Durante muito tempo a minha relação com a fé e a igreja dependia do que os meus pais reservavam para mim. Neste sentido recebi quase todos os sacramentos: catequese, primeira comunhão, comunhão solene, escuteiros…
Numa fase mais adiantada da minha vida segui, qual ovelha desnorteada, os passos com quem convivia. E afastei-me da igreja, se bem que da fé… nem sabia bem o que isso era.
No entanto nunca fechei o meu coração à Palavra de Deus apenas fiz um intervalo (quase) sabático.
Acabei bem mais tarde por casar pela igreja, baptizar os meus filhos e dar a estes uma educação religiosa cristã, que eles mais tarde não pretenderam seguir.
Aproximei-me da fé cristã porque encontrei nela a paz que necessitava. Peregrinei muitos quilómetros e nos caminhos achei muitas respostas, mas assumi também muitas dúvidas. E ainda bem que assim foi pois tornou-se sinal de verdadeiro caminho de fé.
Há cerca de dois anos, na minha derradeira peregrinação a Fátima e em conversa com o padre que nos acompanhava decidi que havia um sacramento que me faltava e não gostaria de partir deste Mundo sem o receber. Falo do sacramento da Crisma.
Assim regressei recentemente à catequese, desta vez de adultos, para que com ela ou nela encontre novas respostas ou quem sabe mais dúvidas.
Diria que Deus lá saberá, na Sua infinita sabedoria, do que eu necessito realmente.
Sou católico! Se agora estou menos participativo, tempos houve em que não falhava uma eucaristia semanal! Só que a vida coloca-nos tantos desafios que a determinada altura há que saber escolher. E eu geralmente escolho a família!
Não obstante a minha fé será mais cristã que meramente católica-apostólica-romana, pois sinto que Cristo é a minha verdadeira fonte de inspiração. Muito na linha do que me disse cdrta vez um padre amigo: há muitos católicos, mas poucos cristãos!
Se sou um homem de fé também tenho a mente e espírito aberto e sem quaisquer pruridos no sentido de aceitar os que são ateus, agnósticos, muçulmanos, ortodoxos, protestantes e obviamente testemunhas de jeová!
Ora bem... passemos então ao que aqui me trouxe!
Conheço um homem idoso que fez da sua garagem um autêntico museu de coisas velhas e sem valor, mas que para ele fazem sentido ter! Tirando uma peça ou outra com alguma graça tudo o resto vale... zero! No entanto sempre que tenho algo para deitar no lixo penso primeiro nele e se estará interessado na coisa. Geralmente quer tudo!
Um destes dias, ainda antes do Natal, apresentei-me na sua garagem com mais uns objectos que ele adorou. Tem sempre o cuidado de me perguntar quanto é, cuja resposta nunca difere: não é nada! Quando estava para me ir emborra despedi-me e tive este breve diálogo final:
- Então Bom Natal - e estendi-lhe a mão num cumprimento.
- Ah mas eu não ligo ao Natal... sou Jeová! . respondendo ao cumprimento manual.
- Desculpe, não fazia ideia!
- Não faz mal.
Para logo acrescentar:
- Também não comemoro os meus anos. Ainda fiz há dias anos... - nem prosseguiu.
Logo percebi que ninguém lhe dera os parabéns!
Parti então para a minha vida, mas esta ideia do aniversário... ficou pendente na minha mente! Só hoje, finalmente, é que me debrucei sobre este assunto pois fiquei sem perceber porque alguém, seja de que crença for, não pode ou deve comemorar o seu aniversário.
Será que para algumas confissões religiosas mais radicais viver torna-se... pecado? É que se não é, pofr este testemunho, parece!
Acabou já de madrugada em Portugal a final de ténis do Open dos Estados Unidos que colocou no "court" principal de Flushing Meadows o sérvio, já veterano, Novak Djokovic contra o russo Danil Medvedev repetindo-se assim a final de 2021. Nesse ano foi o atleta russo o grande vencedor. Desta vez foi Djokovic! De forma meritória!
Há muito tempo que não assistia em directo a uma final do "Grand Slam". Durante mais de três horas vi bom e menos bom ténis, como acontece quase sempre.
O curioso é que enquanto o público presente rejubilava com fervor os pontos ganhos tanto por um como por outro atleta, muitas vezes as câmaras passavam pela assistência e insidiam amiúde sobre os apoiantes de Novak e de Danil.
Consegui perceber o apoio da esposa e dos filhos do campeão sérvio e o profundo nervosismo da mãe de Djokovic plasmada numa postura religiosa como pedindo a Alguém que ajudasse o filho a conquistar mais um título. Lembrei-me também duma velhíssima frase: mãe... é sempre mãe!
Por fim Djokovic após a vitória persignou-se perante milhares de espectadores presentes (não imagino os milhões pela televisão).
E é aqui que pretendo chegar... Num tempo em que a fé religiosa é considerada quase um atentado, gostei que o sérvio mostrasse a sua perante tanta e tanta gente.
Eu que em privado critiquei este atleta por não aceitar as condições impostas pela Austrália aquando do Open do ano passado por causa do Covid-19, é de toda a justiça aplaudir o seu gesto de hoje.
Mostrou-se um campeão na conquista do seu 24º título do Grand Slam. No court, na vida e na fé!.
Temos a (errada) ideia de avaliarmos os outros países pela matriz com que nos regemos no nosso. Todavia olvidamos o que para nós pode ser algo impensável, em outras culturas tudo é viável e naturalmente bem aceite.
O Afeganistão (que eu nunca visitei) parece ser um desses países onde a cultura e a religião fanática se juntam numa mistura, no mínimo, explosiva.
Para além dos preceitos religiososs muitos ortodoxos seguidos pelos talibãs, há algo que me incomoda e que se prende com a forma como lidam com as mulheres. Estas são autêncticas escravas de homens sem qualquer conhecimento da realidade mundial. Sei que para além da questão religiosa esta maneira pouco humana de tratar as mulheres se prende essencialmente com uma cultura, que é no mínimo selvagem. Nem os animais tratam as suas fêmeas da mesma maneira que os guerreiros talibãs-
O lado ocidental apenas pode denunciar as atrocidades... já que pouco mais pode fazer.
Mas nisto tudo o estranhamente curioso foi ler alguma esquerda lusa a regozijar-se com a saída dos americanos do Afeganistão, olvidando o estado em que ficaram as pobres das mulheres afegãs.
Não posso deixar hoje de escrever sobre a minha relação com a fé. Sou católico, mas como diria o meu bom amigo padre J.: há muitos católicos, mas poucos cristãos.
Infelizmente ele parece ter cada vez mais razão.
Portanto aprendi nesta longa caminhada de mais de sessenta anos que não vale a pena andarmos por cá a fomentar guerras marialvas porque um dia vamos embora deste Mundo terreno e não levamos nada connosco.
Assim sendo prefiro ajudar quem precisa.
Nesta quarta-feira de cinzas o meu avô costumava sair de casa de madrugada para regressar só à noite de forma a não cair na tentação de comer carne. Jejuava portanto. Eu já não o faço!
Portanto começa hoje a quaresma católica que culminará na Páscoa. Quarenta dias mais os domingos que deverão servir para quem tem fé, para viajarem ao interior de si próprios e procurarem qual o melhor caminho para as suas vidas.
Parece assim, à primeira vista, algo estranho e quase enigmático, mas quantos de nós necessitamos de parar e rever os nossos passos. Este tempo quaresmal no fundo serve para isso mesmo: relançarmos à terra renovadas sementes para que cresçam searas recheadas de novas ideias e melhores atitudes.
Sei que é fácil falar. Que muitas vezes não conseguimos controlar os nossos impulsos internos, mas tentemos… tentemos sinceramente ser diferentes.
Quem por aqui passa amiúde sabe que sou católico, professo uma fé, que peregrino, vou à missa sempre que o meu espírito manda. Mas nada desta minha postura me tolda o discernimento no que respeita à postura da instituição Igreja em face dos seus crentes e dos seus padres.
Sempre achei que ser-se padre não é para todos. É necessário sentir o tal “chamamento” do Espírito Santo. Mas como tudo na vida há momentos de dúvidas, incertezas, que podem originar dilemas pertinentes.
O celibato dos padres é uma das mais importantes questões que se levantam actualmente. Será que faz sentido os padres não poderem constituir a sua própria família?
Sinceramente e por aquilo que tenho observado sinto que os padres poderiam perfeitamente casar. Aceito que aquele que o fizesse ficaria sujeito a ser pároco toda a vida sem poder ascender a outro patamar dentro da igreja. Mas provavelmente seria muito melhor padre que seria como Bispo…
Na minha vida conheci, pelo menos, três exemplos de homens que abandonaram a vida eclesiástica para assumirem uma relação fora do contexto da igreja. São hoje homens felizes, realizados e não perderam, ao contrário do que muitas vezes se faz constar, não perderam repito, a fé!
A sociedade “civil” ganhou homens e pais fantásticos, exemplos únicos.
A igreja perdeu padres fabulosos, exemplos perfeitos de como a igreja não deve proceder.
Depois não se queixem de não haver vocações ou da população se afastar da fé católica apostólica romana e optando por vezes por congregações muito duvidosas!
Caberá futuramente ao Vaticano rever os seus dogmas. Assim queira o Papa Francisco e a Curia Romana!
Perto de onde trabalho há uma enorme igreja. Segundo vi na calçada intra-muros a data de construção remonta a 1938. O que quer dizer que tem 80 anos.
Lá dentro o espaço é amplo com tectos altos donde se destaca os arcos em ogiva que suportam a estrutura, mas acima de tudo observa-se um conjunto belíssimo de vitrais com profusão de referências religiosas.
De vez em quando visito este templo. Especialmente para ir à missa!
O curioso é que esta celebração inicia-se ao meio dia e dez minutos e dura pouco mais de meia hora. Mais curioso ainda é a assistência presente.
Se a missa dominical é tida muitas vezes, numa família católica, quase como uma obrigação semanal, é de realçar a presença, num culto durante a hora do almoço no centro da cidade, de gente tão diferente e que ali surgem por vontade própria.
Mulheres, homens, jovens, gente de meia idade ou idosos, todos juntos a escutar e aceitar a Palavra.
Como já referi acima também lá vou. E sinto que aqueles 30 minutos são muito importante no resto do meu dia.
Volto a um tema que para mim é sempre grato falar. Falo de fé.
Gosto deste sentimento de sentir que algo vela por mim, mesmo nos meus piores momentos.
Abordo este tema porque hoje alguém me dizia que tinha a moto abençoada porque fora à Cova da Iria a um encontro de motars qyue se realizou naquele lugar sagrado.
O curioso é que isto foi dito por um jovem que não recebeu nenhuma educação católica, apenas fora baptizado. Isto é... Deus atravessou-se no caminho e ele, sem o saber, aceitou a proposta.
Como este jovem quantos haverá que têm receio de aceitar uma fé, de terem consciência que acreditar não é um estado de prisão mas de libertação?
Quantos haverá por aí que dizem não acreditar em nada para depois confessarem que gostariam de sentir esse sentimento?
É que bem vistas as coisas a fé requer uma verdadeira consciência do eu na directa relação consigo próprio e com os outros. Ou dito de outra forma muitos preferem ignorar a existência da fé porque esta coloca demasiadas questões na forma como lidamos com a nossa vida. E há tantos receios interiores...
Ser crente não é ser religioso. Longe disso. Acreditar é unicamente uma forma mais simples de ser vivente. Um religioso é um devoto a algo e requer uma outra atenção e dimensão de fé!
Já disse e repito que não acredito em coincidências. Tudo tem uma razão de ser. Mesmo que ela não seja vista à luz de um momento breve, mas adiada para um dia, uma noite, uma hora muito específica.
Muitas vezes nas nossas vidas temos momentos que não sabemos explicar. Costuma-se dizer de forma popular que só morreremos quando tiver que ser.
Nada mais certo!
No entanto reconhecer que há coisas que acontecem de forma estranha também não é invulgar. Eu uso como explicação a vontade de Deus. Muitos dirão que são unicamente meras coincidências.
No actual contexto da nossa sociedade, tão moderna e evoluída, assumir uma fé torna-se deveras perigoso e quase me arriscaria a dizer, fora de moda. Arriscamo-nos a quase ser ostracisados, pois já ninguém crê na religião quanto mais na fé.
A Joana do Quiosque contou esta história de vida. LInda, marcante apenas comentei que o caso não fora uma coincidência, mas algo mais. A simpática bloguer preferiu dizer que não é crente, mas...
Pois... esta é que é a parte torta da vida. Os mas que diariamente nos atingem correspondem invariavelmente aos eventos para os quais não temos explicação lógica. E por vezes são tantos...
Por isso receamos ter medo que não haja uma verdadeira razão para um determinado acontecimento e com isso percebermos que algo nos controla mais e melhor do que julgamos.
O nome pode ser o que vocês quiserem: Deus, Alá, Confúcio ou outra divindade qualquer. O que é preciso é que simplesmente acreditem que todos nós. sem excepção, somos meros mortais carregados de inexplicáveis mas.
Este será o meu último naco de prosa da minha trilogia sobre fé, religião e igreja.
Antes de mais e de uma forma metafórica estas três ideias são assim como o corpo humano, que se divide também em três partes: cabeça, tronco e membros.
Deste modo a fé será a cabeça, pois é nesta que tudo é pensado, pesado e decidido. Os membros corresponderão à religião, já que são a parte operacional. Finalmente o corpo será a igreja, já que é o suporte físico, e não só, das outras duas partes.
Falar de igreja não é fácil, tendo em conta que esta é demasiadas vezes mal aceite, pois a maioria das pessoas toma-a unicamente como um poder. É verdade, não posso olvidar isso, mas nem todas as pessoas se aproveitam da sua posição, para em nome de um qualquer Deus angariarem estatuto, valores, insígnias ou mordomias.
Também não estou obviamente a referir-me a templos físicos, monumentais ou singelos, mas a algo que se prende ao tal tronco, conforme referi atrás.
Quando em prol da minha fé tomo uma atitude ou assumo uma posição e plasmando-se estes meus actos naquilo que a minha religião assenta estou, nesse instante, a fazer igreja.
Há quem (re)construa vidas, ajude o seu semelhante, se disponibilize para os outros. Há quem largue o conforto das suas casas e parta para longe, para zonas amplamente desfavorecidas, somente para ensinar. Há quem lute contra alguns desafios interiores para se voluntariarem para hospitais ou lares. Isto é fazer verdadeira igreja. Daquela que impele o ser humano a estar mais próximo e ser mais amigo do outro.
Esta sim é a minha igreja, aquela que eu sigo, que esclarece as minhas dúvidas, que me conforta quando sinto que o mundo vai desabar, que me ampara. A igreja que dá sem pedir nada em troca, aquela que é obra evangelizadora.
De forma a não me alongar, imagine-se uma igreja sem fé e sem religião... Seria ceretamente um corpo morto!
Breve nota final: quero agradecer à Golimix, porque se não fosse ela jamais teria tido a coragem de falar destes temas assim de forma tão aberta e espontânea.