Como já escrevi em postais anteriores há muito que perdi o hábito de ver televisão. Apenas o futebol e só mesmo quando joga o meu Sporting é que me obrigo a ligar o pequeno ecrán. Fora isto...
Só que hoje estou na aldeia em casa dos meus pais. Aqui a liberdade é diferente já que tendo em consideração a idade dos meus antecessores a televisão é a distração deles. Aparelhos na sala e na cozinha e ambos os velhotes surdos faz com que o som de lá se sobreponha à voz dos presentes.
O curioso é que tendo eles assinatura com uma distribuidora de dezenas de canais que normalmente ninguém vê, a verdade é que continuam fiéis ao... Canal 1 da RTP.
No entanto nestes dias que estou com eles e em que as televisões estão permanentemente ligadas apercebo-me que o canal público de televisão da actualidade difere muito pouco daquele que eu via há uns anos!
Os mesmos concursos com os mesmos apresentadores, a mesma histeria de alguns pivots de telejornal, o mesmo tipo de programas sem interesse e sem qualidade. Portanto e resumindo de Chelas nada de novo!
Talvez por tudo isto e obviamente muito mais deixei de ver televisão!
Como diria o malogrado Artur Albarran: a tragédia, o horror!
Não sei se é o luso complexo de inferioridade, mas temos sempre uma estranha tendência para valorizar o que é feito fora das nossas fronteiras em contraponto ao que organizamos em Portugal.
No entanto vamos dando cartas aos outros países e conseguimos mostrar e demonstrar que, quando queremos, somos tão bons ou melhores que os demais. Já nem falo de atletas, mas tão-somente de eventos.
Expo98, Europeu de 2004, Rock in Rio, WebSummit e mais recentemente as Jornadas Mundiais da Juventude todos acontecimentos que tiveram chancela lusa e que correram de forma fantástica.
Faço ora a ponte para um desporto que muuuuuuuuuuito aprecio e que dá pelo nome de ciclismo. Detesto dizer isto, mas ainda sou do tempo de escutar num velho transistor as reportagens em directo, da nossa volta a Portugal em Bicicleta. E que era mesmo ao país todo.
Hoje tudo mudou e o ciclismo não fugiu à mudança. As equipas estão bem organizadas valendo milhões. Pudera com tanta publicidade gratuita...
No ciclismo europeu há três provas de grande estatuto: o Giro de Itália, o Tour de França e La Vuelta aqui mesmo ao lado. Por cá temos, por esta altura, a nossa pequena Volta a Portugal (como já referi acima já foi muito maior), mas que eu gosto tanto de seguir.
Hoje foi dia da etapa rainha da Volta: a subida à Torre na Serra da Estrela. Uma etapa sempre muito dura com aqueles derradeiros 20 quilómetros desde a Covilhã a fazerem estragos no pelotão e na classificação geral individual.
A transmissão deste evento desportivo recai, desde que me lembro, na RTP que com a sua habitual dupla de comentadores torna este exercício televisivo um momento de grande espectáculo. Assim é Marco Chagas o campeoníssimo atleta desta modalidade e o grande jornalista desportivo João Pedro Mendonça.
Com eles a Volta a Portugal tem outro gosto, outro sabor e não se inferioriza às outras provas! E depois com a ajuda dos homens das câmaras na estrada e no ar tudo se resume a um verdadeiro serviço público. Daquele que o povo merece e necessita!
Parabéns a toda a equipa!
Finalmente é a única razão que me faz ligar a televisão.
A forma como o pivôt de telejornal da RTP 1 deu a notícia do falecimento dos turistas vítimas da implosão do submarino turístico.
Até eu que não costumo ver televisão recebi diversas notificações para não deixar de ver a forma espontânea e tenebrosa como José Rodrigues dos Santos deu a notícia.
Não me cabe criticar, nem fazer qualquer observação sobre a actuação do conhecido pivôt, até porque aquele jornalista tem muitas saídas daquelas (não se esqueçam do tão conhecido piscar de olho no final!), mas posso reconhecer algum sensacionalismo na maneira como deu a notícia.
A concorrência àquela hora, já se sabe, é enorme e portanto vale (quase) tudo em televisão.
Mas uma coisa é certa a RTP deve ter tido nos últimos dias muitas visualizações nas suas plataformas digitais.