Sempre gostei de guardar recordações, Sejam os bilhetes de concertos a que assisti, os museus que visitei, as viagens que fiz.
Também guardo muitos dos papéis onde principiei a escrever os primeiros textos. Um deles é um velho caderno de argolas, pautado e onde estão escritas as minhas primeiras crónicas, que mais tarde seriam publicadas num jornal regional. Muitos blocos, muitas folhas soltas, muitas ideias alinhavadas, mas poucos textos realmente escritos.
No entanto guardei tudo... para de vez em quando revisitar com saudade e nostalgia. Saudade de um tempo em que era muito mais novo, com estaleca para dar e vender. Nostalgia por tantos encontros, almoços, jantares, reuniões em minha casa ou em casa de outros. Queríamos mudar o Mundo, os pensamentos, as mentalidades acabadas de sair de uma longa ditadura.
Hoje os nossos computadores guardam tudo no mesmo espaço físico. Não há cadernos, blocos, folhas simples onde se rabiscava qualquer coisa e ali ficava a aboborar...
Entre aquele tempo e agora passaram mais de 40 anos. Quase meio século... O tempo realmente voa e nunca pára.
Vai daqui há uma questão que formulo a mim mesmo: como será daqui a outros 40 anos?
E mais importante de tudo: como serei recordado pelos meus?
Li há muitos anos que a melhor faculdade do ser humano será a capacidade que tem em... esquecer! Não sei se assino esta frase, até porque, como costumo dizer, tenho quase memória de elefante. Seja para os momentos bons ou menos bons!
Tenho a sensação de que as nossas memórias advêm, acima de tudo, da nossa postura perante a vida ou até da conveniência que possamos ter nisso. Passo a explicar:
Quem vê numa roseira mais espinhos que rosas terá mais tendência para guardar dentro de si os acontecimentos menos felizes, fazendo destes a razão anormal da sua triste vida. Ao invés quem se sente bafejado pela sorte simples de viver deixa a maioria das más memórias guardadas num cofre quase hermético, recorrendo a elas somente quando necessita e guarda à superfície da alma as recordações positivas.
Felizmente incluo-me no segundo grupo, já que tento não guardar (por vezes não consigo!) más memórias ou, como escrevi no início deste postal, inclino-me muito mais para esquecer. E quanto mais depressa melhor. Prefiro assim as boas memórias, recordações, eventos... Pois é com base nestas que viajo (ainda) neste Mundo!
Esta manhã fui a uma feira aqui perto para comprara mais umas couves, nomeadamente bróculos e mais uma dúzia de "pencas"!
Comprei as couves, paguei e vim para casa.
A terra fora cavada ontem e portanto só me cabia hoje fazer o regos para plantar as ditas couves. Como vinham em sacos separados, retirei-as e contei-as... só porque sim!
Então contei 13 pés. Fui ao outro saco e contei também 13. Pronto era o que tinha e toca de plantar.
Mas enquanto dispunha as pequenas couves, este caso remeteu-me para uma época, por volta dos anos 70, altura em que ajudei o meu pai no seu trabalho de comprar e principalmente carregar as grades de legumes e sacos de cenouras para dentro da carrinha. O Mercado era o de S. Paulo em Lisboa e foi aí que eu percebi que na maioria das vezes uma dúzia... nunca correspondia a doze, mas treze ou até mais.
Foi uma lição de vida que aprendi na altura e que ainda hoje guardo nas minhas recordações.
Entre as longas férias na Nazaré ou a primeira viagem de avião com os meus filhos até ao arquipélago da Madeira, passando por outras viagens (Itália, Áustria, Inglaterra, França…) teria muito por onde escolher. No entanto fica este registo que foi para mim demasiado marcante.
Lembro-me como se fosse hoje: 6 de Setembro de 1980. Naquele sábado embarquei para França… sozinho. Mas com alguns parcos francos franceses no bolso.
Foi um mês em terras gauleses quase sempre sozinho. Desses dias bons guardo tanta coisa: aquela noite em Montmartre, na Place du Tertre onde comprei um quadro que ainda hoje existe ou o livro “Les Fleurs du Mal” de Baudelaire comprado num alfarrabista no Quartier Latin.
Ou a singela recordação daquele sorriso que uma jovem francesa no comboio para Versailles, linda como jamais eu vira uma mulher, me brindou. E um rubor estampado na minha face…
Ontem revi um antigo colega e amigo. Muito mais velho que eu, ainda assim não deixa de ser alguém que estimo muito.
À porta do meu trabalho falámos de muita coisa, mas a determinada altura ele parava de falar. Dizia-me que se esquecia do que estava a dizer.
Eu já sabia desse seu problema e, portanto, serenamente refiz a nossa conversa de forma a ele retomar o fio à meada.
Estivemos ali longos minutos. Depois decidiu ir para casa e despedimo-nos. Vi-o finalmente partir no seu carro. Imagino que terá chegado bem…
Já em casa fui ao youtube e escutei umas músicas, que em 1975 e anos seguintes, faziam muito sentido na sociedade portuguesa. Fora ele que criara a maioria delas. Mal o reconheci nalgumas fotos que encontrei. Os tempos eram outros, menos idade e obviamente outras roupas.
Hoje escuto as suas músicas e letras que as acompanham com a nostalgia de quem viveu tempos estranhos.
Fica aqui uma das belas melodias criadas por este meu amigo e cantadas pelo agrupamento, do qual fez também parte.
Rever amigos e familiares é sempre bom. Muito bom mesmo!
Ontem o fim de tarde e noite trouxe-me momentos únicos. Após a eucaristia celebrada pelo Padre João Fanha, parti para o Centro Cultural do Covão do Feto onde se desenrolou um repasto para mais de 200 pessoas.
E foi aqui neste espaço, que reencontrei amigos que não via vai para trinta anos. E conheci outros familiares já descendentes de descendentes. Oa anos passam, a família cresce e nós nem damos por isso.
Ontem encontrei um antigo professor de Liceu. Pois... pois... Eu ainda sou do tempo dos liceus.
Foi engraçado encontrar este professor de ginástica e hoje um reconhecido advogado. Viviam-se tempos cunturbados nesses já idos anos setenta.
Ficámos mais de uma hora a recordar colegas de um lado e de outro. Antigos alunos, hoje professores, autarcas, políticos, jornalistas, advogados, engenheiros ou simplesmente meros portugueses... como eu!
Mas vale este texto pelas saudades deste professor. Ensinou-me entre outras coisas a gostar do Rugby, chegando eu a frequentar um curso de treinador, ministrado pela Direção Geral dos Desportos.
Este professor marcou-me claramente. Acima de tudo pela forma coerente como sempre lidou com os jovens revolucionários (e não só!!!) da altura. Na minha qualidade de delegado de turma tive com ele algumas divergências de posição e essencialmente de visão dos problemas, mas conseguimos sempre encontrar pontos de convergência para bem de todos, alunos e professores.
Foi muito bom ontem recordar, nem que fosse por uma hora, a minha juventude. Ainda por cima com alguém que comigo partilhou esse tempo.