O João Ferreira Dias chama a atenção neste seu texto para o facto do Almirante Gouveia e Melo poder eventualmente candidatar-se a Belém e daí advir algo menos simpático.
Em jeito de comentário diria que entendo os seus receios, mas serão certamente injustificados. E passo a explicar a minha ideia.
Desde há muuuuuuuuuuuuuuuito tempo que o PS tem dados diversos tiros no pé no que se refere às eleições presidenciais. Recordo que por mais de uma vez diversos candidatos saíram das fileiras socialistas originando uma divisão interna da qual o partido do largo do Rato nunca se libertou.
Manuel Alegre e Maria de Belém são dois exemplos mais recentes e já nem trago aqui a candidatura de Salgado Zenha em 1986 (na altura numa total rota de colisão com Mário Soares).
Perante uma amálgama de sarilhos o PS não tem nas suas fileiras verdadeiros candidatos à PR. Poderia haver José Sócrates, mas este arranjou um belíssimo sarilho ao PS ao deixar-se enredar numa teia de acusações (verdadeiras ou falsas, todavia marcantes!) que lhe estragaram a vida política.
Falou-se há tempos de António Guterres ou António Vitorino como proto-candidatos, mas creio que nenhum deles sente já estaleca para entrar numa campanha eleitoral que será sempre desgastante. É que os anos também contam!
Posto isto e com o bom trabalho feito pelo Almirante Gouveia e Melo aquando da pandemia, o PS tenta arregimentá-lo, diria quase à força, para Belém. Porém um verdadeiro militar vê nos seus actos apenas missões e para as quais é chamado. E neste caso não me parece que o actual Chefe do Estado Maior da Armada sinta atracção pelo poder. Pelo menos até perceber quem poderá ser o seu opositor!
Nos finais dos anos sessenta até ao 25 de Abril viveu-se, em Portugal, a chamada "Primavera Marcelista". Esta estação política teve origem num primeiro ministro que sucedeu a António Salazar e que foi, imagine-se, padrinho do actual Presidente da República, tendo este último herdado o nome. Nessa altura a vontade de dar para o exterior uma imagem mais democrática de Portugal não foi de todo conseguida, não obstante as conversas televisionadas, onde o Presidente do Conselho, Marcello Caetano, tentava explicar o inexplicável.
Quarenta anos depois há um novo Marcelo no poder. Desta vez em Belém.
Todavia este Marcelo nada tem a ver com o seu padrinho (que tinha realmente dois eles). Este faz-me lembrar mais aquele célebre brasileiro que nos anos oitenta dava beijos a todas as figuras ilustres que visitavam o país do samba, tal é a propensão do PR para o ósculo fácil.
Um destes dias um antigo bastonário da Ordem dos Advogados disse, para quem o quis ouvir, que MRS adora ser assim... desejado e idolatrado pelo povo, qual rei popular. Mas eu que já vivi muitos anos e vi muita coisa, olho para esta postura com uma enorme desconfiança. Cheira-me que esta tentativa de omnipresença do actual PR é demasiado teatral, não me parecendo de todo genuína.
No entanto, reconheço que é disto que o povo gosta, mas será isto que o povo realmente necessita?
É já esta semana que o Professor Cavaco Silva abandona a política. Definitivamente? Nem imagino!
O que sei é que o seu substituto em Belém terá, em princípio, uma postura muito diferente do ainda PR. Por formação, educação ou outra razão qualquer vou-me apercebendo que o Professor Marcelo será um PR claramente pró-activo.
A Presidência de um País não confere grandes poderes ao seu titular mas pode influenciar algumas decisões.Vamos assim, paulatinamente, descobrindo quais as novas ideias do novo Presidente.
O problema, no entanto, acaba por ser sempre o mesmo... As promessas eleitorais tardam muitas vezes em ser cumpridas.