gastei uns bons milhares de euros nuns pedaços de terra que se fossem vendidos não me dariam nem um quarto do que lá gastei.
Porém como também não tenho vícios e acima de tudo gosto de ver as terras arranjadas, fui investindo o que deveriam ser poupanças.
Segundo percebi irei receber uma fortuna que rondará 2500 euros, quando já lá gastei 20 vezes mais.
Mas o pior não está nesta minha situação, mas tão-somente saber que há cerca de 300 mil hectares de terras sobre as quais não incide nenhum subsídio, ao mesmo tempo que há “supostos” agricultores a receberam valores quase pornográficos, sem terem quaisquer terras. Como o conseguiram não imagino, mas foi o técnico que visitou as fazendas que denunciou a situação.
Entretanto parece que em 2023 as coisas tenderão a mudar, mas até lá…
Obviamente que não quero viver da agricultura, mas apenas gostaria de uma ajuda para tratar das terras que durante anos foram desprezadas.
A verdade é que a agricultura continua a ser o parente pobre da sociedade portuguesa. E dos consecutivos governos!
Pela primeira vez em 34 anos de trabalho não recebi subsídio de Natal. Ou melhor, não o recebi todo junto como era uso. Porque a opção de aquele ser repartido pelos doze meses deste ano não fez crescer mensalmente o meu pecúlio financeiro.
E assim olho para o próximo Natal de forma diferente do que sempre foi, até aqui.
Gostava da azáfama das prendas, do que escolher para os filhos ou para os sobrinhos, para o pai ou para o afilhado, para a minha mulher ou a mãe. Dilemas diversos mas que sabiam bem.
Este ano “alguém” me tirou esse prazer, esse gosto. Não quero aqui acusar rigorosamente seja quem for desta minha tristeza, mas que ela invadiu estes últimos dias é bem verdade!
Sei de antemão que neste preciso momento há muitas (demasiadas!) famílias que nem dinheiro têm para os bens essenciais, quanto mais para prendas. Serei quiçá egoísta em pensar desta forma, admito!
Só que este meu pequeno prazer de poder dar, oferecer, brindar família e amigos com pequenas alegrias foi inibido pura e simplesmente por decreto.
No fundo, no fundo deixei de ser dono da minha própria vida. Não será esta nova filosofia imposta por quem não conheço uma nova forma de ditadura?
Tenho perfeita consciência de que aquilo que vou escrever a seguir vai ser (muito) mal interpretado, mas nesta altura do campeonato tanto se me dá que gostem como não.
Então aqui vai…
Como empregado com mais de trinta anos de serviço no Banco de Portugal vou deixar de receber subsídio de férias, a partir deste ano. “E muito bem!” dirão alguns dos que lerem isto… Pois é! O problema é que isto já aconteceu noutras alturas. E já ninguém se lembra ou quer lembrar. Ou talvez não interesse evocar essas memórias.
Todavia há que fazer aqui antes diversos esclarecimentos:
O Banco de Portugal não obstante ser uma empresa do Estado não se alimenta deste, bem pelo contrário: alimenta-o!
As funções entregues ao regulador fogem à normal actividade de um banco comercial. No entanto em termos laborais somos bancários e NÂO funcionários públicos. Mas curiosamente quando há más notícias para o funcionalismo do Estado, apanhamos sempre por tabela, vá-se lá saber porquê?
Mas regresso à história.
Nos anos seguintes ao 25 de Abril, em pleno PREC, os trabalhadores do Banco de Portugal tinham determinados benefícios, que perderam por culpa da tal igualdade ou como agora costumam chamar, equidade. Mas curiosamente nessa altura quem governava o País era a mesma esquerda, naturalmente apoiada pelos militares do MFA, e que agora reclama ser frontalmente contra os cortes de subsídios.
Nesse tempo não havia a crise que agora se apresenta e os representantes sindicais acharam muito bem que se retirassem esses tais benefícios. Isto é, votou-se pelo nivelamento por baixo. O costume neste país!
Eu sei o que o nosso povo pensa: se eu não tenho tu também não podes ter! A velhíssima e incrementada inveja suez e mesquinha.
Pois eu vejo as coisas precisamente ao contrário. A minha versão, um tanto nórdica de democracia, diz que devemos ser todos cada vez mais ricos e não mais pobres.
A consciência de que temos vivido muito acima das nossas possibilidades é actualmente um “prato” que nos tem sido servido, de um jeito muito pouco “saboroso”. Duma forma ou doutra já percebemos as asneiras que foram cometidas neste país, tudo em nome dos elevados interesses da nação, e que ora damos conta não terem sido os melhores.
Hipotecámos o nosso futuro, o dos nossos filhos e quiçá dos nossos netos. À nossa volta vivem (será que vivem? Ou sobrevivem?) gente com profundas dificuldades financeiras, desemprego, salários em atraso, subsídios desaparecidos.
E quando após um esforço quase titânico percebemos que nada valeu a pena, porque há que retirar ainda mais décimas ao déficit e consequentemente mais dinheiro aos portugueses, ficamos com aquela vontade de desistir de tudo e deixarmo-nos ir sem destino.
Nos rectângulos televisivos os comentadores, uns atrás dos outros, vão denunciando os dinheiros e oportunidades perdidas ao longo destes anos - alguns são os mesmos que diziam que gastar em obras públicas era um bom investimento!!!
Os quilómetros de estradas que rasgam o nosso país de lés-a-lés, tiveram um preço demasiado elevado para um país que não produz o que realmente gasta. As escolas sem alunos, os hospitais sem equipamentos nem médicos, as industrias subsidiadas por um Estado perdulário e incompetente e agora deslocalizadas, as empresas municipais criadas para alojar os amigos que ajudaram na eleição, uma justiça a diversas velocidades dependendo dos interesses envolvidos, as PPP’s altamente ruinosas para os interesses do Estado, as dúvidas e certezas sobre as vidas de certos políticos, sejam eles de esquerda, direita ou centro, fizeram deste país um lugar sem rumo e sem destino, onde cada um faz o que dá na real gana.
É necessário repensar este rectangulo. Haver alguém equidestante de interesses obscuros e que consiga por mão neste país...
De toda esta crise de identidade retiramos uma natural e mui triste conclusão: jamais viveremos como antigamente!