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Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

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Negócio na feira

Por causa das pinturas cá de casa, que já aqui havia divulgado, tive de retirar muitos objectos da minha sala. Para além de centenas de livros, medalhas e molduras com fotografias acabei por perceber que passamos a vida a juntar coisas para as quais nunca daremos uso.

No meu caso há uma explicação: a maioria delas têm um componente afectivi já que me foram oferecidas por amigos ou familiares. Todavia outras comprei-as em feiras de velharias, a maioria na Feira da Ladra.

É desta feira bisemanal e de um negócio que fiz que hoje vos venho falar.

Todavia o primeiro negócio que ali assisti foi com o meu pai quando nos anos setenta por ali andou em busca de um selim para uma égua que o meu avô havia comprado. Lembro-me que encontrámos uma que na altura pediram dois contos, ou mais ou menos 10 euros  na moeda corrente, e que após muita volta à feira acabámos por levar para casa. Recordo este caso porque na altura, quando o meu pai foi buscar o selim, o vendedor ter dito:

- Se eu soubesse que queria comprar teria pedido mais dinheiro.

Muitos anos mais tarde sou eu que numa manhã cedo de terça feira entro no Largo de Santa Clara. Vou calcorreando as ruelas olhando aqui e ali alguns objectos mais invulgares, perguntando preços apenas por curiosidade.

Entretanto alguns dos vendedores já me conhecem e ao ver-me passar apontam para este ou aquele objecto.

Estava eu neste meu caminhar lento quando dou de caras com a dona A. uma senhora idosa com uma loja bem perto da Praça do Chile e que adorava estar na feira a vender. Naquela manhá encontrei-a a limpar uma caixa de charão em tons cinzentos.

- Bom dia d. A. como está?

- Bem e o senhor?

- Também, obrigado.

Para logo lançar:

- Que bonita caixa, essa...

Gesto automático entrega-me a caixa.

- É para mim? Obrigado... - disse a rir, para logo questionar - Quanto quer por ela?

- Cinco contos, para me estrear.

Devolvi a caixa.

- Não ando a roubar. Isso é muito caro.

Sem mais segui o meu caminho. Andei mais de uma hora pela feira para voltar à dona A. onde a caixa dormia agora no chão entre muitas coisas velhas.

Insisti:

- Pensei que já a tivesse vendido...

- Quanto dá por ela? - avançou então.

"Temos negócio" pensei eu. Agora bastava regatear o preço.

- Eu nem digo o que ofereço porque a senhora ofende-se...

- Vá lá quanto dá por ela?

- Dois contos.

- Isso nem pensar... é pouco.

- Então para a semana dona A. - devolvi eu.

No momento em que lhe viro as costas diz:

- Mais 500 escudos e fica com ela.

Parei, retirei o dinheiro da carteira paguei-lhe e trouxe a caixa para casa.

Esta.

Charão.jpg

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