Se até ontem a minha reforma era paga totalmente pela minha antiga empresa, a partir de hoje há uma parte que é paga pela Segurança Social e completada pelo Fundo de Pensões. Isto é, (x) será a minha pensão total, (z) pagará a SS e o meu Fundo de pensões pagará (y), perfazendo o (x) inicial.
A partir de agora irei somar todos os valores obtidos da minha pensão de velhice (se eu fosse desses wookistas também queria este nome - velhice - alterado!!!) e perceber se no fundo dei lucro ou prejuízo à SS.
Não imagino quanto tempo viverei mais, mas já começo a ver um túnel negro ao fim da linha.
Também é verdade que não descontei muitos anos. Nas contas da SS dizem que 28 anos com salários a contar para a carreira contributiva. Eu não estou de acordo com a carreira contributiva pois creio que foi menos. Mas as entidades competentes lã saberão.
É portanto oficial: estou olimpicamente reformado.
A minha vida é tão vivida em alta rotação que ontem nem me lembrei que fiz cinco anos de reformado.
Uma opção que tomei em plena pandemia e da qual não me arrependo nada. Se bem que diga amiúde, a algumas pessoas que estarão prestes a passar à reforma, que o novo estatuto não dará ripanço, mas mais trabalho.
No entanto conheço muita gente que no tempo de aposentadoria faz... nada! Uma coisa que não se coaduna comigo a não ser assim uma semanita em Porto Santo, como tive este ano. Fora isso, gosto de estar activo, mas nada de universidades de terceira idade. Nem de segunda ou primeira, quanto mais...
Tenho os netos, é certo que me dão trabalho, mas outrossim a alegria de os poder ver crescer e evoluir quase diariamente. Há a escrita plasmada nos livros já publicados e até em novos desafios da blogosfera. Depois os projectos na aldeia de manutenção das terras e muita vida para além das tv's (que não vejo) e das séries (também não consumo).
Contas feitas foram já cinco anos, sessenta meses, nem imagino quantos dias, horas, minutos ou segundos. Nem quero saber.
A única coisa que realmente, para mim, importa é estar cá para o ano com a saúde que (ainda) tenho hoje.
A palavra para identificar a velocidade com que passam os meus dias será... alucinantes.
Quem me diria que quase cinco anos após ter entrado na reforma tudo na minha vida corre a uma rapidez que nem dá para respirar. E pior não sai como eu gostaria... Eis este exemplo.
A semana passada combinei apanhar as batatas no próximo sábado. Tudo acertado até que ontem recebo a notícia que as batatas serão arrancadas amanhã. Tudo porque as pessoas que estavam encarregues de o fazer não falaram com quem deviam. Assim amanhã às seis da manhã já irei a caminho da aldeia, até porque o meu pai não pode mexer uma palha.
Como este caso quase todos os dias a minha vida é transformada num pião. Penso fazer algo para logo a seguir tudo ficar virado do avesso!
Finalmente fico amiúde a imaginar como será a vida dos outros reformados, se também será assim... frenética. É que bem vistas as coisas caminho para velho e cada vez vejo mais próximo a linha de meta!
Este não seria o postal previsto, mas após o que hoje soube, creio que fazê-lo amanhã ou até depois perderia impacto.
Conheço e provavelmente todos conhecemos gente que adora honrarias e vénias, lutando arduamente para que tal aconteça. Não é uma crítica, mas tão somente uma constatação após ter percorrido mais de 66 anos neste trilho a que muito bem chamamos de vida.
Eu, ao invés, nunca gostei muito de honrarias e palmadinhas nas costas. Fui, sou e serei humilde por natureza e tudo o que fiz, faço e farei é apenas com o intuito de ajudar os outros. E muitas vezes por esta minha postura tive diversos dissabores. Mas nunca me arrependi, nunca!
Posto isto deixem-me contar o meu episódio de hoje. Um antigo colega e amigo convidou os costumados companheiros para um almoço. Entre os convivas estava um que se reformou recentemente com direito a festa rija, mas à qual eu não fui por outros compromissos já agendados. Mostrou-me orguhoso muitas fotos, muitas mensagens recebidas para de repente dizer:
- Repara nesta mensagem enviada pelo TF...
A mensagem por mail era razoavelmente grande para a meio o autor escrever mais ou menos isto: "o tempo que ando por cá deu-me a conhecer muita gente, mas de todos os que mais me marcaram como verdadeiro exemplo foram o doutor V. e... "
Como devem imaginar encontrei o meu nome naquela mensagem. As lágrimas não cairam cara abaixo apenas por vergonha. Toda a vida disse, para quem me escutava, que quando eu fosse embora do Banco e se uma só pessoa se lembrasse de mim eu consideraria que tinha feito bem o meu trabalho.
Imaginem o que foi ler esta mensagem... Inesquecível.
Lembrei-me por tudo isto de um belo fado escrito e composto por um dos grandes fazedores de campeões de Portugal e que eu tive a alegria de conhecer. O fado chama-se "Valeu a pena" e o seu autor Mário Moniz Pereira, que aqui reproduzo.
A ideia de um dia me reformar nunca me assustou, tal como não me assustou o que adviria desse novo tempo.
Porém a vida nem sempre nos dá o que queremos e assim a minha reforma tem sido um desencadear de novas funções como são, por exemplo, as de um avô.
Todavia, quando no trabalho se começou a falar da futura reforma alguns colegas assumiram o temor desse novo momento da vida. Alguns chegaram mesmo a confessar que não desejavam aposentar-se porque não tinham nada que fazer… lá fora. Já eu…
Desde cedo percebi que um dia teria de deixar o lugar aos mais novos e com maiores valências. Deste modo nunca me preocupei muito em arrumar papéis, especialmente os que derivavam da escrita, ciente que um dia teria tempo para eles.
Como já devem ter percebido não dei aos meus escritos o destino pensado, pois lá continuam em pastas, dossiers, malas e demais gavetas a aguardar que os olhe com mais cuidado.
Certamente que o aparelho a que chamam de computador tem o cuidado de melhor arrumar as coisas que ora vou esgalhando. Depois há também as nuvens que com estas tempestades um destes dias ainda desaparecem. A ver vamos! Contudo o manuscrito não necessita para já de nenhuma nuvem!
Finalmente dou por mim a pensar o que farão agora aqueles meus colegas que não desejavam a reforma. A viverem infelizes...
Foi neste mesmo dia de Outubro de 1982 que a minha vida mudou radicalmente.
Do menino quase imberbe que assumiu trabalhar numa empresa de referência saiu ao fim de 37 anos 9 meses 25 dias um homem bem diferente.
Entrei jovem, solteiro e mau rapaz e saí casado, velho e avô para casa e uma pandemia que atemorizava todos.
Liguei a um velho amigo e colega que entrou comigo neste mesmo dia, para lhe dar um abraço telefónico. A vida dele é assaz diferente da minha, mas cada um é que trilha o seu o próprio caminho.
Um destes dias o Jorge chamou-nos à atenção para um postal que falava sobre a reforma. Segui a ligação, li o postal, fiz o meu comentário e avancei com os meus afazeres. Só que de repente dei por mim a constatar que já estava reformado há quatro anos. Já?
Estávamos no dealbar do covid, as empresas enviaram o pessoal para casa e o mundo parecia não estar a lidar bem com a coisa vírica.
Também eu entrei em tele-trabalho no dia 13 de Março de 2020 para mais tarde perceber que o melhor mesmo seria reformar-me. Deste modo a 1 de Agosto de 2020 passei a engrossar as fileiras dos... reformados.
Quatro anos? - perguntei-me - Parece que foi ontem!
A verdade é que durante este tempo que medeia aquele dealbar de Agosto para este que agora vivemos, muita coisa passou e eu quase nem dei por ela.
Se antigamente tinha um emprego agora tenho um trabalho. Qu'isto de ser avô a tempo inteiro também não é fácil.
Tudo isto para dizer o quê? Que a reforma deve ser pensada logo que principiamos a trabalhar. Ah pois é!
Posso assumir que tive sorte... Porque antes de trabalhar já escrevia, o que equivale dizer que não necessitava de pensar no que faria quando me reformasse. Já em tempo de aposentadoria nasceu uma neta e passei a somar mais actividades às que tinha (leia-se escrita!!!). Já para não falar de uma coisa chamada blogosfera.
Porém deste tempo de reformado retiro duas ideias fundamentais para quem passa à reforma e que não tem nada com que se entreter: a primeira chama-se disciplina. O ser humano necessita dela! Muuuuuuuuuuuuuita. Mesmo que seja apenas para fazes coisas banais. Porque se se entrega ao ócio ou à preguiça sem horas nem regime, creiam-me, envelhece mais depressa. A segunda ideia incide na necessidade de sair de casa. Faça sol ou faça chuva, frio ou calor, neve ou vento. Sair de casa parece-me fundamental.
Obviamente se tiver a sorte de ter com que se entreter, como eu tenho, estas duas regras poderão não ser totalmente aplicadas até porque haverá outras muito mais prementes.
Para finalizar diria que o melhor reformado é aquele vive bem consigo e com a vida!
Estamos em Julho e o calor aperta e de que maneira. Portanto tempo óptimo para aquilo que tantos gostamos: férias em bom português! Ou vacances, holidays, urlaub ou vacaciones. Escolham vocês o idioma...
Assim sendo e se tudo correr como penso e desejo, a partir de amanhã à tarde entrarei num breve regime de férias. Ah... aqueles dias em que podemos descansar e, sei lá, comer alarvemente, beber ainda mais, não fazer "a ponta de um corno", dormir quanto apetecer...
Problema... (e começo pelo fim):
1 - detesto dormir pois sinto que é tempo desperdiçado;
2 - cada vez como menos já que a minha saúde não permite excessos;
3 - bebo muito pouco pelas mesmas razões do ponto anterior;
4 - não gosto de estar quieto e não fazer é sinónimo de estar morto.
Perante este breve rol reconheço uma evidente contradição na minha pobre vida. Porque sendo eu já reformado deveria naturalmente estar sempre de férias. Pois devia... mas não estou.
Enfim... olhemos para os próximos dias com alguma serenidade e procuremos encontrar nos dias momentos saborosos e fantásticos. Pelo menos terei mais tempo para ler e escrever.
Hoje foi dia de almoço com antigos colegas de trabalho! Desta vez fomos apenas dez contra a vintena que por vezes costuma ser.
Agora podemos falar de trabalho, colegas e antigos chefes! Rir dos outros e de nós. Recontar aquela estória tantas vezes repoetuda em cada repasto, mas que todos adoram escutar pela enésima vez!
Trazer à memória personagens com quem trabalhámos, a maioria pelas parvoíces com que nos brindaram.
Portanto um almoço convívio bem divertido, entre risoto e diferentes massas italianas. um restaurante que não conhecia, mas com... pinta (a lasanha de lavagante ficou-me no goto, talvez para a próxima!).
Todavia houve uma altura em que me senti triste... especialmente quando alguém se lembrou de perguntar:
- Vocês lembram-se do Manel Cachopo? Morreu a semana passada!
Um balde de água fria! Depois outros:
- E o engenheiro Jacinto
- A sério? Ainda há meses que me encontrei com ele na Baixa.
Ai tantos e tantas que já foram embora. Gente boa e menos boa. Competente e incompetente, mas todos a fazerem parte daqueles nossos dias!
Lancei a ideia para a mesa antes de acabarmos!
- No próximo almoço ninguém fala de mortos! Só aqui vimos para comemorar a amizade e a vida!
Faz hoje precisamente três anos que passei a engordar aquele clube a que pomposamente clamam de... reformados.
Estávamos no dealbar da pandemia quando abracei esta ideia de reforma. Temi que as coisas não corressem bem, mas até agora a vida tem sido simpática para comigo.
De vez em quando dou conta de mais um colega que partiu. Fico triste, mas ao.mesmo tempo sinto uma egoísta alegria por ainda andar por cá.
Calculo que um dia não escreverei algo semelhante a hoje, mas até isso aceito com estoicismo.
Todavia até lá... há que agradecer cada dia, cada instante vivido.