A aposta em publicar um segundo livro pareceu-me de início arriscada. Não era por falta de confiança na minha escrita, porém fica sempre uma dúvida instalada no nosso espírito.
Lancei o livro sem pompa nem circunstância e distribuí-o pelos amigos e alguns (poucos) familiares. E tal qual um pescador fiquei a aguardar a ideia de cada leitor.
Hoje um antigo colega e amigo a quem também ofereci um exemplar telefonou-me dando-me os parabéns pelo livro. Terminou dizendo que nunca imaginou que eu escrevessse.
Como este tenho recebido muitos outros elogios, como aqui já referi alguns. Chegou ao ponto de um outro antigo colega dizer que fazia muito tempo que não lia um livro até ao fim porque o aborrecia ler, mas que com este conseguiu fazê-lo sem qualquer esforço.
Resumindo a aposta na publicação deste livro parece ter sido certeira. A palavra que mostra o que acabei de escrever é... maduro. Como se fosse uma peça de fruta.
Não gosto muito (diria mesmo nada) de me autoelogiar, mas sinto-me francamente bem ao perceber que este livro faz sentido.
Alguns bons amigos perguntam-me de vez em quando porque não entreguei os meus livros a uma editora mais conhecida e com distribuição?
Entre diversas respostas que poderia eventualmente dar há uma que sobressai e me endossa para a Feira do Livro de Lisboa.
Fui esta tarde à Feira que estava bem composta de gente anónima (portugueses e estrangeiros), alguns escritores, jornalistas e provavelmente também alguns leitores. Nos diversos palcos diferentes temas a serem debatidos e alguns livros.
Subi e desci a calçada do Parque Eduardo VII por diversas vezes. Bisbilhotei aqui, olhei ali, comprei acolá. Nas maiores editores as filas de pessoas para pagar cresciam como rabos de lagartixa. Outras faziam fila para recolher aquele autógrafo do escritor. Também notei muitas mesas vazias com autores à espera que alguém ali caísse com um livro seu. O mundo é mesmo assim... escritores sem mãos a medir enquanto outros apenas aguardam.
Será por tudo isto que prefiro publicar através de uma pequena editora, sem quaisquer compromissos futuros. Mais... não estou nada a ver-me sentado num daqueles palcos a debater as razões lógicas e ilógicas dos meus livros, perante um público que certamente não me conheceria.
Quanto ao resto da Feira... remeto para este postal escrito o ano passado!
Já o disse e em primeira instância o meu livro recentemente publicado não será para vender. Somente para brindar os meus amigos, familiares e outras pessoas que, não sendo nem uma coisa nem outra, tornaram-se importantes na minha vida.
Por isso ontem quando ofereci o meu livro à minha dentista ela ficou muito admirada e fez a pergunta sacramental: é sobre quê este seu livro?
A minha resposta veio até calma já que o meu espírito estava revoltado. Respondi: é sobre parvoíce! A médica riu e ficou sem mais argumentos.
Entendo que cada um tenha uma preferência em temas de leitura. Eu não fujo a esta regra. Mas se um certo autor me oferecer um livro não tenho lata para fazer mais perguntas, apenas agradecer convictamente a oferta. Não é que aquela questão me afecte, mas deixa-me com a triste estranha sensação de que o livro será somente mais um a encher uma estante, sem ser lido.
Quem escreve e publica fá-lo no sentido de que alguém irá, um dia, ler o que publicou. Ou não será assim?
Provavelmente aquando da publicação do meu trigésimo livro já não exiba destes pruridos! A tudo nos habituamos!
Um destes dias entreguei no lar onde agora reside a minha sogra um volume com os Contos de Natal. Uma das animadoras anda a organizar uma biblioteca na residência, onde ainda há algumas pessoas que conseguem ler.
A minha oferta fez com que a animadora me confidenciasse que também escrevia, estando a participar num concurso de escrita.
Perguntou-me se eu teria disponibilidade para ler o seu projecto, pedido que acedi com gosto. Assim há dias recebi o seu texto que me pareceu bem esgalhado. Enviei-lhe a minha opinião que foi sincera e minimamente assertiva.
Porém desde esse dia ficou na minha cabeça a ideia de que as pessoas, por vezes, não percebem que escrever é uma coisa assaz diferente de publicar.
Há quem escreva unicamente para si, como escape ou terapia psicológica e há aqueles que escrevem para que um dia sejam publicados e lidos. Se para os primeiros não há uma regra definida a não ser que se escreva sem erros, para a segunda opção há que ter em atenção em saber quem será o verdadeiro destinatário do livro: crianças, adultos, idosos, jovens?
Esta razão é tão mais importante quando mais estranho for o tema da obra. Por isso aconselho a quem agora começa a dar os primneiros passos na escrita, que tente descobrir:
- para que servirá a sua escrita;
- a que leitor se destina a sua publicação.
Na realidade e após mais de 40 anos a escrever ainda sinto que não encontrei o meu verdadeiro caminho!
A questáo que formulo no título prende-se com mais uma aventura literária.
Após o estrondoso sucesso que foi o primeiro livro com "Contos de Natal" compilados da blogosfera, eis que novo volume se aproxima.
Náo merece a pena irem já para a fila das livrarias com tendas e cobertores para comprarem o volume pois a próxima ediçáo será de muitos milhares de exemplares.
Mais a sério prevè-se para breve uma novel compilação de "Contos de Natal". Muitos autores repetidos, algumas muito boas estreias e uma participaçáo muuuuuuito especial!
Face ao que precede mantenho a pergunta: estais preparados?
É curioso como desde a passada sexta-feira que me sinto outra pessoa. Nem melhor nem pior apenas diferente.
Andamos uma vida a sonhar com algo e quando este nos surge na mão (literalmente!!!) ficamos por vezes atemorizados com as consequências que podem advir do sonho ora tornado realidade.
É assim que me tenho sentido desde o dia 3 deste mês, altura em que oficialmente foi apresentado ao mundo dos blogues, e não só, um livro que reune uma séria de contos de Natal. escritos por 34 autores diferentes e onde eu me incluo.
Foi estranha a sensação de ver um livro onde consta este que se assina como co-autor! Estranha e emotiva. De tal maneira que ainda hoje fico a pensar se serei mesmo eu que estou ali escarrapachado na contracapa do livro no meio de mais de trinta autores diferentes.
Por tudo isto sinto que há uma acrescida responsabilidade e perante a qual, fico muitas vezes a pensar, se terei arcaboiço para lidar com aquela.
O tempo confirmará se estou à altura desta novel aventura!