Quando em 2020 o actor Pedro Lima de suicidou o problema da saúde mental ou a falta dela foi muito debatido.
Li na altura muitas ideias referindo que seria necessário olhar para a "depressão" como uma doença grave com consequências muito nefastas. Todavia passado uns tempos o tema foi substituído por outros, quiçá menos importantes, mas que por qualquer razão justificavam a sua chamada.
Porém as doenças do foro mental continuam a crescer e a pandemia não só veio colocar a nu muitas dessas doenças, outrora escondidas ou dissimuladas, como fez crescer muitas mais.
Temos assim entre mãos uma mini pandemia que se vai alastrando por todos os sectores da sociedade sem, todavia, haver vacina para tal.
É que quase todos os dias chegam às nossas mãos notícias de alguém que perdeu a vida porque não conseguiu enfrentar a sua doença.
Portanto urge estar atento àqueles que nos rodeiam. Perceber os sinais, descobrir nuances, enfrentar a dura realidade que a depressão pode atacar os que nos estão mais próximos.
Nem todos estão interiormente preparados para as bizarras vicissitudes da vida.
Sou testemunha permanente da entrada de alguém no mundo oco e vazio da senilidade.
A minha sogra foi durante muitos anos a matriarca da família. O que ela dizia era lei para as filhas e até para o marido.
Quando cheguei à família fiz-lhe alguma frente. Que acredito que não tenha apreciado. Mas acabou por aceitar pois percebeu que não tinha intenções enviezadas apenas o bem comum.
Nos finais dos anos oitenta ao meu sogro foi diagnosticado um tumor na próstata. A minha sogra que sempre conviveu mal com as doenças e com a morte. quando soube da doença do marido andou uma série de dias a chorar pelos cantos.
Deste episódio resultou uma profunda depressão que culminou em muita medicação para lutar contra. Eram dias, semanas na cama sem nunca sair, a não ser para ir à casa de banho.
Com a morte do meu sogro já em 2008 a depressão piorou. E iniciou-se o processo de transferência para a senilidade.
Não vale a pena aqui desenvolver o decadência de alguém que podia e queria tudo. Hoje não sabe o que é uma colher, um garfo ou quem são as filhas a quem geralmente trata por "a senhora isto, a senhora aquilo".
A memória, essa, esgotou-se. Sai de um lado da casa e já não sabe regressar. De quando em vez evoca pai e mãe, mas raramente se lembra do marido com quem viveu mais de meio século.
Uma mulher que foi o esmero do asseio, já nem sabe o que isso é. Também nunca se senta à mesa que diga que gosta da comida.
Dia a dia vou assistindo a um definhar triste. E imparável!
Não fosse o carinho e o cuidado permanente daqueles que a rodeiam provavelmente já teria partido deste Mundo.
Acrescento que no caso presente seria uma dádiva se Deus um dia a levasse. É que ela já não vive!