Hoje quando alguém me convidou para ir ver algo na televisão que eu sabia de antemão que seria demorado, declinei o convite com a desculpa real de que tinha muito que fazer. Devolveu-me com a questão de que talvez eu me tivesse esquecido que estava reformado. Retorqui que tinha muita coisa para escrever, ao qual rematou:
- Isso parece quase profissão.
A conversa depois derivou para outros assuntos e, entretanto, no meio de alguns dos meus afazeres desta tarde dei por mim a pensar na frase final…
Não faço da minha escrita profissão… ou será que faço? Um reformado é alguém que tem direito a uma reforma pelos anos descontados. Tudo certo! Mas ao dedicar-me o meu pouco tempo livre totalmente à escrita, nomeadamente na blogosfera, estarei a abraçar uma nova profissão? Ou aquela pode ser considerada como um passatempo?
Nunca, nestes mais de 40 anos que levo de escrita em jornais e mais recentemente na blogosfera, recebi um tostão que fosse quanto mais um cêntimo.
Porém ganhei outras coisas é certo. Algo que é completamente imensurável como a amizade, o carinho ou o respeito de quem aqui me visita. E este é o meu verdadeiro dividendo… saber simplesmente que me lêem!
São oito e dez desta manhã. Dirijo-me à entrada de um supermercado, onde já se encontra a minha mulher. Fiquei para trás para procurar sacos e aquela moeda para o carrinho das compras. Preciso comprar pão, leite, iogurtes e algo para o almoço de hoje.
A caminho da entrada dou por algo a brilhar no chão. Páro, recuo dois passos e apanho uma moeda de... um cêntimo.
Sei que é a mais pequena de todas as moedas em circulação, sei que nada se compra com esta moeda, sei tudo isto.
Porém levanto aqui uma questão: qual o verdadeiro valor do dinheiro? Eu sei que este é considerado o vil metal, já que por causa dele se cometeram, cometem e cometerão as maiores barbaridades e atrocidades. Mas infelizmente não podemos vir sem ele.
Pela minha parte ligo-lhe pouco. Sou incapaz de uma acção que prejudique alguém só por causa de uns meros euros. No entanto não sou esbanjador. O que recebo da reforma chega-me, mas não me alastro nos gastos. Não sei do que precisarei amanhã!
Face ao que precede lanço aqui e agora um singelo desafio a quem, obviamente, o pretender responder e que reza assim: baixar-se-iam para apanhar um cêntimo do chão?
Hoje ao almoço, e nem percebi como, chegou-se ao debate do que será, verdadeiramente, a sorte?
Não sei mesmo se existe realmente isso. Como também não sei se é um facto, um sentimento ou uma outra coisa qualquer. Se são os astros que se alinham todos para algo acontecer de propósito ou se a sorte é apenas uma coincidência. Mas eu não acredito em coincidências!
E já nem trago aqui as apostas em concursos pois essas entram obviamente na conhecida e complexa lei das probabilidades.
Avanço, todavia, com a minha ideia, quiçá estapafúrdia, de que a sorte pode ser, outrossim, uma perspectiva de vida. Olhar para os factos ocorridos e retirar deles lições. Ainda que sejam, à partida; coisas boas, como são os casos, por exemplo, dos prémios de euromilhões ou totoloto, raspadinhas e lotarias.
Mesmo que possamos dizer sobre um dado acontecimento: que falta de sorte, seria mais aviisado entendermos o que realmente o originou, de forma a evitá-lo no futuro.
Pronto hoje os meus leitores tiveram azar... Deu-me para aqui!
O tema saiu assim em amena “converseta” e de repente a questão abriu-se: porque escrevemos, porque publicamos os textos na blogosfera?
No fundo, no fundo, e salvo honrosas excepções, a maioria de nós nem se conhece pessoalmente. Sei lá se o autor que se assina por “Manel das Couves” não é uma idosa mas com mente jovem. Ou quiçá o inverso… a Manuelina dos Santos não é mais que um jovem em busca de estranhas experiências. Mas a questão continua em aberto: porque realmente escrevemos? E desta forma tão pública e gratuita…
Bom, não sou psiquiatra, nem psicólogo ou sociólogo com o simples intuito de explicar… o que, para mim, não tem uma explicação lógica.
Pela minha parte escrevo por que me sinto bem a fazê-lo. E enquanto vou esgalhando alguns textos não tenho preocupações que me atentem. É um mundo paralelo que se me abre e eu adora lá viver...
Vou lendo muita gente que assume ter aberto o blogue só para si. Esqueceu-se, no entanto, que se não o configurar ele ficará público e acessível a todos, passando deste modo a arriscar-se a ser lido por muita gente e a receber reações. A que terá, eventualmente, de responder… Logo a primeira ideia morreu na génese e o que era para si passou a ser para todos.
Por fim tenho consciência de que (quase) todos nós escrevemos para termos a certeza que existimos. Curiosamente esta certeza advém após a devolução que os outros nos fazem daquilo que vamos escrevendo!
Tenho pelos entregadores de refeições uma admiração e um respeito quase anormal. São quase sempre jovens de motorizadas ou bicicletas, abnegados, corajosos e sempre disponíveis. Faça sol ou chuva, vento ou frio, eles nunca desarmam e é vê-los nas ruas de mochila à costas a entregar a comida a quem pagou e reservou….
Mas nem tudo são acções fantásticas…
É que ainda não consegui perceber qual a razão para estes entregadores nunca andarem como o trânsito. Sentidos proibidos, passeios, passadeiras de peões, sinais luminosos… nada se respeita. Bem vistas as coisas, estes jovens colocam muitas vezes a sua vida em perigo e essencialmente a dos outros.
Em tempos alguém me explicou que eles ganham à entrega e se ao fim do dia tiverem poupado muitos segundos é mais uma refeição de distribuem e mais dinheiro para o bolso. Percebo o incentivo, mas tal nunca deveria ser à custa do desrespeito pelas leis, nomeadamente pelas leis de trânsito.
Contaram-me uma história passada recentemente num supermercado, mas não imagino se foi verdade ou mentira.
Então relataram-me assim: uma médica foi ao dito supermercado. Estava bem mascarada quando reparou que entre os clientes estava um que um par de horas antes havia comparecido no seu consultório com a indicação de infectado com Covid.
Perante a situação e para não criar nenhum reboliço a tal médica dirigiu-se ao segurança do supermercado e comunicou que entre os clientes estava um infectado.
A médica regressou às suas compras para de repente escutar nos altifalantes: estimados clientes agradecemos que quem estiver infectado com Covid19 que saia rapidamente do estabelecimento sem compras.”
Ao que parece saíram 9 pessoas que estavam presentes…
Pode ser uma mera brincadeira, repito que não imagino se foi verdade, mas há nesta estória uma característica bem portuguesa e que se prende com a estúpida ideia de que a lei existe para ser sempre ludibriada.
Foi meu director durante uns anos. Acabei mesmo por lhe comprar um carro, o primeiro que tive com mudanças automáticas.
Assumiu-se, já com alguma idade, homossexual. Mas independentemente da sua opção sexual sempre se mostrou um enormíssimo gestor.
Dizia ele: tudo o que se passa neste Departamento é culpa minha já que sou o Director.
Uma postura pouco vista em gestores, nomeadamente quando gerem empresas de cariz estatal! Outro exemplo prende-se com um erro de gestão, que a certa altura, cometeu.
Um dia decidiu nomear alguém para chefiar um certo serviço. Neste havia uma pessoa mais apetrechada e muito mais competente para tomar as rédeas do serviço, mas foi preterida. Desta decisão de gestão sairam algumas consequências, sendo que o serviço foi o mais prejudicado.
Todavia, anos mais tarde o departamento foi reformulado com novas funções e a pessoa preterida foi chamada à presença do director. Este iniciou a conversa com uma assumpção de culpa:
- Há anos tive um mau momento de gestão e fui injusto para consigo. É chegada a hora de emendar esse erro! Deste modo convido-a a chefiar o novo serviço que vai iniciar-se. Aceita?
A colega aceitou.
Admirei a coragem deste homem ao assumir um erro. O que nos tempos que correm não parece fácil.
Não obstante se perder no passado a origem dos óculos a verdade é que há mais de meio século raras eram as pessoas que usavam... cangalhas, como popularmente se diz! Muito menos nas crianças e jovens.
Mas como eu nunca fui uma pessoa vulgar teria de me calhar, aos seis anos de idade, o uso permanente de óculos.
Decorrido mais de 50 anos, muitos pares de óculos adquiridos e estragados, muitas lentes de contacto, fico a pensar o que seria de mim e de tantos que por esse mundo fora usam óculos se estes não tivessem sido inventados.
Para além da roda, os óculos foram uma esplêndida invenção para todos!
Não... não é contra o viruszito chinês que estou vacinado. Até que isso aconteça ainda há que correr muito tempo.
Na verdade vacinei-me contra a política e os políticos. E a duas semanas das eleições presidenciais assumo aqui e agora que não irei votar em nenhum candidato.
Faço-o com a consciência de cidadão eleitor. Na realidade para quê votar se a vitória está garantida para o actual inquilino de Belém? Mais... para quê colocar-me a jeito a ser infectado, numa qualquer mesa de voto? Nahhh... nesta não me apanham!
Todavia o pior mesmo são os candidatos a concurso. São fracos, tristonhos e tendem a baixar o nível das suas propostas. Confesso que tentei ver à posteriori alguns debates entre candidatos, mas aquilo foi de tal pobreza franciscana que rapidamente percebi que, retirando o actual Presidente, todos estão a fazer figura de corpo presente, já que estão condenados ao fracasso.
Termino com uma preocupação vista à distância que é tentar perceber quem daqui a cinco anos estará na corrida por Belém já que o actual e próximo Presidente já não poderá ir a votos.
A vida ensinou-me muita coisa. Ensinou-me mais aquela que todos os compêndios da escola onde também, verdade seja dita, nunca estudei.
Trabalhei durante mais de 40 anos, abraçando diferentes desafios: fui vendedor de enciclopédias às portas, lavei loiça num café, trabalhei numa livraria, fui amanuense num escritório, caixa num banco para terminar a minha vida laboral como técnico de informática. Durante todo este tempo lidei, sem qualquer exagero, com milhares de pessoas. E foram estas que de forma involuntária me foram ensinando a enfrentar os desafios que me surgiram na vida.
Após muitos trambolhões percebi que viver não custa, o que custa é saber viver! Por isso não vale a pena chorar sobre o passado, mas perceber até que ponto este nos ensinou a viver o presente e o futuro.
Abdicamos tantas vezes de boas companhias, de boas leituras ou até de óptimas escritas só porque estamos focados num qualquer trabalho que requer de nós tudo e mais alguma coisa.
Mas na verdade só estamos a adiar o óbvio: somos todos descartáveis! E quanto mais depressa tivermos noção disto mais depressa puxamos das emoções do nosso coração e passamos a viver a vida de maneira mais livre e consequentemente mais feliz.
Nunca fui pessoa para no início de cada ano apresentar resoluções para o futuro. Prefiro aguardar cada dia, cada hora, cada minuto que se me apresenta com estoicismo e digo-o de alma aberta… com fé, para no final de cada ano dizer sempre o mesmo: o melhor foi chegar ao novo ano!
Portanto nunca percam uma oportunidade para serem felizes. Mesmo que os outros torçam o nariz!