E o cirurgião também pois já aqui veio hoje! Fora isso não imagino como terá ficado a restante equipa.
Dando um salto em frente nos acontecimentos comunico que estou bem sem dores e com a barriga a nadar em litros de água. Fui operado à prostata numa cirurgia mais ou menos célere e sem grandes problemas.
Um processo rápido entre a decisão cirúrgica (entre mim e o médico) e a execução ontem do acto clínico.
Antigamente os hospitais privados eram destinados aos portugueses mais endinheirados. Mas com a crise na saúde especialmente na saída de médicos para o sector privado, este ficou mais apetrechado em qualidade e competência. Depois os seguros de saúde e outros acordos de empesas e sindicatos levam aos hospitais particulares mais doentes, libertando de certa forma as unidades públicas.
É certo que os valores das acções médicas são mais caros, porque no SNS não se paga, mas há sentimentos mais importantes que o dinheiro e que se chama... qualidade de vida, ainda por cima se esta for assente na nossa saúde.
Posto isto e para finalizar trouxe o portátil mais pequeno e por aqui vou dando caminho a alguns projectos.
A conversa infra que relatarei foi escutada por mim numa sala de espera de um hospital público. Então aqui vai:
- Sei que estou muito doente - observava a senhora idosa e gorda sentada atrás de mim para a sua vizinha de lado.
Para depois continuar:
- É por isso que estou cá, nem imagina a quantidade de comprimidos que tomo por dia...
A outra não respondeu só acenava que sim com a cabeça!
Regressaram as queixas:
- Logo em jejum são três. Depois ao pequeno-almoço são mais cinco...
E desenrolou a lista com a quantidade de comprimidos e as horas a que tomava.
A outra doente mantinha-se em silêncio à espera de vez para falar. Até que a balofa idosa calou-se passando a palavra à outra tentando perceber se era batida no número de comprimidos. Finalmente com a hipótese de falar a vizinha de cadeira, também idosa, mas magra e de lenço na cabeça, respondeu:
- Ah acredito! Eu sou apenas cancerosa e poucos comprimidos tomo! Entra tudo de uma vez só pela veia!
Sinceramente até tive vontade de rir! Olhei para a idosa anafada e notei-lhe uma tristeza no olhar, como percebendo que fora derrotada... pela ausência de comprimidos da adversária!
Este diálogo que apanhei é o reflexo dos nossos doentes! Muitos destes vivem nesta nuvem de maleitas, algumas delas quase imaginárias. Outros... os mais doentes só querem mesmo ser curados!
No Sábado à noite após o regresso à cidade tive de levar a minha sogra, idosa e demente, a uma hospital público, pois aparecera caída no chão do lar sem que alguém tenha percebido porquê, tanta mais que não anda por si mesma!
Chamado o 112, este levou a idosa para um hosptital da zona. Entrou eram nove da noite para só sair 21 horas depois!
Saiu sem qualquer problema evidente! As análises estavam óptimas, o electocardiograma impecável e a TAC à cabeça sem quaisquer evidências de problemas para além daqueles associados à própria demência.
Posto isto fico a pensar porque terá sido necessário uma idosa ficar internada perto de um dia quando num par de horas os médicos poderiam ter percebido que não havia qualquer problema. Mais... que recursos se gastaram para manter a idosa numa cama durante tanto tempo? Comida, enfermeiros, fraldas e o espaço da maca tudo afecto a uma só pessoa durante tantas horas?
E não fosse uma das filhas a perguntar a um conjunto de médicos presentes a situação, provavelmente ainda hoje lá estaria.
O SNS é pago com o contributo de todos nós e custa-me perceber como se desbaratam recursos médicos e humanos sem que ninguém peço contas!
Termino com mais uma questão: que fariam os médicos presentes se o Ministro da Saúde aparecesse naquele Serviço sem avisar?
A demissão da Ministra da Saúde nem é hoje um facto político porque há muito que se previa esta saída… Ainda me pergunto como se manteve tanto tempo neste novo governo?
Ser Ministro em Portugal é arranjar “lenha para se queimar”. Então se for da Saúde, Educação ou Finanças pior ainda.
Mas se pretendermos enumerar culpados seria bom que regressássemos aos anos 70 logo a seguir ao 25 de Abril. Foi aí que iniciaram os “números clausus” que limitaram, e de que maneira, o acesso a um curso de medicina. Logo por aquela altura percebi que mais tarde ou mais cedo os médicos seriam poucos para assistir à população lusa,
A regra nunca foi alterada (apenas surgiram novas universidades) e deste modo o número de médicos activos em Portugal tem vindo a decair.
Se juntarmos à equação a entrada em força de hospitais privados oferecendo melhores remunerações aos médicos e enfermeiros temos um problema acrescido com a falta de médicos no sector público.
Percebo que criar condições para dar aulas a 2000 alunos não são as mesmas para 200. Mas até nisto poder-se-ia ter arranjado uma solução. Bastava alguém pensar e querer fazê-lo.
O resultado está agora à vista com alguns médicos em regime de internato a assumirem responsabilidades que não deveriam já que estão ainda em fase de aprendizagem.
Portanto a bola de neve cresceu exponencialmente desde os tais anos 70. Depois todos os ministros que vieram a seguir nunca tiveram nem força e essencialmente dinheiro para poderem renegociar alguns contratos laborais. Porque no fundo no fundo tudo tem sido uma questão de dinheiro!
Entretanto Marta Temido, independentemente do que foi dizendo, deu sempre a cara pelo governo, numa altura de grande e real alarmismo (leia-se pandemia). Foi atirada às feras jornalísticas, mas manteve-se firme e hirta. Aceitou o Comandante Gouveia e Melo para agora que os níveis de infecção recuam quase todos os dias, poder sair antes que entre o Inverno.
Destemidamente sai pelo próprio pé o que em termos políticos será sempre algo a valorizar.
Se há alguma coisa que preocupa seriamente o cidadão português é a sua saúde.
Hoje estive com um familiar na urgência de um hospital público. O doente teve direito a pulseira laranja o que, em princípio, teria direito a ser despachado em pouco tempo.
O que quero chamar à atenção é sobretudo aos familiares e acompanhantes dos doentes que por aqui aparecem por "dácáestapalha". Na maioria são pouco pacientes e nem querem saber dos outros que chegaram primeiro ou que estão em poor estado.
Mas deixem-me assumir isto: se eu trabalhasse num hospital deste tipo nem que me pagassem o triplo eu estaria aqui a atender gente deste calibre.
É preciso muita coragem, mas muuuuuuuuuuita coragem para estar num serviço de Urgências deste tipo, sejam médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar ou seguranças.
A coisa está feia... muito feia mesmo! Esta pandemia teima em não nos largar, oprimindo-nos quase até à medula o que não é nada agradável!
Os números de infectados continua a subir e não me parece que baixe tão depressa quanto gostaríamos e necessitaríamos. Entretanto ainda há muita gente adulta por vacinar. Dizem-se negacionistas... quando para mim são somente parvos e agoístas.
Sem fazer grande alarde da coisa o SNS poderia contactar cada pessoa adulta sem vacina e dar-lhes uns dias para o fazerem. A partir desse instante cada utente não vacinado que surgisse na urgência com Covid-19 teria de pagar do seu bolso todos os tratamentos e internamentos.
Provavelmente com esta medida muitos que andam por aí sem máscara e sem preocupação, pensariam duas vezes antes de recusarem a vacina. Se bem que esta não iniba a pessoa de ser novamente infectada a verdade é que os sintomas são muito menores e infimamente menos gravosos.
Basta ver o número de infectados que há actualmente em Portugal e os que havia há um ano e o correspondente número de vítimas mortais e até de internamentos.
Porém é bom não olvidar que esta variante, não sendo tão agressiva quanto as anteriores, não deve ser menospresada e devem-se manter as regras restritivas superiormente impostas.
Ainda sobre a mensagem de Natal do Primeiro Ministro António Costa, ressalto uma promessa eleitoralista que ele lançou e que se prende com os médicos de família para todos os portugueses.
Em face desta promessa fico sempre com a ideia de que o PM fala demais.
- Primeiro porque, sinceramente, o médico de família deveria existir para aqueles que têm menos recursos (reformados, desempregados, pensionistas de baixos rendimentos, trabalhadores com ordenado mínimo) e não para todos, independentemente do que diz a constituição. Até porque no meu caso específico não necessito do tal médico porque sou beneficiário de um sistema de saúde próprio. Se usar o SNS nessa valência sou mais um utente para as filas madrugadoras para ter direito a uma consulta. E como eu há muita gente;
- Segundo porque uma consulta com um médico de família não nos dará automaticamente saúde. Desengane-se quem assim pensa;
- Terceiro porque os próprios médicos devem estar superiormente instruídos para evitarem passar exames ou medicamentos a pedido, a não ser nos casos crónicos.
E para o último caso dou um exemplo: o meu pai está internado com uma anemia grave. A médica de família que viu as análises há uns tempos largos chamou à atenção para a alimentação porque parecia que os valores de sangue estavam no limite mínimo. Mas não mandou repetir os exames. Nunca mais!
Deste episódio posso inferir que não o fez por incompetência, mas somente para evitar custos ao SNS, julgando, quiçá erradamente, que com alguma alteração alimentar as coisas se resolveriam.
Não resolveram. E pior… O Estado irá agora pagar mais do que umas simples análises.
Portanto seria bom que o senhor Primeiro Ministro cuidasse mais com o que promete. A conversa eleitoralista nem sempre dá votos!
Imagino que as administrações de Hospitais e de Centros de Saúde estejam a ser pressionados para despacharem as consultas médicas gerais, tal é a vontade de diminuir as filas de espera.
As razões desta vontade prende-se seguramente com eventuais ganhos eleitoralistas e não porque o governo esteja minimamente preocupado com os doentes.
Todavia adiar uma consulta, que se encontrava há seis meses programada, para daqui a mais de um ano, para com isso dar espaço às outras consultas é que não me parece o mais correcto. Feitas as contas um doente poderá ficar perto de dois anos sem ser visto por um médico especialista.
Mais uma vez os nossos governantes afirmam uma ideia muito bonita e carregada de boas intenções, os administradores vão dizendo outra e os médicos e enfermeiros outra ainda. Sem que nenhuma das ideias seja coincidente.
No final resta o sofrimento da população quando dá entrada numa instalação do SNS.