Sou do tempo em que o sexo era considerado algo demoníaco. Actualmente passámos para o oposto e aquele é tão corriqueiro e tão banal que quase deixa de ter piada.
Entretanto morreu ontem Jane Birkin. É a vida... já que ninguém é eterno.
Lembrei-me então da canção de Birkin e que deixava os rapazes meio tontos e com a imaginação e as hormonas aos saltos. Não imagino as meninas do meu tempo como ficariam...
Independentemente de tudo o que possam dizer é uma fantástica música, excepcionalmente bem interpretada.
Sempre que o tempo meteorológico e o outro se alinham aproveito para ir ao parque infantil com a neta. Esta adora baloiço e escorrega... como qualquer criança.
Ao redor do parque há umas árvores e uns bancos largos, daqueles de jardim.
Esta semana tenho encontrado um par de namorados que desde cedo por ali estão em brincadeiras próprias da juventude e da paixão. No entanto hoje apercebi-me mais a fundo da idade daqueles miúdos. No máximo terão 13 anos se não menos, sendo que a menina é fisicamente mais alta que o rapaz que parece, talvez por isso, ser mais novo que ela.
Não me compete fazer qualquer crítica aos costumes dos outros, mas naquele parque olho para o lado e vejo a minha neta de dois anos a brincar e pergunto-me: e se aquela menina fosse minha neta?
Ainda no seguimento do que escrevi ontem aqui, fico cada vez mais com a sensação que há algo de errado na educação de hoje de crianças e jovens. Por culpa dos pais, avós, tios e demais família. Mas chamo também o Estado à barra, que sem perceber muito bem o que anda a fazer com os nossos miúdos de vez em quando tem umas ideias peregrinas para impor nas escolas.
Sei que os jovens têm hoje a tendência, quase natural, de saberem muito sobre certos "assuntos" que eu só tive conhecimento já era homem crescido. Uns dirão que é conhecimento, outros...
Depois surge-me outra questão e que se prende com os pais destes miúdos... Saberão eles o que se passa com os seus infantes? Calculo que não!
Podem-me chamar de retrógado ou antiquado que eu não levo a mal, pois considero que há na vida tempo para tudo... No meio disto tudo o que me surpreende são os progenitores destas quase crianças, que vivem as suas vidas descansados sem realmente perceberem o que lhes pode surgir em casa.
Imagino que as hormonas nestas idades estejam aos pulos e aos saltos, mas caberá aos educadores ensinar e quiçá controlar os impetos sexuais destes adolescentes, de maneira a não terminarem em dramas e tragédias familiares.
Hoje, perto das cinco da tarde, estava eu bem estendido na areia da praia quando escutei esta frase meio perdida:
- … Aproveita agora… porque quando chegares aos quarenta, sexo?... Já era!
Esta conversa tirou-me do sério de tal forma que me ergui da minha confortável esteira arenosa e tentei perceber quem proferira aquela ideia. Encontrei então um conjunto de jovens, todos com idade para serem meus filhos. Desculpei a idiotice da afirmação.
Todavia como as palavras que vou escutando não caem em saco roto, eis-me aqui a falar de um assunto que pouco abordo neste blogue, talvez por nunca se ter proporcionado: sexo!
Tirando algumas franjas mais radicais, mais velhas ou mais retrógadas, certo é que este tema deixou há muito de ser um tabu na nossa sociedade. Temos todos mais ou menos consciência de que o sexo é tão essencial ao bem-estar humano como uma fantástica refeição, uma boa conversa com amigos (todos com máscara, obviamente!!!) ou um exemplar momento de cultura.
Até por aqui na blogosfera este assunto é tratado com a naturalidade que merece, mesmo que alguns casos haja alguma fantasia. Basta passarem por aqui ou por aqui para perceberem o que estou a escrever…
Quando era jovem lembro-me que este tema não era usual falar-se como se falava de futebol, música ou de um livro. E reconheço que eu próprio tinha do sexo uma visão quase satânica. No entanto fui entendendo que o sexo era algo bem diferente do que me queriam impingir. Mais… naquele tempo achava mesmo que o sexo seria somente destinado aos mais novos... Provavelmente e por me lembrar desta minha antiga visão, quase ingénua, é que desculpei aqueles jovens.
Posto isto diria então que o sexo actualmente não tem idade. E se julgam que com os anos perdem o líbido… desenganem-se. E quem vos diz não é um médico psiquiatra ou um psicólogo vanguardista, mas somente alguém com 61 anos e que ainda adora estar com a mulher. E sei que não sou o único que preferem as companheiras às externas!
Não é que não aprecie uma mulher bonita ou formosa, nada disso. Acho até que as mulheres portuguesas são hoje mais bonitas que antigamente. Mas a ideia de estar com alguém que não seja a minha mulher surge-me como altamente improvável.
Também é verdade que não somos um casal comum quando se fecha a porta do quarto (agora nem fechamos, já que estamos sozinhos!!!), mas quiçá por isso mesmo olhamos actualmente para o sexo como aquela especialidade gastronómica que adoramos fazer, mas que dá algum trabalho.
Finalmente não há desculpas para a idade. Perguntem ao Eça!
Não obstante a minha (quase) provecta idade olho para o sexo com normalidade e naturalidade. Reconheço que nunca fui um puritano e aproveitei todas as oportunidades que a vida me ofereceu, especialmente enquanto fui solteiro (e mau rapaz!!!).
Também assisti a alguns eventos que envolveram sexo. Uns de forma voluntária, mas a maioria involuntariamente. A este propósito terei estado, por assim dizer, em locais errados à hora inconveniente… Ou talvez não.
Seja como for tenho para com o sexo uma opinião muito própria: este deve ser feito na intimidade do casal de forma livre e descontraída e nunca, repito nunca, em ambiente publico. Então no sítio onde se trabalha muito menos.
Curiosamente foi nalguns locais de trabalho por onde passei que dei conta de coisas que não devia e fui testemunha de intimidades que não deveriam ser efectivadas no sítio onde se ganha o pão, repito. Creio que esta minha ideia também não deverá ser considerada caretice, mas tão-somente bom-senso pertencendo à lei geral de urbanidade e civismo. Digo eu...
Falo obviamente com a propriedade que 35 anos de casamento com uma colega me dá. É que durante todo este tempo nunca ultrapassámos o limite da decência dentro da empresa. Era o que mais faltava…
Trago aqui este assunto porque hoje no prédio onde trabalho apanhei um casal de jovens em atitudes menos próprias numa escada às escuras. É certo que o entusiasmo entre ambos era tamanho que nem deram pela minha chegada silenciosa. No entanto pareceu-me impróprio e inadequado.
Contudo nada lhes disse. Senti que a vergonha de serem apanhados em flagrante terá sido suficiente para ambos.
Reconheço que a juventude traga as hormonas à flor da pele, mas libertarem-se delas num vão de escada, foi um risco mal calculado que não correu pior porque fui eu a apanhá-los.
Bastava que tivesse sido o segurança do prédio a surpreendê-los e provavelmente as coisas fiariam mais fino.
Não obstante a minha fé e a minha crença religiosa assente na igreja Católica, consigo não ser seguidista ao ponto de concordar com toda a doutrina da Igreja. Só para dar um exemplo acrescento que sou a favor do casamento dos padres católicos. Se o Vaticano abrisse a mente a esta ideia com toda a certeza que muitos casos de pedofilia e assédios sexuais que fomos tomando conhecimento, deixariam de existir. E provavelmente não se perderiam tantas vocações. Eu conheço vários casos!
Outra ideia com a qual não concordo e da qual a igreja não abdica é de que o casamento sob a sua alçada e concordância deverá ser para sempre “até que a morte os separe”. Eu vejo as coisas de forma um tanto diferente. O casamento não deve ser um contrato vitalício desde que uma ou ambas as partes não o desejem. Parece-me mesmo uma violência alguém viver com outra permanentemente infeliz só porque o casamento religioso a isso obriga. Não creio sinceramente que seja isso que a igreja preconiza.
Estou muito à vontade para falar neste assunto até porque já sou casado há 33 anos, o que nos dias que correm parece já ser uma anormalidade e espero continuar. Ainda não me arrependi.
Posto isto avanço para o que aqui me trouxe hoje e que se prende com alguns desmandos masculinos. Especialmente em homens cuja força da Natureza está longe de ser a que foi. Estranho por isso que um homem casado há muitos anos, troque a sua cônjuge por uma mulher na maioria muito mais nova que ele, chegando mesmo ao ponto de ter idade para ser sua filha.
Esta atitude, todavia, não é nova. Nada mesmo! E tenderá a ser cada vez pior tanto mais que há cada vez mais homens velhos que se perdem por um qualquer “rabo de saia”.
O que me leva a pensar que, ou os homens julgam que atrás do comprimido rosa está a virilidade perdida há muito, ou que ainda se sentem fisica e intelectualmente capazes e pujantes de grandes aventuras amorosas. Provavelmente nenhuma das duas estará correcta. Mas cada um julgará por si!
Ainda há pouco soube de um amigo que “substituiu” a sua esposa por uma mulher vinte anos mais nova que a legítima. Fiquei incrédulo! Porquê? Para quê?
Resumindo há uma outra questão que se impõe: o que é que eles estão à espera que (lhes) aconteça?
Fui ao supermercado comprar uma couve-flor para o meu almoço. Escolho-a, coloco-a num saco e dirigo-me à caixa onde já se encontra um homem que percebo que tem alguma idade.
A canadiana está encostada ao pequeno balcão que também tem uma série de compras. Aproximo-me, mira-me e percebe que só tenho a couve-flor para pagar. Entabulámos então este diálogo:
- Passe para a frente. Só tem isso.
- Deixe estar. O senhor está à minha frente.
- Não senhor, passe se faz favor. Eu tenho muito tempo.
- Também eu - respondi.
- Mas passe que eu tenho muito tempo - insistiu.
Tentando não desiludir o idoso, passei à frente dele e aguardei que a cliente, agora à minha frente, pagasse as compras. Entretanto:
- Já sou velho e tenho muito tempo - continuou o velhote.
- Não parece...
- Se chegar amanhã (estranha forma de contar o tempo!!!) faço 95 anos.
Admirei-me da lucidez e retorqui:
- Bonita idade...
- É não é? Mas sabe do que tenho pena ao ser assim velho?
- Não imagino...
- É disso aí...
E apontou com o queixo a jovem que estava na caixa.
Só pude rir. Com 95 anos e o que aquele idoso mais sentia falta era da companhia feminina.
A minha já quase provecta idade, a minha educação e formação cívica e até a minha fé não são, ainda assim, inibidores de ter conversas que aborde com a devida naturalidade a sexualidade do ser humano.
Trago aqui este tema porque há muito a minha cabeça vem pedindo para ser falado (leia-se escrito). Porém, porque há outros assuntos mais prementes foi sendo sempre assunto adiado. Mas agora vamos atacar a fundo.
Sempre achei, por exemplo, que uma grande diferença de idades entre homens e mulheres não é razão para não haver uma relação próxima e efectuosa. Tal como do mesmo sexo. Ainda por cima hoje em dia isso parece ser já uma evidente normalidade.
Basta ver o caso do Presidente Francês, Emanuel Macron para se perceber que o amor não escolhe idades. Da mesma maneira que a relação entre um homem mais velho e uma mulher muito mais nova não me cria qualquer prurido. Tenho até na família um caso em que um tio-avô acabou por ter uma relação com uma mulher quase meio século mais nova. E dessa relação nasceram três filhos.
Portanto sou assim um homem aberto à diferença desde que esta não colida com a liberdade de opção de cada um.
Mas se sou assim “open mind” isso não invalida que não olhe para algumas atitudes e as critique com veemência. É o caso das relações amorosas nos locais de trabalho.
Compreendo que estar oito ou mais horas ao lado de alguém possa, obviamente. criar uma efectuosidade muito próxima. Todavia esta proximidade não pode ou não deve ser levado ao extremo de, no próprio local de trabalho, se demonstrar essa amizade colorida ao ponto de num vão escuro de uma escada ou num qualquer arquivo se consumar um acto sexual.
Ainda por cima quando há tantos hotéis e pensões espalhados pelas cidades.
Parece-me de muito mau gosto e de uma promiscuidade a roçar a libertinagem. O que não deve ser, de todo, aceitável.
Tristemente, tenho sempre a sensação que estes casos carregam consigo outros interesses e outros sentimentos, de parte a parte. O que ainda piora a situação.
A sociedade está cada vez mais flexível para a vida, mas esta flexibilidade nunca deve colocar em causa o bom nome da empresa, sob o risco de cair num ridículo, perfeitamente evitável.
Como se pode falar ou escrever sobre sexo sem ser vulgar, perguntava-me há tempos uma amiga.
Pois bem, ontem vi um filme que consegue responder à questão, duma forma natural e sem subterfúgios. Chama-se “The Sessions” tendo sido traduzido para português como “Seis Sessões”.
O filme e a história baseia-se em relatos verdadeiros de um jornalista, Mark O’brien (John Hawks) profundamente católico, vítima de poliomielite e que o atirou permanentemente para uma maca e um pulmão de aço.
É neste mundo limitado, que Mark procura uma terapeuta do sexo (Helen Hunt) e com quem combina seis sessões.
Um padre (William H. Macy), surge também neste filme como a voz duma consciência avalista dos seus actos e pensamentos.
Um filme onde o sexo é tema central, mas tratado duma forma tão simples, tão carinhosa e tão doce, como nunca tive oportunidade de ver.