Sobre escrever e publicar
Há umas semans entreguei o meu último livro a um tio que sempre gostou de ler e aprender, se bem que apenas tenha finalizado a primeira parte do liceu, há meio século, algo que actualmente equivale ao 9º ano de escolaridade. Coisa pouca nos dias que correm, mas antigamente era qualquer já quase um feito.
Sempre gostámos ambos de conversar e quando lhe ofereci o livro veio à baila a minha missão de distribuir todos os meus livros de forma graciosa. Como sei que ele é um tanto avaro vi naquele instante as perguntas a saltarem-lhe:
- Mas tu dás os livros todos? Todos, todos?
- Exactamente. Serão todos para oferecer, mas só a quem eu bem entender...
- Mas o dinheiro que gastas, já nem falo do tempo a escrever e rever...
- Isso importa para quê? O dinheiro tem duas funções, como bem sabe: é ganhá-lo...
- E gastá-lo... - acrescentou logo.
- Certo, mas somente em coisas que gostamos.
Acabei então por lhe explicar o porquê de não entregar o livro a uma editora de renome com distribuidora e livrarias físicas e online. Após a minha explicação ficou a pensar e acabou por me dar razão.
É esta razão que me leva a oferecer os livros o tema deste meu postal e que passo de seguida a explicar.
Todavia uma breve introdução. As editores fortes não gostam de apostar em autores novos. Só se considerarem que o tema do livro é muito relevante... Fora isso preferem autores conhecidos e quanto mais consagrados... melhor! Perante este panorama comercial dificilmente uma editora iria apostar em lançar qualquer dos meus livros.
Vou então supôr que uma qualquer editora quiçá mais corajosa assumia publicar e distribuir os meus contos, tal qual como estão. Acrescento agora uma nova premissa que é a seguinte: o livro até saiu bem e já se conseguiram três edições. Fantástico! Pensaria eu. E com razão... Porém...
Um dia tocaria o telemóvel e do outro lado da linha surgia um qualquer responsável editorial ia dizendo que necessitava de outro livro para daqui a uns meses. Resultado... eu deixaria a minha liberdade pessoal entregue a esta gente e jamais teria a liberdade de escrever e publicar o que me apetecesse e quando me aprouvesse.
Aviso que os dois derradeiros parágrafos são apenas meras teorias sem qualquer correspondência com a minha realidade.
Actualmente já publiquei dois livros por minha iniciativa e tive o imenso prazer de os distribuir por quem me apeteceu. De outra maneira sentir-me-ia aprisionado a um contrato que muito provavelmente não conseguiria cumprir com rigor e a tempo e horas!
Por fim declaro que a maneira como recebo o pagamento dos meus livros faz de mim um homem muitíssimo mais rico. Não em dinheiro, mas em profunda amizade e muito carinho.
E isto é de um valor incalculável!
Espero que tenham ficado esclarecidos, mas se tiveram mais dúvidas basta perguntar.
A gente lê-se por aí!