O primeiro Pôr-de-Sol que assisti na Ilha das Flores em... 2018! Na Fajã Grande eram 21 horas e 32 minutos.
Um momento único... que me fez sentir pequeno perante a imensidão daquele mar, céu, nuvens, sol e grande perante a alegria de poder assistir a este singelo instante.
Já falei por diversas vezes neste espaço sofre a desconfiguração da Baixa pombalina da capital.
Quem, como eu, ali trabalhou tantos anos sente que aquele centro citadino deixou de ter o charme, a beleza e acima de tudo a vida humana que caracterizou a Baixa durante uma enormidade de anos.
É verdade que o turismo voltou à cidade de Ulisses, após muitos meses de inactividade, mas ao mesmo tempo deixei de ver as lojas que foram referência na minha vida.
Lembro aqui algumas:
Old England, Casa Africana, Central da Baixa, Casa das Limonadas, Palmeiras, Camisaria Moderna, Loja dos Pneus, Restaurante Vitória, A Regional e tantas outras casas ora substituídas por restaurantes de comida luso-italiana ou "fast-food".
Muitos hotéis, muitas lojas de bujigangas na maioria sem graça nem qualidade, muitos bares, enfim muito nada!
Curioso é que numa altura de autárquicas só vi o PCP em acção de campanha. No largo do Intendente!
No dia 1 de Agosto quando oficialmente fui reformado atirei-me à lista telefónica do meu telemóvel e apaguei todos os contactos que tinha de trabalho.
Bom para dizer a verdade não foram todos, excepturam-se alguns, mas de gente que sempre foi mais amiga que colega. Ainda assim limpei 99 números de telefone.
Esta tarde recebi uma mensagem no Whatsapp com a seguinte frase: "Amigo, não imaginas as saudades que tenho tuas, a falta que me fazes!!!".
Acabei por trocar uma série de mensagens e nem nos despedimos formalmente, já que a pessoa em causa estava a trabalhar e eu... a comer castanhas. Também não necessitamos.
Mas chegada a noite bateu uma estranha saudade e por causa desta fui reler a nossa conversa desta tarde. Retive-me então logo na primeira frase que me deixou por fim emocionado e feliz.
"Valeu a pena!" , pensei para mim.
É sempre bom quando temos a consciência que não fomos esquecidos. E pelas melhores razões.
Não pelo dia de calendário que esse é amanhã, mas pelo dia da semana.
Era um Domingo frio. E ainda ficou mais frio quando o meu filho me chamou à garagem para constatar uma evidência que eu já sabia que haveria de acontecer, mais dia menos dia.
Nada temos na vida como garantido a não ser o nosso passado e a morte. Mas quando a Ceifeira leva quem nos preenche fica a dor, a tristeza e uma incapacidade de lidar com o impossível.
Faz hoje um ano que a Lupi adormeceu para sempre.
Mesmo depois deste tempo decorrido ainda não me habituei à tua partida.
Diz o povo na sua profunda sabedoria: quanto mais conheço os homens mais gosto dos animais!
Porque concordo com esta máxima popular é que senti muito e ainda sinto a partida da minha idosa cadela. Todavia fui incapaz de escrever uma bonita homenagem à minha amiga. Faltou-me claramente competência.
Mas houve alguém que o fez, num texto longo, emotivo mas carregado de grande realidade e que podem ler aqui.
Faz hoje precisamente 10 anos que partiu um homem fantástico.
Foi uma pessoa boa, amigo do seu amigo, que adorava a família e com quem aprendi muito.
Acima de tudo com a sua forma de estar na vida. Combativo quando achava que tinha razão, ia até ao fim numa luta sem nunca perder a compostura e a noção do razoável.
Fui tristemente testemunha das suas últimas palavras.
Morreu em paz como um simples círio cujo pavio desaparece, mas rodeado dos mais próximos.
Deus teve misericórdia dele e levou-o para ao pé de si sem dor sem sofrimento.
Há 10 anos tive que vestir um defundo pela primeira vez. Ainda por cima o meu sogro e bom amigo J.
Porque a vida nem sempre nos dá o que desejamos mas sempre o que necessitamos, aquele fim de tarde início de noite ficou gravado no meu espírito para sempre.
Obrigado por tudo o que me ensinou, pela mão amiga sempre estendida para ajudar, pelo carinho sempre demonstrado.
Acabei de chegar do Aeroporto da Portela, onde fui buscar um familiar.
Estava eu simplesmente à espera quandoo me lembrei de um texto, acerca deste mesmo local, por mim escrito e publicado há quase quarenta anos.
Do que eu ainda me lembro desse texto, as únicas grandes diferenças são... físicas, isto é, as actuais instalações são amplas e repletas de pequenas lojas, prontas a prestar serviços a preços pouco convidativos.
Todavia os sentimentos são os mesmos daquela época. Os abraços, os beijos, os risos e os choros de contentamento de quem chga e dos que estão, parecem não ter mudado. O que prova que o mundo ainda é algo misterioso, Mesmo após tanto tempo a palavra saudade mantém o mesmo valor de antigamente (sem direito a desvalorização).
Hoje (re)visitei um velho restaurante onde tantas e tantas vezes matei a fome. Naquele tempo a Baixa Pombalina tinha mais portugueses trabalhadores que turistas e era ver o restaurante quase sempre a abarrotar. Especialmente ao balcão.
E foi aqui que fui hoje... almoçar. O balcão é o mesmo mas a paisagem humana muito diferente. E não só. Os pipos de madeira donde jorrava o vinho espumoso foram substituídos por umas caixas de papelão com torneiras de plástico. A montra de vidro ainda lá se encontra mas as sandes não. E havia-as lá de tudo: de ovo, panado de fiambre, sandes de cabeçab de porco, de queijo fresco, de atum... eu sei lá que mais!
E depois podia-se misturar tudo. E havia misturas mirabolantes. Bastava que solicitássemos e na altura saia a sandes à nossa maneira. Outra curiosidade é que os empregados chamavam-se todos Manuel. Mas o que mais caractrizava aquele espaço de repasto era a sopa. A Cartaxense... como lhe chamavam. Um caldo à moda antiga onde a colher quase ficava na vertical.
Ao balcão atendeu-me uma senhora que me deu uma sopa a meu pedido. Estava boa mas a da velha e gorda Joana era bem melhor! Já não havia sandes de tudo e por isso pedi uma mera e vulgar bifana. O vinho saíu do tal pacote sem graça nem gosto.
Já não havia o barulho de dezenas de clientes. nem dos empregados a pedirem coisas para a cozinha,
Finalmente pedi a conta, paguei e pus-me a caminho. E pensei como ainda há quem diga que está tudo na mesma. Tenho a certeza que não.
Já sabia da sua partida em busca de melhor vida, de novos desafios. Mas custa sempre ver alguém sair de Portugal, porque... este país não é suficientemente ambicioso.
Costuma dizer de si própria que tem mau feitio. Mas se mau feitio for sinónimo de insatisfação com o "status quo" e com incompetências então também eu tenho mau feitio...
Talvez por isso nos tornámos amigos para além de colegas. Ambos sabemos que o mundo não é pintado de cor-de-rosa e nunca recusamos dizer o que pensamos mesmo que isso nos traga dissabores.
Abandonar este sol e este tempo cálido por chuva frio e neve não é para todos. Que a sorte, saúde e esperança lhe sorriam!