Uma estória verdadeira!
A professora de Alemão
Nunca fui bom aluno. O tempo que passei na escola foi essencialmente usado para me divertir. Livros nunca, viola sempre!
Naquele tempo o último ano antes da universidade era o sétimo, correspondente ao 11º actual. Com seis disciplinas apenas, três eram obrigatórias para todos os cursos, as restantes definiam a área de opção. Assim, optei por línguas que era de todos o mais fácil. Supostamente.
Porém a minha invariável cabulice obrigou-me a frequentar este derradeiro ano por três vezes consecutivas. No primeiro ano fiz uma disciplina, no segundo fiz uma outra e finalmente no terceiro dispensei do exame a mais uma disciplina, deixando as outras “meninas” para os exames finais.
E é aqui que tudo começa na realidade.
No início desse ano lectivo por alturas de 1978, surgi com uma nota de fim de período de 10 valores a Alemão (que raio de cadeira haveria eu de ter escolhido). Mas a seguir as notas desceram drasticamente para as negativas. A professora simpática e bonita, porém casada, aconselhou-me a anular a matrícula para que eu pudesse propor-me a exame nacional como aluno externo. O pior é que eu tinha que pedir ao meu pai para assinar os papéis e isso estava claramente fora de questão. Não pretendia de forma alguma que o meu antecessor tomasse conhecimento da minha situação. Sem anulação a professora foi obrigada a dar nota: um 8.
Resultado: teria que ter um 11 no terceiro período para ir a exame. Porém as notas mantiveram a sua sofrível qualidade e acabei o ano com o credo na boca. A dúvida era saber se a professora condescendia da minha situação e me daria a nota para ir a exame…
… E assim fez. Sem que eu o merecesse lá vi especado na pauta o 11 que me colocava na sala de exame. Nas vésperas do teste escrito agarrei-me aos livros e tentei estudar tudo o que era possível numa língua extremamente complicada. Fui para o exame ciente que seria uma questão de sorte. Mal imaginava...
Na sala repleta encontravam-se dois professores que distribuíram os exames. Porém, um deles tinha sido o meu professor de ginástica e tinha com ele uma relação de grande amizade. Curiosamente este mestre licenciara-se na… imaginem: República Democrática Alemã. Isto queria apenas dizer que ele sabia Alemão duma forma perfeita. E assim durante todo o exame, sempre que passava por mim ia-me dando uns palpites naquilo que eu esgalhava, ajudando-me a evitar erros mais profundos.
Dias depois pude ver com espanto na pauta de exame um 10 que era suficiente para ir à oral. Se bem que não dominasse a língua como precisaria, o diálogo poderia ser mais fácil.
Era um daqueles dias de calor intenso, que só apetecia estar na praia e eu ali à espera que uma daquelas professoras chamasse pelo meu nome para me examinar oralmente. Uma delas era a professora Genoveva de alcunha Viúva Alegre, de ar austero, voz tenebrosa e implacável. A outra era a simpática da professora que me levara a exame. Espantada por ali me ver, num pequeno intervalo perguntou-me:
- Como conseguiste um 10 para vir à oral? Isso é que foi estudar, hem!
- Pois foi. Mas também tive ajudas… – confessei.
Ficou a pensar que me referia a ela pela nota do final de período, enquanto eu evocava o professor no dia do exame.
Mas esta história tinha que ter outras envolvências. As professoras iam alternando as orais, ora fazia uma ora fazia outra. Sentado no meio da sala e olhando para os que estavam à minha frente para serem examinados apercebi-me que seria a minha professora a fazer a oral. Aí a esperança renasceu. Havia um senão: faltava um aluno.
Ora se ele chegasse entretanto tudo voltaria ao normal, se não eu saltaria um lugar e teria que enfrentar a megera da Genoveva.
Alegria, o ausente chegou por fim. Tristeza, pediu para fazer oral no dia seguinte.
Regressava o inferno ao meu pensamento. Finalmente:
- José… - nem deixei acabar de dizer o meu nome. Sentei-me à sua frente pronto para o confronto que se adivinhava desigual. Olhei-a calmamente qual condenado à morte.
Eis senão quando a minha professora segredou qualquer coisa ao ouvido e começou ela a fazer perguntas. Em Alemão, claro!
E eu a responder como podia e sabia.
Mais perguntas.
Novas respostas.
Por fim mandou-me regressar ao meu lugar. Ciente que não tinha realizado uma prova por aí além, ainda assim acreditei que passaria no exame.
Fiquei aprovado com 10.
Nunca mais vi a professora e jamais lhe agradeci como deveria ser. Fica aqui publicamente o meu agradecimento a essa senhora. Não fosse ela sei lá onde estaria agora…
Obrigado!