Costuma-se dizer que a idade é apenas um número. Tenho de concordar já que sou diariamente confrontado com gente muito mais nova que eu em idade porém muito mais velha em ideias e preconceitos. Tal como dou conta do contrário onde acções e pensamentos são de alguém muito novo embutido num corpo de idoso. Portanto temos de tudo um pouco na nossa actual sociedade.
Recuemos agora mais de meio século e aterremos nos finais dos anos 60. O Woodstock acabara de acontecer e eu tinha acabado a escola primária, libertando-me de uma vez por todas das garras da professora Maria Delfina que mais me prejudicou que ajudou, naquele dealbar de vida escolar!
Entrei numa escola em Almada, para frequentar o Ciclo Preparatório que correspondeu a dois anos, antes de optarmos pelo Liceu, Escola Comercial ou Escola Industrial (outros tempos de verdadeira Educaçáo, pedindo já desculpa aos actuais elementos deste ramo tão importante da nossa actual sociedade pela forma quase saudosista como referi aquele tempo!).
Da minha casa à escola eram uns bons quilómetros. Assim aos 10 anos, fizesse sol, chuva ou frio, lá ia eu apanhar um autocarro. Nesse tempo vivia no Laranjeiro mesmo encostado ao Feijó e todos os dias, manhã cedo, andava perto de um quilómetro para apanhar um autocarro que me deixaria na Cova da Piedade.
Naquela paragem havia sempre muita gente, mas eu só apanhava o autocarro que viesse ou de Paio Pires ou do Seixal porque eram os únicos que cobravam apenas meio-bilhete a quem tivesse menos de 12 anos. Nesse tempo custava cada viagem quatro tostões (hoje 0,0019951916 euros). Parece irrisório, mas ao fim do mês era dinheiro. Portanto havia que poupar. Outros tempos!
Regressemos agora aos dias de hoje e a uma viagem rápida que fiz a Lisboa. Poderia ter optado pelo Metropolitano, mas preferi o comboio. Fui a uma máquina e investiguei os tipos de bilhetes que apresentavam quando descobri a tipologia "Idoso". Uma explicação breve dizia que quem tivesse mais de 65 anos pagaria metade do bilhete. Assim fiz e na verdade ida e volta custou 1,80 euros enquanto um bilhete normal simples custa 1,75 euros (não é metade mas quase!!!).
Posto todo este vai-vem temporal, aceito que a idade será mesmo um número! Ou será mais assertivo dizer que a idade é apenas um valor?
Lembro-me com saudade das antigas Feiras do Livro de Lisboa, quando os pequenos stands amarelos escorriam pela Avenida da Liberdade abaixo.
Hoje a Feira do Livro não é um encontro da população com a escrita através dos livros, mas quase só uma feira de comes, bebes e demais coisas, com uns livros à mistura.
Um dos exemplos do poder de compra dos portugueses está também nesta postura demasiado consumista e menos cultural. Disfarça-se depois a coisa com umas sessões de autógrafos e mais umas actividades e... voilá... uma Feira do Livro bem moderna e actualizada.
Fui à Feira este ano numa correria pois sabia que os autores de certo livro que queria comprar estariam presentes para autografá-lo. Adquiri o "dito-cujo" que foi devidamente autografado pelos escritores e parti tão depressa quanto cheguei... sem percorrer mais nenhum stand.
Outrora a Feira do Livro de Lisboa era um local quase mágico, onde poderíamos calmamamente ver os livros, folheá-los sem sermos empurrados. Tudo isso desapareceu para dar lugar a uma fauna humana estranha e muito volátil.
A Feira perdeu alguma da magia de outros tempos...
A resposta não vem no sopro do vento como escreveu Bob Dylan nem no silêncio que por vezes me invade. Diria mesmo que não há uma resposta perfeita à questão.
Desde muito cedo que iniciei a escrever. Textos pequenos e pobres, mas com o tempo fui evoluindo e abraçei vários projectos jornalísticos.
Já neste século acordei para a blogosfera. Todo o mundo ali à distãncia de um simples clique.
Hoje lembrei-me dos primórdios da minha escrita e dos sonhos que naquele tempo persegui. Que ingenuidade. Passaram muitos anos, talvez em demasia, desde esse escolástico tempo, porém o desejo de um fim de excelência mantém-se.
Faz muitos anos que não recebia uma carta destas... Daquelas manuscritas por uma mão firma e decidida, com uma caligrafia muito bonita e perceptível e que nos comove até às entranhas.
Todavia uma missiva simples que percorreu milhares de quilómetros até chegar à minha mão.
Não falava de trivialidades, mas da vida tal como ela é, de bons e menos bons momentos, dos filhos e dos netos, de alegrias e tristezas, de solidão e companhia.
Recebi hoje uma carta!
De alguém que me diz muito, que sempre me apoiou e estendeu a mão. Lembro-me das matinées no cinema Avis e a seguir aquele lanche! Lembro-me dos poucos brinquedos que tive e que ela me ofereceu.
Hoje tem muita idade... mas ainda consegue escrever uma carta!
Bela... como são todas as cartas escritas com o coração!
Quando olho para o triste exemplo que tenho em casa, temo pelo meu futuro.
Miro aquele ser feminino e frágil de 90 anos que nem vive nem deixa viver. Não sabe quem somos, o que lhe somos nem o que lhe fazemos. A senilidade abraçou-a com força e não a larga. E cada dia é mais apertada por aquela.
É disto sinceramente que tenho medo... de me esquecer de quem sou, de quem são os meus ou o que faço netse Mundo.
Sempre tive boa memória, mas reconheço que cada dia que passa arrisco-me a que as lembranças deixem de existir na minha cabeça.
Dizem que há tratamentos, mas preferiria não ter de os tomar. Mas por outro lado também não desejo vegetar por este Mundo!
Portanto... o melhor mesmo será viver o instante seguinte intensamente!
Durante os cinco dias que estive ausente no campo deu para pensar. E muito.
Revi a minha vida passada, tentei perceber o meu presente e acima de tudo receei pelo meu futuro.
A idade encarregar-se-á naturalmente de me colocar na reforma num futuro mais ou menos próximo. E esse será um momento quiçá estranho: num dia tenho de cumprir horários para no dia seguinte deixar de o fazer. Assim com um simples estalar de dedos.
No entanto não é esse tempo que receio, mas unicamente não ter o tempo suficiente para dar luz a alguns projectos, que vão enchendo a minha mente, antes de ir desta para melhor.
Jamais passarei de um escritor mediano para não dizer sofrível. Mas mesmo assim gostaria de deixar aos meus herdeiros um pequeno património, mais ou menos intelectual, e do qual todos se orgulhassem. Todavia para que isso aconteça necessito trabalhar muito mais na escrita. Não imagino sequer se terei oportunidade de o fazer.
Entre o passado já longínquo, onde assentam as minhas boas e más memórias e o futuro claramente incerto, reside o presente, o momento actual que vou desbravando com aquele sentimento de que a vida deve ser vivida cada hora, minuto e segundo sem quaisquer temores.
Na passada sexta-feira fui ao teatro. Mais propriamente ver a peça mais recente de Filipe La Féria, no Politiema. Uma revista engraçada, todavia muito longe do sucessso que foi o "Amália", que vi por diversas vezes, ou mesmo de "My Fair Lady".
Mas não é como crítico de teatro que aqui estou. Não me arrogo a tanto!
Comprei os bilhetes dois dias antes pela "net" e por isso paguei a menos sete euros e meio por cada bilhete. O que equivale dizer que poupei o valor de um dos bilhetes. O jantar recaíu num dos restaurantes conhecidos daquela mini "Soho" londrina.
Tudo isto para dizer o quê? Bom vamos então ao que interessa!
Durante muitos anos vi diversos espectáculos de música com as melhores bandas do mundo. E o curioso é que, ainda hoje, guardo esses bilhetes que me permitiram sentir as vibrações musicais de diferentes gerações.
Vi Rolling Stones, Pink Floyd, Metallica, Bryan Adams e muitos outros numa época em que os bilhetes eram sinal de marca. Como estes:
Anos mais tarde regresso aos espectáculos, mas para enorme tristeza minha os bilhetes perderam grande parte da piada. Vejam então a diferença:
Com os bilhetes de teatro aconteceu o mesmo. As bilheteiras on-line são mais baratas, é certo, mas retiram parte do glamour de antigamente.
Donde concluo que nem sempre o moderno é o melhor!
Decididamente os meus fins de semana têm muita coisa menos serem monótonos.
Desde ontem que quase não paro. E já fiz de quase tudo, um pouco!
Há trinta anos numas derivações das "Respostas a Proust" respondi que o que eu mais gostaria de fazer na vida era ter os fins de semana para descansar.
Hoje como ontem e três dezenas de anos depois continuo a pensar e a sentir o mesmo!
Não tenho boas lembranças dos Natais da minha infância. Mais… foi durante a minha meninice e por esta quadra que sofri a minha primeira enorme decepção de vida.
Naquele tempo não havia Pai Natal, só o Menino Jesus. E sem bem que nunca tenha percebido como é que aquela Santa personagem conseguia estar em todo o lado ao mesmo tempo, a verdade é que respeitava e admirava a figura mais frágil do presépio. Só que naquela noite as coisas correram realmente tão mal que acabaram por me desvendar o mistério de quem era o Menino Jesus, tentando dessa forma minimizar estragos. Todavia o choque da revelação foi tão grande que só me refiz totalmente do trauma quando já tinha filhos.
Durante os anos seguintes e que mearam entre estes tristes acontecimentos e o nascimento do meu filho varão, olhei normalmente para o Natal com alguma apreensão e acima de tudo com natural desprendimento.
Mas a vida é fértil em ensinamentos e rapidamente entendi que o Natal teria de ser algo deveras diferente, para melhor, do que fora enquanto menino. E os sorrisos e olhares dos meus filhos perante a árvore de Natal culminando nos tão brilhantes presentes, constituíram um capital de ganho dificilmente substituíveis.
E hoje?
Hoje o meu Natal significa essencialmente estar perto da família. Ascendentes e descendentes como companhia, risos e conversas em cada ano renovadas. Acepipes sempre apetecíveis e a reclamar prova.
Hoje o meu Natal é paz e uma serenidade perante o futuro cada vez mais incerto.
Hoje o meu Natal é lembrar-me que nesta época há quem nada tenha para comer e ninguém com quem celebrar.
Hoje o meu Natal é não esquecer os que estão doentes ou desempregados.
Hoje o meu Natal é descobrir em cada ser humano uma fonte de esperança num mundo melhor.
Hoje o meu Natal é um presépio onde não há nenhum menino nas palhinhas deitado, apenas um homem sentado numa velha pedra, aguardando pacientemente que do céu surja uma estrela que lhe ilumine o caminho.