O nosso corpo físico necessita de ingredientes para poder laborar, para que possamos ter as nossas funções todas activas. De uma forma natural devemos fazê-lo com cuidado, sem exageros que estes sempre trazem estranhas consequências.
Só que todos nós temos outros tipos de alimentação. Por exemplo como se alimenta aquele coração que salta quando vemos alguém de quem gostamos ou de que se alimenta o nosso espirito, quantas vezes rebelde?
A resposta para a questão está muitas vezes, diria que na sua maioria, nas coisas mais simples que nos rodeiam: um sorriso, uma festa, um simples cumprimento.
Hoje empaturrei-me destas coisas boas porque juntei os meus três netos ao almoço. As brincadeiras em que me vi envolvido, as risadas e até as desarrumações fizeram de mim, esta tarde, um avô mais gordo.
Na minha idade já não procuro sentido para a minha vida, unicamente vida com sentido. Os dias correm uns atrás dos outros e eu apenas tento que cada um desse conjunto de 24 horas seja vivido, partilhado, assumido na plenitude.
Esta Páscoa não teve a concorrência familiar de outras, mas foi o que se pode arranjar. Gosto da mesa cheia de gente barulhenta, mas alegre. Como são todos cá em casa.
Meia dúzia foi a conta de hoje. Os outros longe daqui!
Sou um homem de afectos. Durante muitos anos reprimi aquilo que sentia pela família e pelos amigos. Depois um acontecimente na minha vida fez-me acordar para outra realidade e passei a não ter vergonha dos meus sentimentos.
A ideia absurda de que um homem não chora, em mim jã não colhe. Choro de tristeza (muita vez!), mas também choro de alegria (gostaria que fosse mais!).
Vou deambulando, devidamente mascarado, pelas ruas desertas da cidade e pergunto-me como ficaremos depois desta pandemia? Que relações sobrarão ou de que forma aquelas serão evidenciadas?
Os abraços, os beijos, os afagos e os carinhos voltarão a ser o que sempre foram?
Tanta pergunta que me assalta o espírito. Tantas dúvidas que crescem no meu coração.
E no fim fica a simples dúvida se valerá a pena tanto sacrifício para amanhã percebermos que fomos todos infectados e sem saber como! De que valeu então o afastamento ou o confinamento?
Recordo que no início desta pandemia, um médico especializado nesta área de vírus dizer que o melhor que deveria acontecer ao mundo seria sermos todos infectados. Só assim se imunizavam as pessoas.
Obviamente que morreria muita gente, assumiu o tal especialista (tal como está a acontecer), mas seria a forma mais fácil de combater esta doença. E quiçá mais barato… digo eu!
No entanto percebo que ninguém se queira arriscar a infectar-se de propósito pois o resultado pode ser catastrófico. Conheço alguns tristes exemplos!
Todavia regresso ao início deste texto: como ficaremos no dia seguinte ao fim da pandemia?
Após a decisão dos sócios em retirarem BdC do seu lugar, democratica e eleitoralmente conseguido em 2017, creio ser tempo de aqui tentar explicar qual a minha relação de mais de meio século com o Sporting.
Já o escrevi que sou do Sporting por influencia do meu pai... e não só. O meu tio e padrinho levou-me também e muitas vezes a Alvalade. Depois com o tempo e com as ligações com colegas e amigos este gosto ficou para sempre preso ao meu coração e à minha alma.
Um dia achei que poderia vir a ser um bom atleta e literalmente corri atrás do sonho. Mas quanto mais corria mais se afastava esse sonho.
Desci então à terra e passei a olhar o Sporting somente como adepto e mais tarde como sócio. No antigo estádio de Alvalade, no Restelo, no Lavradio no velho campo da CUF, no Bonfim em Setúbal ou mais recentemente no Estádio José Gomes na Reboleira. Em todos eles vi o Sporting jogar, com diferentes resultados.
De 1982 a 1999 foram 17 anos sem este clube ganhar um campeonato. Todavia sempre que começava uma época lá esfregávamos as mãos para dizer: este ano é que é. Mas nunca era. De tal forma que os nossos adversários até glosavam a situação.
Depois em três anos o Sporting foi duas vezes campeão. Parecia que o mal havia passado e o clube ganhara pujança e estaleca para o futuro.
Mas o Sporting volta a cair. E acaba por se arrastar durante anos. Com diferentes presidentes, com diferentes posturas e visões para o clube. Até que aquele 7º lugar na classificação acordou as gentes leoninas do marasmo entregando num acto eleitoral os destinos do clube a BdC.
Quase todos gostámos do que vimos a seguir. BdC não temia os adversários e a determinada altura passou a ser quase um herói. Um mandato onde reorganizou as contas e o clube, cativando sócios, conseguindo trazer a Alvalade milhares de adeptos.
Era este o Sporting que wueríamos...
Só que veio o segundo mandato e de repente... tudo se esfumou. BdC passou a disparar contra tudo e contra todos quase sempre de forma irracional. Passou com demasiada frequência recados através das redes sociais com as consequências que hoje todos nós conhecemos.
Mas o pior... ainda estaria para vir. O veneno que BdC espalhou por algumas cabeças é ainda evidente e após o resultado de ontem, a divisão entre sportinguistas nunca foi tão evidente.
O agora destituído Presidente conseguiu, em poucos meses, destruir muito mais o Sporting que os nossos adversários em muuuuuuuuitos anos. E pior... Ao dizer que ao sair do Sporting, entregará o cartão e que nunca mais será adepto deste clube só prova que o seu amor pelo Sporting era efémero e destituído de qualquer sentimento verdadeiro.
Eu, ao invés de BdC e independentemente do que possa vir a acontecer num futuro mais ou menos breve serei sempre do Sporting Clube de Portugal. Jamais entregarei o cartão de sócio por que os Presidentes passam e o clube, de uma forma melhor ou pior, ficará até depois da minha morte.
Há trinta anos, mais ou menos por esta altura do ano, estive entrevado no Hospital. Febres altíssimas, dores horríveis e sem ninguém para perceber o que eu tinha.
Nessa altura o meu filho mais velho tinha meses de idade. E de toda a gente que me rodeava foi daquele pimpolho que tive mais saudades. Nesses dias de internamento percebi muita coisa na minha vida e passei a dar valor a aspectos que antigamente quase me passavam ao lado.
Sempre fui uma pessoa alegre, bem disposta, de tal forma que onde eu chegava ninguém ficava triste. Ainda hoje sou um pouco assim, quiçá de forma mais moderada.
Mas daqueles dias tenebrosos e de uns outros que alguns mais tarde enublaram a minha vida aprendi a dar mais valor aos meus sentimentos e aos dos outros. Já perdi a vergonha e hoje estou muito confortável nesta minha maneira de estar e ver o mundo.
Deste modo sou hoje um homem de lágrima fácil e adoro abraçar os meus amigos e dizer-lhes quanto gosto deles e os estimo. Da mesma maneira que o digo aos meus filhos, à minha mulher ou aos meus pais. E é tão fácil sermos carinhosos com quem gostamos.
Há quem sinta vergonha por sentir ou por expressar as suas verdadeiras emoções (geralmente só o fazem quando se zangam, porque aí… é normal). Há muito que me deixei desses pruridos. Há muito que assumo o que sinto por quem merece. Há muito que deixei de bajular quem não gosto… só por interesse pessoal.
Podem considerar esta minha atitude uma imbecilidade, mas sabem uma coisa? Gosto de ser assim… porque os meus amigos mesmo que estejam longe, sei que estão lá. E para mim isso basta e deixa-me imensamente feliz.
Quando vi este quadro em Viena nem acreditei... "O Beijo" de Gustavo Klimt? Não podia ser...
Mas era!
Esta belíssima imagem pintada pelo grande mestre austríaco não vale só pela técnica e beleza das cores e formas, mas acima de tudo pelo... gesto. E que gesto...
O beijo é, na minha modesta opinião, o mais singular, mais genuíno e a mais pura demonstração de sentimentos por parte do ser humano. Nele pode-se condensar tudo: amizade, carinho, ternura, paixão, amor. Até alegria e felicidade.
Se o beijo de mãe ao seu filho é deveras belo e pictórico mais bonito é o beijo duma avó ao seu neto. Dado assim, sem razão aparente, unicamente por ser ser avó. São sempre breves os momentos de profundíssima ternura. Mas claramente intensos...
É uma oferta e um desejo. Uma esperança e um delírio. Uma realidade e um sonho.
Tudo misturado num só gesto.
O beijo... esse tradutor físico de sensações e desenganos. Todavia perfeito!
Já aqui referi que as sociedades estão profundamente mudadas. E a série televisiva que melhor demonstra estas alterações chama-se "Shameless" que ultimamente é apresentada num canal por cabo.
Os valores totalmente invertidos perante uma sociedade muito assente (em demasia!) numa cultura judaico-cristã, transformam-se também muitas vezes em momentos de enorme ternura.
Um dos episódios de hoje mostrou isso mesmo: carinho e ternura. Entre um homem pai de uma série de filhos, todavia irresponsável e alcoólico e uma menina abandonada pelo próprio pai, no momento em que soube da doença da filha. Sem qualquer relação de parentesco entre ambos a cena passa-se no hospital e estão deitados nas suas camas lado a lado. Ele fala com a menina como se fosse a filha que nesse mesmo instante acabara por ser presa. A menina aceita a confusão e responde como se o doente à sua beira fosse o próprio pai.
De mãos dadas a cena pode parecer um tanto "chiché" mas é a prova de que o mundo ainda tem alguns valores. Desde que seja o coração a mandar!
E há por aí tanta gente com medo de demonstrar o que sente...