Tinha oito ou nove anos quando percebi que havia gente com cor de pele diferente da minha, que entravam em minha casa pela mão do meu pai, sentavam-se à mesa e comiam do que havia.
Depressa me habituei a lidar com homens vindos de África e que me tratavam da melhor forma. É a esta gente que devo o meu apreço pelo piri-piri que eles comiam a rodos e como gostavam ofereciam-me.
Isto para dizer que nunca fui racista e que sempre acolhi as pessoas de outras raças de maneira normal, no meio restrito seio familiar. Sei que houve algumas pessoas que se puserem a criticar esta postura simplesmente humana, mas depressa aconteceu o 25 de Abril e num segundo viraram a agulha.
Parte 2
Bem perto do local onde moro existiu durante demasiados anos um bairro de lata apenas com gente vinda de Cabo Verde. Aquele bairro era de tal maneira hermético que a polícia nunca lá entrava sem ser acompanhada pelas Forças Especiais. Também nenhum luso descendente de tom de pele mais branco se aproximava do bairro quanto mais entrar.
Parte 3
Bem perto deste degradado bairro havia e ainda há diversas escolas: primária, básica. Todas elas com imensos alunos sendo a comunidade cabo-verdiana a que se encontrava em objectiva maioria. Os meus filhos também frequentaram essa escola e foram algumas vezes vítimas desta gente nomeadamente através de pequenos furtos.
Concluindo
Naquele tempo as associações defensoras (e bem !) da dignidade humana nunca se chegaram à frente defendendo outras raças, credos ou simplesmente condenando os meliantes. Não me venham com a ideia de que não sabiam...
Portanto seria bom não esquecer que o racismo é infelizmente um flagelo, mas que existe em todas as raças!
Um destes dias fui com a minha neta de dois anos e meio ao parque infantil. Havia chegado há uns minutos ao local quando surgiu uma turma de crianças quase todas da idade aproximada à da minha cachopa.
Muita alegriaa pois nunca tinha estado com tanta criança ao mesmo tempo. Tendo em conta que a miúda é desenvolvida para a idade, andei sempre perto dela não fosse magoar alguns dos mais pequenos.
Tudo muito pacífico até que a minha neta pegou na mão doutra criança e puxou-a para ir brincar, creio se a memória não me falha, num cavalinho de molas. Ela sentou-se de um lado e esperou que o outro menino se sentasse também. E ali estiveram para cima e para baixo um bom bocado a divertirem-se.
Hoje lembrei-me deste episódio porque percebi que daqui a dois anos a inocente terá de ir obrigatoriamente para a pré-primária, onde lhe ensinarão muita coisa. Ou se calhar só lhe ensinarão... imbecilidades!
A verdade é que qualquer criança, por exemplo, não nasce racista nem com outras limitações sociais. Então como chegámos a este ponto da intolerância?
Fica a questão em aberto para reflectirem.
Só mais um pormenor ainda do episódio do parque infantil: o menino com quem a minha neta interagiu era de raça africana, nada que os impedisse de brincar livremente e com muita alegria!
Nunca me assumi racista, bem pelo contrário, já que desde muito novo, praí com cinco ou seis anos, tinha todas as semanas o Augusto e o Seninho, dois guineenses, à mesa para almoçar.
Adorava estar com eles e aprendi com aqueles e outros guineenses a gostar, por exemplo, de piri-piri. Daquele bem forte!
Vamos então ao que aqui me trouxe… e o que vou contar é uma estória verdadeira.
Há muitos anos um antigo colega correu para a maternidade para que a mulher tivesse o filho. Um rapagão.
Já em casa o casal começou a perceber que a criança não era branca, branca como o pai e a mãe. Isto é, uma troca de crianças havia acontecido na maternidade já que um outro casal acabara de receber uma criança loira e de olhos profundamente azuis.
Após muitas batalhas jurídicas e buscas pelo Mundo fora, o meu colega descobriu o verdadeiro filho fora do país. Curiosa e culturalmente… muito africano!
Esta foi a estória, agora a minha ideia.
Continuo a achar que os portugueses, normalmente, repito normalmente não são racistas. Pois se o fossem provavelmente os chineses e os indianos sentiriam essa força e nunca ouvi uma queixa deles…
Entretanto na casa ao lado da minha vive uma comunidade de gente vinda de Cabo Verde. São muitos… O que é curioso é que mal disponta o Sol, o som da música africana ouve-se a… quilómetros de distância.
Ora bem… se eu for lá pedir para colocarem a música mais baixa porque me está a incomodar chamam-me logo de racista por que eu não quero que eles escutem a música deles, quando o problema reside somente na vontade de não ouvir a música aos berros. Creio que terei o direito de estar em minha casa isento de barulhos incómodos.
Pois é, mas eles gostam e eu tenho de me calar…
Resumindo: o racismo, quer queiram quer não, estará ligado à educação ou à falta dela! Tal como o filho genuíno do meu colega que viveu toda a vida no meio de gente africana e pensava tal como eles, o inverso aconteceu com o rapaz que lhe calhou em destino.
Sinceramente fiquei incrédulo com o que li inscrito nalguns cartazes numa manifestação, supostamente contra o racismo, organizada não sei por quem, nem com que finalidade. Escrevi supostamente por que o que vi escrito invoca outrossim racismo. E tão abominável quanto aquele que originou a morte de um afro-americano nos Estados Unidos.
Pretende-se a eliminação do racismo, e bem acrescento, pela cor da pele, mas faz-se pela profissão? Então e se o polícia for também negro (eu conheço alguns!!!) também deveria pagar com a vida o acto hediondo que outros cometeram?
A realidade humana é mais crua que tudo isto… infelizmente. Há racismo no Tibete, na Índia, na Austrália, em África, no Médio Oriente, na Velha Europa, nos Estados Unidos, no Brasil… enfim por todo o Mundo onde houver dois homens que pensem de forma muito diferente. A cor da pele é quase sempre apenas uma mera desculpa para o mais forte ou mais poderoso tentar impor a sua vontade. Mas exceptuando o país de Trump ninguém fala em racismo noutros locais... Estranho...
Portanto a vida humana, seja ela qual for, deve ser sempre, mas sempre salvaguardada.
Não se poderá nunca justificar uma morte com outras mortes. Seriamos desse modo iguais aos que cometerem as barbaridades.
O tema recente do racismo e xenofobia parece estar outra vez na ordem diária. E digo parece porque, sinceramente, todos os acontecimentos infelizes que aconteceram com pessoas de raça negra ou branca foram eventos esporádicos e sem qualquer conotação racista a não ser aquela que alguns pseudopolíticos pretendem fazer crer.
Morreu um jovem em Bragança brutalmente espancado. Como a vítima era negra foi racismo. Uns dias antes ou depois (já não sei precisar|) três jovens negros abordam um jovem branco no Campo Grande para o assaltarem, acabando por o matar. Desta vez não podendo haver aqui racismo, vão-se desculpando os meliantes com a tão gasta frase: são vitímas das circunstâncias.
Entretanto nas semanas seguintes apercebi-me de manifestações contra o racismo sobre os negros, mas curiosamente não vi nenhum protesto contra o racismo sobre os brancos... Uma dualidade de critérios ideológicos que não me convence.
Termino com a ideia de que, quer queiram quer não, há gente muito boa e gente muito má em todas as raças. Convençam-se disso!
E neste sentido a justiça deveria ser sempre cega...