Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

LadosAB

Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

Dezembro... o mês das emoções!

Hoje é o primeiro dos últimos! O primeiro dia do derradeiro mês do ano de 2023.

Mas é outrossim o mês do Natal, que deveria, repito deveria, ser uma época de alegria, de partilha e acima de tudo de... Paz!

- Paz num Mundo que não pára de se guerrear;

- Paz nos corações dos soldados da vida;

- Paz nos espíritos permanentemente rebeldes;

- Paz nos dias que vamos desfolhando em cada folha de calendário.

O Dezembro é para os católicos o mês do Advento. Um mês de um novo ano litúrgico e que nos remete para a nossa vida resumida nos passos que demos, nas palavras que (mal ou bem) proferimos, nos gestos que assumimos.

Um mês de alegria infantil com a luz, embrulhos, enfeites e mais uma panóplia de artefactos que enchem os nossos olhos.

Dezembro... o mês da consciência de que vivemos num planeta recheado de contradições e perante as quais somos totalmente impotentes para as reverter.

Finalmente não esqueçamos os desvalidos sejam eles sem-abrigo, idosos ou simplesmente gente que vive a vida no limite da incerteza.

O último mês do ano... Dezembro! Um mês de emoções... Todavia nem sempre pelos melhores motivos!

A gente lê-se por aí!

35a9m25d - #9

Sem-abrigo sim… sério também!

Imagine-se um sem-abrigo de roupas rotas e sujas, barba de muitos dias, mãos mais negras que a própria terra, voz rouca e cavernosa, mente descompensada. Pois… para além da imaginação, este ser existiu e foi protagonista de uma das estórias mais incríveis que me aconteceram, mesmo que no final nem pareça um caso por aí além!

Todos conheciam o Jusoé (nunca soubemos o verdadeiro nome dele, mas era por este epiteto que o tratávamos!). Independentemente do seu estado e situação sempre foi educado, muito educado.

Naquele tempo uma série de notas portuguesas estavam a sair de circulação, essencialmente notas de 20, 50 e 100 escudos. Estas últimas homenageavam três diferentes escritores, a saber: uma com a figura de Camilo Castelo Branco, outra com a de Bocage e a mais recente com a de Fernando Pessoa. As de 50 escudos tinham a figura da Infanta D. Maria.

Uma das minhas funções na caixa foi trocar estas notas, já em desuso, por dinheiro corrente. O que naquela altura equivalia a substituir papel por moedas já que haviam entrado em circulação as moedas e 100 e 200 escudos, para além das de 50 que já existiam havia algum tempo.

Entretanto o nosso amigo Jusoé tinha, por vezes, a estranha mania de querer as notas velhas, dando-nos em troca as moedas correntes. Ora como sabíamos que o sótão daquele cavalheiro era uma confusão, nunca lhe negávamos um pedido.

Naquele dia lá me apareceu ele, de negro vestido que nem tição queimado. Ou porque a roupa o era escura ou porque estava deveras suja. Aproximou-se como sempre da beira do balcão e naquela sua voz rouca e quase gutural, pediu:

- Bom dia… arranjava-me umas notitas do Fernando Bocage?

Percebi o erro, mas não o emendei. Peguei no dinheiro que me entregou e devolvi-lhe as notas velhas.

- Aqui tem…

- Obrigadinho… - e partiu contente.

No fim do dia, ao fechar a caixa, percebi que me faltavam 50 escudos. Refiz as contas e o saldo mantinha-se negativo. Acertei o saldo com dinheiro meu e fechei a caixa.

Estaria, no entanto, guardado para o dia seguinte a maior surpresa. Nesse dia, a meio da manhã entrou novamente o Jusoé pelo balcão, dirigiu-se à minha caixa e entrega-me de supetão uma moeda.

- Ontem fiquei com este dinheiro a mais…

Espantado com a atitude daquele sem-abrigo ainda escutei Josué dizer enquanto me virava as costas e saía:

- Desculpe-me…

Será que só eu é que assisto... (IV)

Todos os dias me cruzo com um homem, provavelmente da minha idade. Tem o cabelo cinza, barba por aparar, calça umas sandálias gastas e veste um casaco que invarialvelmente coloca por cima das costas.

Todos os dias vejo-o a puxar um pequeno cesto de compras com rodas (primórdios dos troles?). Tem o aspecto triste de quem vive na rua mas aquela cara não em é estranha. Tenho quase a certeza de o ter visto algures na minha vida noutro local.

Todos os dias penso em escrever algo sobre este sem-abrigo. Esta manhã aguardava eu que o sinal passasse a verde quando reparo que atravessa a avenida sem quaisquer cuidados com os carros. Pára junto a um caixote do lixo e espreita. Está a um metro de mim. Consigo perceber o interesse naquele espaço. Larga o carro, enfia o braço e retira uma pequena caixa de piza. Abre-a e esta quase cheia com fatias. Fecha-a e coloca no seu cesto e parte para a sua volta.

Todos os dias será esta a sua sina? Procurar no lixo algo para comer? Neste país?

Solidariedade anónima!

Gosto de ir àquele local comer. Sereno, calmo e com umas tostas em pão alentejano fantásticas. As sopas também são (muito) saborosas.

Hoje fui lá almoçar. A costumada tosta, bem passada, a bela sopa e um café!

Na avenida o trânsito flui com relativa normalidade. No passeio duas mesas e respectivas cadeiras onde nos podemos sentar ao ar livre. No entanto prefiro o recato do interior mesmo que seja, por opção, ao balcão.

Surge da rua um homem com alguma idade. Cabelo grande, barba e bigode em desalinho. Veste uma espécie de gabardine cinza. Parece ser um sem-abrigo dos muitos que calcorream a cidade. Mostra-se à porta do estabelecimento.

O patrão sabe ao que ele vem e pergunta-lhe se quer sopa. Não oiço a resposta mas vejo o prato fundo a ser carregado com conchas repletas. E um pão.

Tudo servido como se de um cliente pagante se tratasse. Individual de papel, pão num pires, guardanapo e colher. Tudo colocado na mesa com o respeito a que tem direito.

O homem come o pão misturado na sopa quente e no final vem à porta agradecer, quase em surdina. E parte!

Gestos que me comoveram. Não foi só a sopa posta ao dispor do homem, de forma graciosa mas a maneira como aquele sem abrigo foi tratado. Com todo o respeito!

Num mundo tão economicista, tão pouco preocupado com o ser humano, tão absorvido nas suas idiotices, observar estes gestos mostra que há quem respeite e perceba que a vida tem muitas curvas e demasiadas lombas e nem sempre é uma linha recta.

Este foi um perfeito exemplo de solidariedade anónima!

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Os meus livros

Des(a)fiando Contos
Quatro desafios de escrita

Os Contos de Natal

2021
2022

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D