Sá Carneiro – Um estadista de enorme coragem
Já estava no dia 5 quando cheguei à paragem do autocarro, que me levaria a casa após as maçudas aulas da noite. Num vão de escada um casal jovem, que eu conhecia de algumas lutas estudantis de cariz esquerdista, parecia festejar qualquer coisa. Despreocupado, tomei o autocarro. Só quando cheguei a casa é que soube o que horas antes havia acontecido. Num acidente (?) de aviação o PM e um ministro, entre outros elementos duma comitiva, haviam falecido.
Fiquei em choque! Não só pelo acidente mas acima de tudo por me lembrar das comemorações do tal casal… Comemorar a morte de alguém, para mim, não era fazer política, era destruí-la.
No fim de semana seguinte havia uma eleição presidencial e Ramalho Eanes ganharia as eleições para o seu segundo mandato a Soares Carneiro, candidato apoiado pelo PSD e CDS. Naquele tempo lia amiúde um semanário e que na altura era uma referência. E se bem me lembro, nesse jornal, após o trágico acidente que vitimou o primeiro-ministro, alguém perguntava “A quem serviu a morte de Sá Carneiro?”.
Esta questão morou comigo todos estes 33 anos, desde essa fatídica noite, e ainda não consigo vislumbrar uma resposta. Nem mesmo as sucessivas comissões de Inquérito conseguiram trazer alguma luz a este caso quanto mais dar resposta à tal questão.
O tempo e os novos políticos têm vindo a encarregar-se de colocar Francisco Sá Carneiro num pedestal que o próprio, se fosse vivo, não aceitaria. A génese que criou o partido PPD em 1974, mais tarde rebatizado em PSD, há muito que desapareceu. Provavelmente por culpa dos políticos do próprio partido que não souberam manter a herança, em termos ideológicos que o malogrado Sá Carneiro deixou.
Já aqui escrevi que o malogrado Primeiro Ministro jamais aceitaria o que a Troika nos impôs neste últimos anos e provavelmente jamais escolheria parte do actual elenco governativo. Porque Sá Carneiro sabia o que queria para Portugal e para os portugueses.