Relações laborais: um mundo às avessas!
Quem como eu trabalhou muitos anos numa empresa antes de se reformar acaba naturalmente, por naquele longuíssimo tempo, cultivar fortes amizades que perdurarão pela vida fora, mas também muitas inimizades. Estas últimas quase sempre resultado de muitas e obsoletas invejas. A maioria sem sentido!
Não tive uma carreira profissional fulgurante, mas também não era isso que me interessava. Preferi sempre viver na minha modesta situação enquanto a meu lado via tantos a esgatanharem para chegarem mais alto. Na maioria sem mérito, mas com muita (boa) publicidade.
Por isso quando tive de sair da empresa por querer abraçar o projecto de reforma, fi-lo de forma consciente e a bem com quem me rodeava. Nem tive direito a qualquer almoço ou jantar de despedida, como seria costume, pois vivia-se o auge da pandemia.
No entanto nada disto me afectou. De forma que hoje, dois anos passados sobre a minha vinda para casa, não sinto saudades, nem raivas escondidas, nem tristes estados de alma.
Sei que há quem não viva assim. Conheci muitos casos de gente extremamente dinâmica enquanto pessoa no activo, mas que com a sua passagem à aposentação caíram numa tristeza e inactividade que os levou rapidamente para o outro lado.
Todavia os casos piores são aqueles que saíram a mal com a empresa. Vivem rodeados de fantasmas que os atentam diariamente e durante o tempo de Morfeu. Lutam contra memórias tenebrosas e em vez de se lembrarem dos momentos bons que passaram, só evocam aquelas horas amargas, como disse um dia o poeta popular António Aleixo.
Imagino que seja difícil sair duma empresa pela porta mais escondida em vez da porta mais nobre. Mas a maioria das vezes a culpa é do próprio, por não ter conseguido lidar com as intempéries laborais que lhe foram surgindo.
As relações humanas são deveras complicadas. Então quando envolve trabalho, ao qual se associa dinheiro, aquelas pioram exponencialmente.
Não calculo se haverá uma formula para lidar com os nossos receios e frustrações nas relações laborais, mas de uma coisa estou certo: há sempre vida para além do trabalho.