Quando na passada sexta-feira sob uma chuvada intensa. mesmo com oleados vestidos andeoia colher azeitona, um dos pensamentos que me passou pela mente veio em modo pergunta:
- Quanto deveria custar cada litro do azeite que sairá daqui?
Só um quase louco passaria a manhã sob uma intémperire danada para apanhar meia dúzia de sacos de azeitona e assim sendo ninguém é culpado desta minha loucura. Ou se tem de haver serei apenas eu!
Nos últimos dois anos o preço do azeite no lagar escalou como nunca. Recordo aqui que na campanha de 2021, quando houve fartura de produção, o azeite chegou a vender-se a três euros em contrapartida ao ano de 2023 que paguei a sete euros e meio o litro. Mais... o ano passado o dono do lagar perguntou-me se não quereria vender-lhe o meu azeite e que mo pagaria a oito euros.
Não sei qual o caminho que levará o preço do azeite este ano. Já li que irá manter-se alto, li o inverso, mas por enquanto aguardo os novos preços no lagar.
Certamente não irão descer como muitos gostaria, mas a produção deste ano estará em alguns lugares a anos -luz de outros anos.
Ontem estive ausente da escrita como aqui justifiquei.
Tudo por causa da morte de uma tia, na Beira Baixa, com 90 anos, demente e doente. Assim sabida a notícia, tive de arrancar para a aldeia beirã donde havia regressado há 15 dias. É a vida e as pessoas merecem uma derradeira homenagem no momento da sua partida.
No velório encontrei muita família, como é apanágio destes acontecimentos. Conversa para aqui, conversa para ali acabei a noite a falar da campanha deste ano da azeitona com um primo. Falámos dos preços astronómicos a que se encontra actualmente o azeite, mas concluímos que bem vistas as coisas, aquele está demasiado caro para quem o compra, mas quase no preço justo para quem o vende.
A ideia ocorreu-me já de regresso: tentar apurar os custos tidos com as oliveiras. Certo de que a campanha deste ano iniciou quando acabou a anterior...
Assim comecei a apontar as despesas desde o ano passado. Logo que encerrou a campanha de 2022 pedi ao podador que limpasse as oliveiras mais necesssitadas. Trabalho feito eis a primeira despesa: 400 euros!
Depois entrou um tractor de estrume na terra que eu não contabilizo pois faz parte da renda a pagar por um dos rendeiros (se tivesse de pagar seriam no mínimo 150 euros). A seguir falei com um homem para espalhar o dito estrume ao troço das oliveiras. Fê-lo e levou-me 80 euros.
Veio o Inverno seco, a Primavera sem água, mas ainda assim algumas oliveiras cuidaram em ter azeitona. No fim do Verão contratei um homem para ir a cada oliveira e cortar os "ladrões" e algum mato que houvesse. Mais 60 euros!
Finalmente a apanha! Aqui gastei 450 euros em mantimentos para o pessoal presente, 100 em gasóleo para ir e vir e mais 60 para portagens. Finalmente 457 euros para me fazerem o azeite no lagar!
Somemos então:
400 mais 80 mais 60 mais 450, 100, 60 e 457. Dá aproximadamente 1600 euros gastos. Agora vamos dividir por 224 litros de azeite que foi a colheita de 2030 quilos de azeitona. Dará 7,1 euros por litro.
Todavia é bom não esquecer que a azeitona não se apanha sozinha e foi necessário mão de obra. Durante três dias fomos cinco pessoas e dois dias... quatro. Que não receberam um tostão como pagamento.
Tal como não falo dos custos das máquinas de colher, nem a electricidade que se gasta para carregar as baterias, nem os sacos ou os panos. Finalmente a ajuda ao homem que levou a azeitona no tractor até ao lagar!
Na verdade tudo isto são custos... E grandes!
Portanto o azeite fica muito caro... Mas para mim ainda valerá a pena pois fica o gosto e o prazer de estar a comer algo que ajudei a fazer chegar ao meu prato. E esse prazer ninguém mo tira e é impagável!
Há muitos anos numa conversa normal, o meu falecido sogro (um bom homem, do melhor que já conheci!) porque estávamos a falar de fazendas rústicas, perguntou-me a determinada altura:
- Quanto acha que valerá o Ameal?
Ora este pedaço de terra fértil tem pouco mais de 20 hectares, sendo 5 de sobreiros, 10 de pinhal bravo e o resto de terra centeeira onde costuma pastar o gado ovino. Perante a questão feita assim de chofre respondi célere:
- Essa fazenda não vale nada!
Ui... o que fui dizer! Ia-me comendo em cima de um naco de pão, como soi dizer-se. Deixei-o barafustar para depois lhe explicar a razão da minha resposta. Disse-lhe então:
- As coisas só têm realmente valor se tivermos ideia de as comprar ou vender.
Ele olhou para mim ainda desconfiado e deixou-me continuar:
- Está com ideias de vender essa fazenda?
- Nem pensar... Nem com todo o dinheiro do Mundo eu venderia.
- Ora aí está... Uma fazenda sem valor. Perceba que o valor só existe realmente quando se pretende adquirir ou desfazer de algo. Até lá...
Vencido, mas não convencido acabaria muito mais tarde por dizer a outros o que eu lhe havia afirmado, percebendo onde eu pretendi chegar!
Quem estiver a ler este postal poderá pensar: mas tudo tem um preço... Estou perto de concordar. No entanto falta aquele bocadinho de um nada, que no fundo é tudo, mas que é tão nosso e para o qual não há qualquer valor que se possa atribuir.
Portanto o melhor valor que temos certo é a paixão de vivermos, o ensejo de ajudar, a alegria de acordarmos todos os dias! O resto pode ser apenas dinheiro que depressa desaparece.