Daqui a menos de uma hora entramos verdadeiramente na filosofia de Verão. Aproximam-se os santos populares e as festas nas aldeias que começo a perceber são cada vez menos, porque ninguém quer ter trabalho e despesa!
Os artistas são caros, o foguetório quase proíbido, os recintos sem condições. Tudo razões para nada se fazer nem organizar!
Vivemos assim tempos anormais com a juventude também a fugir para outros divertimentos deixando as aldeias desertas. E não fosse em algumas a carolice dos mais velhos daqui a tempos só haveria festas nas grandes vilas e cidades.
Nem mesmo o estímulo religioso sempre associado às festividades populares se tornou chamariz, bem pelo contrário já que há cada vez menos crentes.
Numa rede social uma junta de freguesia publicita um cartaz da última festa realizada na aldeia, assumindo a dificuldade em encontrar quem queira colaborar, talvez na tentativa de que alguém se chegue à frente. Mas pelo que percebi até agora ninguém apareceu!
Enfim Portugal definhou com o confinamento, mas parece que ainda não saiu dele... Temo mesmo que nunca mais descolará desse marasmo!
A verdade é que nasci em Lisboa há séculos e nunca, nunca fui a uma festa lisboeta dos Santos Populares. Pode parecer impossível, mas é a pura das verdades.
Quando era novo não vinha do lado de Almada, onde morava, para Lisboa já que na cidade de Frei Luís de Sousa também havia festividades. Não é o Santo Padroeiro da capital mas é o S. João.
Depois de casado também nunca encontrei o chamamento para me embrenhar em ruas e ruelas apinhadas de gente, na maioria alccolizados, onde uma sardinha custa os olhos da cara e onde me arriscaria a sair sem carteira.
Por tudo isto e provavelmente muitas outras coisas que não sei identificar é que se passou mais um Santo António e eu em casa.
Há uns anos fui passar férias ao Algarve, como qualquer bom português que se preze.
Os meus miúdos eram pequenos, a escola havia acabado e o preço do alojamento mais barato. Assim aproveitei o final de Junho e início de Julho para gozar 15 dias de férias no "reino dos Algarves".
Cheguei a um sábado e logo nesse dia tentei inteirar-me da logística do local no que respeita a refeições já que estava preparado para confeccionar no apartamento.
Soube que o pão era vendido à entrada do empreendimento turístico de manhã cedo. No dia seguinte que era Domingo e levantei-me para ir buscar o dito pão. Ao portão encontrei diversas pessoaas que aguardavam também o padeiro.
O dia acordou sombrio, triste, cinzento. Se bem que não estivesse frio, estranhei aquela frescura da manhã. A carrinha apareceu e lá comprei o pão que achei suficiente. Mas tive de perguntar maiss a brincar que a sério:
- Mas que tempo é este aqui no Algarve? Vem uma pessoa de tão longe para passar férias ao Sol e apanha este tempo.
O padeiro teve logo resposta:
- Isto é a brandura do S. Pedro que é para apanhar os tremoços.
E partiu sem dizer mais nada.
Como sei a forma de colher os tremoços percebi automaticamente aquelas palavras.
Curiosamente lembrei-me este fim de semana, daquelas palavras algarvias, tal esteve o tempo por aqui!
Só que desta vez a brandura não foi do S. Pedro mas do S.João!
Lembro-me como se fosse hoje o que eram os Santos Populares no meu tempo de juventude: fogueiras na rua… alegria… balões… gente que passeava calmamente, rindo e brincando.
Hoje os mesmos Santos Populares comemoram-se em restaurantes típicos com sardinhas a preços que nem a tróica aprova. Depois há os carteiristas, que no meio da confusão de tanta gente nas estreitas ruas vão rapinando mais carteiras que o Estado nos retira em impostos todos os dias.
Ainda me recordo dos miúdos a pedirem um tostão para o Santo António tal qual como no filme O Pátio das Cantigas com Vasco Santana.
Adorava de voltar a sentir esse tempo e essa sensação de… liberdade, não obstante vivermos em tempo de ditadura. Hoje que vivemos supostamente em completa liberdade, tenho medo de sair à rua mais que uma certa hora. Ando no Metro sempre receoso de chegar à estação sem a carteira ou o telemóvel.
Nos restaurantes de antigamente de bancos corridos e toalhas de plástico aos quadrados, vinham os pratos para a mesa mal lavados e nós com os guardanapos acabávamos por limpar o resto. Ninguém morria por isso e até a comida sabia melhor…
Actualmente temos autoridades, que ainda não sei bem se já fizeram alguma coisa, que não fosse prejudicar quem anda a lutar pela vida de forma honesta. Eles são toalhas de papel, copos todos especiais, condições para a cozinha tal e qual um restaurante fino.
Por tudo isto já não saio de casa.
Para quê? Pelo menos cá dentro a ASAE não põe os pés.