Comecei a visitar as ilhas açorianas em 2004. Desde esse ano já lá fui pelo menos cinco vezes.
Com a viagem deste ano acabei por conhecer as 9 ilhas. Todas elas bonitas, fantásticas, todas diferentes.
Contudo sinto que não ficarei por aqui. Tenho a ideia de que para o ano lá terei de regressar. Mas para a próxima gostaria de fazer uma visita às baleias. Ideia antiga minha!
No entanto hoje venho aqui escolher um ex-libris para cada ilha. Ou melhor dizendo aquilo que não se deve perder em cada pedaço daquelas terras rodeadas por mar.
Viver uma vida inteira para um dia chegar aqui vale mesmo a pena...
Reza a lenda que um dia nesta Fajã apareceu a imagem do Santo Cristo que tanto é venerado nos Açores e mais ainda em Ponta Delgada. Admirados com o aparecimento de tal imagem os habitantes pegaram nela e levaram-na para um sítio mais condizente com o Santo.
Só que no dia seguinte a imagem voltou a aparecer no mesmo local. A história repetiu-se por mais vezes e sempre que tiravam a figura desta Fajã. Perante algo inexplicável o povo ergueu no local uma pequena igreja a que chamaram Ermida do Senho Santo Cristo,
É um templo singelo, mas na sua própria beleza apresenta uma força e ao mesmo tempo uma serenidade invulgar,
Os naturais da ilha têm enorme devoção a este templo, originando muitas peregrinações ao local.
Nem um compêndio de adjectivos seria suficiente para qualificar este local. Tem tudo... onde não há nada!
Um paradoxo que se justifica, pois...
Não há luz eléctrica...
Não há água canalizada...
Não há carros...
Não há telefone...
Não há televisão...
Mas há paz!
Serenidade!
Liberdade!
Beleza natural!
Sossego...
Mar...
Terra...
Paisagens...
Percorri demoradamente aquele lugar. Calcorreei ruas e ruelas, meti-me com os cães que pachorrentamente passeavam no meio da rua,
embrenhei-me na Caldeira pedregosa,
rezei na Ermida, chorei de felicidade por poder um dia ter tido a possibilidade de ver este local tão longínquo da balbúrdia cosmopolita.
Uma Fajã que carrega em si mesma a força única de um povo lutador e estóico.
Por ali também almocei. Umas ameijoas que a Caldeira se digna oferecer aos três únicos apanhadores autorizados. Sentado à mesa a paisagem era singela.
Estive na Fajã horas.
Ms antes de me fazer ao caminho de regresso,
Tatuaei no meu coração estas imagens...
E prometi a mim mesmo aqui regressar. Mas pelo caminho da montanha.
Era quase noite quando chegámos a Velas. Estávamos sem jantar e um petisco leve serviria... Parei o carro numa rua da vila e fomos por ali andando devagar. Ao longe parecia ouvir-se uma banda filarmónica. Fomos caminhando ao seu encontro e demos de caras com uma procissão em louvor de S. João. Muita gente na rua e acabámos por perceber que em breve haveria missa campal já que a pequena capela, recentemente restaurada, seria assaz pequena para receber tanta gente.
Assistimos a mais uma eucaristia. Para depois sermos convidados a comer das sardinhas, caldo verde, broa e queijo da ilha que a Junta de freguesia oferecia graciosamente. Não me fiz rogado até porque adoro sardinhas e queria outrossim sentir o espírito do momento, Comprei um saco de rifas na quermesse a quem devolvi mais tarde os prémios. Ficam já para a próxima!
A noite caira há muito e uma brisa leve soprava vindo do mar. Quando por fim chegámos ao hotel estávamos visivelmente cansados.
O dia seguinte surgiu brilhante sem uma nuvem. O roteiro passava essencialmente por Rosais e o seu farol, Fajã dos Cudres e Fajá da Caldeira de Santo Cristo.
Porém a primeira paragem foi em "Sete Fontes" um local muito bonito. Uma espécie de parque de merendas, onde se viam uns patos que nos seguiam por todo o lado, provavelmente à espera de uma migalha, tal como uns galos e galinhas.
Se no dia anterior havíamos estado no Topo agora queríamos ir à Ponta dos Rosais que se situa na ponta oposta do Topo da ilha de S. Jorge. Uma estrada de terra batida que atravessava prados imensos e salpicados aqui e ali por algum gado.
A estrada vermelha parecia não ter fim, até que finalmente avistámos a torre do que parecia ser um farol.
Neste local deserto o vento soprava com muita força. A paisagem era bonita e os reflexos do sol no mar eram imperdíveis. há quem diga que daqui se vê a ilha Graciosa... No entanto o tempo nublado não nos deixou vê-la.
De retorno ao alcatrão segui para a parte Norte da ilha. Passámos por Toledo, Santo António, Norte Grande e Norte Pequeno. E aqui surge o desvio para a Fajã dos Cubres. Não imagino quantos quilómetros serão entre a estrada e a povoação lá em baixo bem encostado ao mar, mas a via assemelha-se às anteriores com curvas e contra curvas e com um declive muito assentuado.
Dentro do povo há uma indicação do caminho para a Fajã da Caldeira de Santo Cristo. Mais à frente um largo com estacionamento. Foi aqui que largámos a viatura. Esperáva-nos 4,3 quilómetros de caminho até ao nosso destino.
Nada de mais para quem é peregrino e ainda há pouco tempo fez 150 quilómetros até Fátima... Portanto pés ao caminho e eis-nos a subir e a descer uma estrada só transitável para as moto-quatro ou pequenos tractores.
O mar umas vezes surgia longe outras bem perto.
Por nós, entretanto, passavam as referidas motos de quatro rodas carregadas de gente ou haveres, num vai-vém quase citadino. Ou simples peregerinos a pé que haviam dedicado a manhã a uma pequena peregrinação à Ermida de Santo Cristo. Um cumprimento matinal entre nós bastava...
Sinceramente nem demos pelo tempo passar... nem pelo comprimento do caminho. Ainda não era meio-dia quando, de súbito, demos com isto.
Inicio este postal com um mui breve exemplo do que foi a viagem de barco entre a cidade da Horta na ilha do Faial e a vila das Velas na ilha de S. Jorge e que durou mais de duas horas já que partimos às nove da manhã e chegámos já passava das onze e meia.
Durante toda a viagem tanto a chuva como o mar encapelado fizeram as suas vítimas. Felizmente que este casal sexagenário passou esta prova com grande distinção chegando à bonita vila das Velas fresco e airoso e pronto para aquilo que a ilha teria para nos mostrar.
Durante a viagem marítima um dos assistentes de bordo aconselhou-nos lugares e restaurantes. Com os pés em terra firme recolhemos a viatura e fomos em busca do hotel onde deixámos as malas. Novamente na estrada eis que começámos a subir para Santo Amaro onde encontraríamos o primeiro restaurante na ilha do bom queijo (mais uma!!!).
O Forno de Lava é um espaço fantástico com boa comida, óptimo serviço e simpatia a rodos. Como é apanágio dos ilhéus. Os preços dentro do que é normal para as ilhas. Pena foi que o nevoeiro tivesse inundado a ilha, inibindo de vermos a paisagem da esplanada do restaurante.
Após o almoço partimos à descoberta da ilha. A ideia seria correr o sul da ilha nesse mesmo dia, tentando ver as Fajãs mais conhecidas para no dia dia seguinte o destino ser... a Fajá da Caldeira de Santo Cristo.
A primeira paragem foi nas Manadas onde o sol mais ou menos surgia por entre umas nuvens cinzentas. Junto ao mar conseguia-se ver a Ilha do Pico à distãncia
A igreja bem perto parece guardar o local das intempéries.
Voltei à estrada principal até encontrar o primeiro desvio para uma Fajã. Seria a da Almas a primeira de algumas que veria com gosto. Estrada muito inclinada, curvas deveras apertadas onde seria impossível a passagem de duas viaturas. A determinada altura já quase a chegar a estrada alargou como se houvesse um parque de estacionamento.
Fui aí que deixei a viatura e desci o resto a pé. Esta foi a primeira foto da Fajã
Ainha havia muito para descer. A paisagem é de cortar a respiração mas o que mais me surprendeu foi a quantidade de lagartixas que se conseguiam ver. Não exagero ao dizer que vi centenas... de todos os tamanhos e cores. Inofensivas, ainda assim pareceu-me claramente estranho aquela quantidade enorme de répteis.
Que me parecem já estar habituados ao ser humano
Chegar ao nível do mar ainda demorou uns belos minutos, mas valeu a pena.
A subida fez-se bem sem sobressaltos nem outras viaturas e mais à frente nova Fajã. A dos Vimes que é conhecida por ser o único local da Europa onde se produz café. Mais uma descida até bem perto do mar para encontrar a loja da D. Paula que é uma das três produtoras de café naquela Fajã.
Tivemos o privilégio de fazer uma visita ao cafezal onde a proprietária contou um pouco da história de como apareceu ali o café. Parece que um antigo emigrante no século XIX regressou à sua ilha e para lá trouxe alguns bagos de café que semeou. Mais tarde a planta deu frutos e daí ter surgido esta pequeníssima actividade.
Por ali ficámos a tentar perceber como tudo se fazia. Parece que estamos ainda nos velhos tempos pois tudo ali se faz de forma artesanal. Saímos da Fajã e percorremos o caminho para uma das pontas da ilha. Mais conhecida pelo Topo este local deu-nos então isto.
A volta de hoje previa-se longa e complicada. Muitas fajãs para visitar e algumas bem longe.
Sair cedo foi uma das vantagens. Eram nove da manhã e já havia visto "Sete Fontes", um local lindíssimo e quase paradisíaco e a "Ponta dos Rosais". Às 10 já caminhava a pé para a Fajã de Santo Cristo, local que irá ter um postal próprio, após ter deixado o carro na Fajã dos Cubres.
Depois o regresso e mais fajãs, uma largada de touros à corda e finalmente uma Fajã que me deu a oportunidade de ver isto...