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Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

Hoje escreve ele!

Pediram-me para usar este meu espaço com o simples intuito de publicar um belo naco de prosa. Obviamente vindo de quem veio as portas estavam totalmente escancaradas... Fica portanto aqui o registo, porque a vida também tem destas coisas... fantásticas!

 

"Ah, olá.

Na verdade não sou o habitual José da Xã, mas alguém a quem ele permitiu escrever um texto neste dia específico no seu blogue. Por um lado porque assim é menos um dia com o qual ele tem de se preocupar com o que escrever, e por outro porque sou filho dele.

No geral dou-me pelo nome de Rei Bacalhau, tanto que até mantinha um blogue meu onde partilhava umas palavras, especialmente quando necessitava. Há uns anos que o abandonei, mas felizmente já não tenho precisado dele.

Vou casar-me amanhã.

Os dois factos anteriores não estão descorrelacionados... Sabem, parte da minha vida de jovem adulto foi gasta em tentar preencher aquele vazio biológico ou social que acaba por nos afectar quase a todos: a necessidade de uma companhia amorosa, nem que seja para aquecer os pés à noite, como ouvi uma vez uma grande sábia da província dizer.

Este foi um problema deveras complicado para mim, pelo facto simples de eu estar habituado a que tudo tem uma solução directa, lógica, sistemática, quase científica. Com o amor não é bem assim, e hoje orgulho-me dos cabelos brancos que ganhei a aprender uma data de lições demasiadamente tardias.

Rejeitava veementemente o conceito que tanto ouvia e tanto lia de que "tens de ser tu próprio" quando se tenta arranjar alguém. Hoje sei que o tal conceito é apenas parcialmente falso, mas por razões diferentes das que possam estar a pensar. Eu diria mais que a afirmação é incompleta... É importante sermos nós próprios, sem dúvida, mas tem de ser a versão de nós próprios com a qual toleraríamos viver e não aquela que assume que os nossos defeitos são características imutáveis e seria, consequentemente, fútil melhorar.

Há uns anos decidi que estava farto de ser a versão de mim próprio que eu achava que devia ser, ou seja, aquela que se lamuriava por as coisas boas só acontecerem a outros. Decidi entrar no modo ao qual apelidei de "estou-me nas tintas". Estava farto de inibir algum comportamento mais estranho próprio da minha personalidade ligeiramente extravagante (não somos todos?). Estava-me nas tintas. Mudei de página. Mudei de emprego. Mudei de ares.

E então conheci-a. A pessoa indicada para mim. Rio-me agora de tantas outras em que estive interessado e de tantas maneiras como nunca poderia dar certo com elas. Mas por outro lado, como poderia saber? É preciso falhar para se perceber o que se quer e como atingi-lo, o que pode ser difícil para quem, como eu, tem (ou tinha) tendência para ficar confortável na ignorância ao invés de magoado na aprendizagem.

Não estou exactamente a escrever todo este texto por mim, mas mais por todos aqueles que talvez se sintam na mesma situação. É outra razão pela qual quis roubar um espaço num blogue mais visível. É preciso que os solitários deste mundo saibam que não o estão. Ou se estão, e esta pode ser difícil de engolir, não é culpa do mundo. Não estou a dizer que ao começarem a fazer as coisas de maneira diferente arranjarão logo alguém. Sou o primeiro a admitir que eu, por exemplo, tive sorte e falo de barriga cheia. Onde quero realmente chegar é que atingindo o tal mal afamado estado de "nós próprios" estaremos de consciência tranquila e confortáveis connosco, sem um objectivo secundário concreto. Se depois disso, acontecer, óptimo. Se não, não deveria ser crítico. Seremos finalmente nós próprios, ou pelo menos a melhor versão que toleraríamos viver com. E isso já é uma vitória.

Depois desse patamar atingido, então sim, mudar de ares, estar-se nas tintas, ser activo, ou não, depende, não há uma fórmula. Há apenas uma base de partida. Depois disso falha-se, chora-se (só um bocadinho), encolhe-se os ombros, ri-se, e prossegue-se.

Eu deixei de escrever quando fiz a minha transformação. A mágoa era maioritariamente o catalista para escrever, e tendo-me deixado de preocupar com tanta coisa, perdi a inspiração para rabiscar fosse o que fosse. Não me importei demasiado, pois de certa maneira já na altura sabia que era um sintoma de melhoras na minha saúde mental. Um pequeno sacrifício.

Mas acessos de inspiração ainda ocorrem de vez em quando, e senti que deveria aproveitar a oportunidade. Caraças, até os dedos me doem a escrever isto tudo de rajada.

Amanhã vou casar-me com a mulher que amo. Para além disso, sei que em breve serei um autêntico homem de família. Serei a minha definição de homem.

E nos ziguezagues da vida, serei totalmente feliz."

 

Supertramp, com Downstream

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