Portugal entre duas ditaduras
Durante perto de meio século, Portugal viveu debaixo de uma ditadura que nos deixou “orgulhosamente sós” perante a Europa e o restante Mundo. O país não evoluía, não saía de um marasmo triste e bacoco mesmo com a estúpida opção de aceitar uma guerra colonial que estava, desde a sua génese, destinada ao fracasso.Nesse tempo os nossos políticos não souberam alertar convenientemente Salazar para os perigos desse isolamento. Conta-se mesmo que certa vez alguém muito próximo do antigo “Presidente do Conselho” falou-lhe em democracia para Portugal e ao que Salazar terá respondido: “A democracia é boa para os povos do norte da Europa que são organizados e disciplinados, não para os portugueses!”.
Seja como for quando se deu a “Revolução dos Cravos”, Portugal era um país profundamente pobre mas honrado, assaz atrasado em relação à restante Europa, para onde apenas exportava mão-de-obra barata mas sem qualificação (grande parte dos homens fugiam à guerra colonial!).
Com a chegada da dita democracia, que Salazar não concebia para Portugal, o país saltou do oito para o oitenta. De um ápice deixou-se de pensar nos deveres e apenas nos direitos. Passou-se de um país amordaçado por uma polícia política com cariz nazi para uma liberdade histericamente ensurdecedora. Os partidos políticos da altura ampliavam e de que maneira aquele ruído de a tudo se ter direito, não olhando a quaisquer custos.
Assente no tema dos três dês – descolonizar, democratizar e desenvolver – que saiu do 25 de Abril, surgiu um grupo de políticos que avidamente tomaram este país de assalto. Em breve devolveram as colónias aos seus naturais – com profundos custos para Portugal -, consolidaram a democracia muito à custa dos militares e finalmente entregaram à Europa a possibilidade de desenvolver este país.
E partir daqui tudo foi permitido: dar reformas a quem nunca havia descontado, aumentar exponencialmente os ordenados dos trabalhadores sem que estes criassem riqueza na mesma quantidade, construíram-se infraestruturas, sem se perceber muito bem como se iria pagar.
A entrada na União Europeia e no Euro, colocou-nos num patamar de exigência para o qual não estávamos de todo preparados. E expressão duma Europa a duas velocidades só passou a fazer realmente sentido desde que entrámos no Mercado Comum.
Só que a crise financeira iniciada em 2008 nos Estados Unidos, veio finalmente por a nu a nossa fragilidade na política orçamental, plasmando-se nas actuais políticas restritivas impostas pela troika. Portugal não criava nem cria riqueza para a despesa que ainda apresenta. Os mercados internacionais foram-nos valendo até rebentarem as bolhas especulativas. E aí… foi o caos!
Em jeito de conclusão direi que nos últimos 90 anos da história de Portugal se viveu entre duas ditaduras: a primeira encabeçada por homem teimoso, austero mas sério; a segunda titulada por uma democracia incompetente, pueril e profundamente desonesta.