Há coisas na política que realmente eu não entendo. E uma delas prende-se com alguns ilustres da vida portuguesa, que adoram chegar-se à frente.
Falo claramente de alguns “presidenciáveis”. A tão longa distância das eleições presidenciais há já quem se assuma como “não-candidato”… Como se esta figura fosse tão ou mais importante que um candidato.
Acredito que por esta hora já se estejam a fazer suposições sobre eventuais candidatos a candidato e em face disso a tentar contar espingardas para uma longa batalha sem ter vencedor (para já!) antecipado.
Abordo este tema porque não gostei do que o Professor Marcelo disse esta noite na TVI. Como pode dizer que não é candidato quando ninguém, que eu tivesse ouvido, referiu que o Prof seria o candidato do Governo a PR.
A opinião de alguns comentadores não chega para um possível candidato deixar de ser uma possibilidade e passar a ser uma certeza. Por muito que custa a alguns pseudo-candidatos.
É por estas e por outras que os políticos são vistos na maioria como gente sem carácter nem categoria, para ocuparem os lugares para os quais foram “chamados” em nome de uma tal de democracia.
Entristece-me profundamente que estejamos (quase) todos, desde 2011, a pagar uma pesadíssima factura, para a qual não contribuímos, e os verdadeiros culpados, na sua emissão, continuem a pulular por aí, como de perfeitos inocentes se tratassem.
E provavelmente ainda consideram que estão em condições para irem a PR.
Finalmente vamos ter governo. Entre avanços e recuos, acordos e desacordos, Pedro Passos Coelho conseguiu que o Presidente aceitasse o novo elenco governativo.
Sai Álvaro Santos Pereira – sempre achei que era um homem que destoava do resto dos ministros, vá-se lá saber porquê – e entra António Pires de Lima. Regressa a um governo Rui Machete e estreia Jorge Moreira da Silva como Ministro dos Negócios Estrangeiros e Ministro do Ambiente respectivamente, mantendo-se o restante ramalhete ministerial.
Pois, falta Paulo Portas… Obviamente o grande ganhador desta crise política. Não só sobe na estrutura governativa como passa a ter mais um Ministério – e que pasta! No fim de contas o líder do CDS vai ter a seu cargo a responsabilidade de fazer crescer a economia. E se as coisas lhe correrem de feição, vamos ter daqui a uns tempos, o CDS a querer ser mais alguém no governo.
Portas percebe muito bem como reage o país aos impulsos políticos. Ainda temeu, de certa forma, com a aquela ideia peregrina de Cavaco Silva, em avançar com um governo de “Salvação Nacional”, mas teve a sorte e provavelmente o mérito do PS não aceitar as condições apresentadas pelos partidos da maioria parlamentar.
Portanto “habemus Portas” com a mão na “massa”. Veremos se a sabe gerir tão bem quanto tem vindo a apregoar.
Não me recordo de haver duas semanas políticas tão inúteis, como estas últimas.
A demissão de Vítor Gaspar fez implodir o Governo. O líder do CDS demite-se das suas funções, devido à entrada de Maria Luís para as Finanças. Passos Coelho tenta segurar Paulo Portas com um novo (re)acordo entre os partidos da coligação dando-lhe o lugar de vice Primeiro Ministro. Sem se perceber ainda muito bem porquê, o Presidente da República meteu-se nesta brincadeira, lançando mais pólvora para uma fogueira já de si demasiado crepitante.
Obviamente que a semana de reuniões tripartidas foi um “flop” e Cavaco Silva, tal como eu calculei aqui, acabou por aceitar o governo de Passos Coelho com ou sem remodelação. A pergunta permanece assim no ar, qual nuvem plúmbea: porquê senhor Presidente?
Olhando à distância estes (novos?) líderes partidários, Pedro, Paulo e António José, quase se assemelham a três crianças a brincar felizes aos políticos, enquanto o avô Aníbal se diverte a observá-los placidamente.
Creio que é tempo de deixarmo-nos de brincadeiras e começar a sério a trabalhar, para que não hipotequemos definitivamente o nosso futuro e o dos nossos filhos.
A Montanha “nem” pariu um rato. Assim se pode resumir esta ultima semana de negociações, entre PSD, CDS e PS. Cada um à sua maneira foi atirando para os outros as culpas dos insucessos. O usual, nestes casos!
Enquanto isso, os partidos à esquerda e as Confederações sindicais reclamam eleições antecipadas. O patronato, por sua vez, prefere que este governo se mantenha em funções.
Resumindo, o actual PR expôs-se, ao desejar um governo de “Salvação Nacional”, ao ridículo de se as negociações falhassem, como aconteceu, ter de aceitar o governo proposto por Passos Coelho ou então convocar novamente eleições, com os enormes custos políticos, sociais e económicos que dessa decisão adviriam para o nosso país.
Mas se o PR não fica bem neste “fotografia” política, também o PS não sai desta telenovela sem culpas. Era óbvio que o partido do Largo de Rato não desejava ficar ligado às futuras decisões governamentais. Os custos eleitorais dum aval a um outro governo PSD/CDS seriam incalculáveis. Mas ao invés do que afirma, Seguro foge de ser governo como “o diabo foge da cruz”. O tempo é ainda de vagas anorécticas. E o PS quer ter dinheiro para gastar, bem à moda “socratiana”.
Temos assim um Presidente diminuído politicamente, um PS amedrontado com a eventual marcação de eleições e um governo também ele estranhamente (ou talvez não!) silencioso. Muito (ou quase nada?) se espera da próxima comunicação ao país de Cavaco Silva.
A verdade é que com todo este imbróglio político já se passaram duas semanas. E Portugal não se pode, nem deve dar a estes luxos democráticos, sob pena de jamais sairmos desta crise que a todos assola.
As trocas e baldrocas em que o Presidente da República se meteu, com o desejo peregrino de um governo de “Salvação Nacional”, colocou-o numa posição demasiado frágil para o lugar que ocupa. Um homem de Estado não pode, ou melhor, não deve, assumir tornar-se parte de um problema em vez de parte da solução.
Como economista e professor universitário, para além de ter sido primeiro ministro, o actual PR tem a obrigação de saber como os mercados são sensíveis e nervosos a diferentes decisões políticas, daquelas entretanto acordadas entre os partidos da coligação governamental. Sinceramente ao fim deste tempo, ainda não entendi o que pretendeu o professor Cavaco com esta chamada “ao quadro” do PS. Se era, como já referi aqui, entalar o Partido Socialista, António José Seguro vai conseguir sair deste impasse com mais força do que entrou.
Primeiro, porque vai votar a favor da moção de censura dos Verdes, o que equivale dizer que alinha com a esquerda parlamentar. Segundo, ao negociar ao mesmo tempo com os partidos da coligação, coloca-se naquele patamar de partido dialogante e disponível para "salvar" o país. Duma forma simples o PS joga em dois tabuleiros diferentes, ficando em qualquer dos casos, sempre bem visto aos olhos dos portugueses. Os de esquerda e os de direita...
Temos assim uma semana, para percebermos se a opção do PR em envolver Seguro nas negociações, foi um gesto de estadista visionário ou apenas (mais???) uma precipitação presidencial.
Quando já tudo se encontrava apaziguado, decidido e assumido, eis senão quando, o senhor Presidente da República, acaba por lançar fogo ao clima político que ora se vive.
Numa semana demasiado tórrida tanto em termos caniculares como em termos partidários, nada pior que um PR a lançar para uma virtual mesa de negociações, as premissas para um acordo de “Salvação Nacional”.
Esta decisão presidencial veio criar diversos problemas, não só logísticos como também estratégicos para o (ainda) actual governo, entretanto (re)acordado entre PSD e CDS. Para o PS a notícia também não é boa… longe disso. O partido de Seguro ficará agora “entalado” entra as suas (poucas) propostas apresentadas e a avalização das futuras decisões governamentais. Era evidente que neste momento o que o PS menos desejava e esperava era ser governo, independentemente dos diversos apelos a eleições antecipadas por parte de Tó Zé Seguro.
Por outro lado o professor Cavaco deu um puxão de orelhas no governo, retirando-lhe outrossim alguma confiança política.
Observado por outro prisma, este “incêndio” político vai criar uma instabilidade que não é de todo desejável. Daqui a uns tempos estaremos a ouvir Pedro Passos Coelho ou Paulo Portas a queixarem-se de não conseguirem aplicar medidas porque o PS não concorda e este a lamentar-se por que as suas ideias não são bem recebidas pela maioria parlamentar.
No limite talvez entenda o que pretendeu Cavaco com esta tomada de posição, mas creio que o fez tarde demais. Em 2011, teria sido um bombeiro salvador.