Jamais frequentei uma universidade. A única vez que entrei oficialmente numa faculdade foi há quarenta anos, quando fui fazer uns exames de admissão para a entidade que ainda hoje me paga o ordenado. Fora isso…
Assim tenho alguma dificuldade em perceber a razão das praxes. Dizem alguns defensores que estes estranhos rituais servem essencialmente para acolher os novos alunos nas diferentes faculdades.
A tradição maior nas praxes, pelo que sei, seria na bela cidade de Coimbra onde havia uma certa escala de valores que empurrava o caloiro para o fim da lista, após o cão e o polícia.
Os tempos são hoje muito diferentes e os casos de violência das praxes sucedem-se e alguns com resultados bem nefastos (lembram-se do caso da Praia do Meco?). No entanto as iniciações continuam e algumas são tão idiotas que não me parece que tragam algum valor acrescentado à relação entre caloiros e alunos mais antigos.
Esta semana algumas praças na cidade de Lisboa têm sido palco de diversas manifestações onde se destacam as negras capas quais morcegos a atentarem os novos alunos com praxes, algumas delas sem graça nenhuma. Humilhar um ou uma jovem de 17 ou 18 anos na via pública não me parece praxe. Parece-me mesmo parvoíce.
Querem praxar os novos alunos? Ok façam-no. Levem então luvas descartáveis e mandem os caloiros apanhar as beatas de cigarro do chão, levem-nos a uma mata e ordenem-lhes que limpem o lixo que outros por lá deixaram, conduzam-nos a uma praia e colham o que não é do mar.
Uma praxe onde o ambiente, a cidadania, a urbanidade estão primeiro. Pois antes de serem médicos, advogados ou engenheiros os novos alunos são pessoas e devem ser tratados como tal. Não são o lixo que se espalha nas ruas.
Já por diversas vezes aqui falei de como os turistas invadem constante e selvaticamente a nossa capital.
Deste modo passou a ser mais ou menos consensual que Lisboa é o centro das atenções do Mundo, seja porque a Madonna veio para cá viver ou seja por outra geringonça qualquer.
E depois há a tal de economia, mãe de todos os problemas e de todas as (futuras) soluções.
Posto isto passo à frente, porque atrás vem gente e o que me trouxe aqui nada tem a ver com turismo. Ou será que tem?
Pelo que me foi dado constatar iniciaram as aulas nas faculdades (o trânsito citadino é disso testemunha). Ora como este ano surgiram mais vagas na universidade, nos últimos dias passei a ver uma amálgama de seres de negro, que mais parecem morcegos.
Eles ocupam os passeios, exibem uma algazarra invulgar e, pior que tudo, carregam atrás de si uma turba de miúdos e miúdas, que a única coisa que fazem é seguir os “Bat’s” desta vida, numa gritaria abissal.
Por onde haja uma universidade, pública ou privada, eis que eles (os jovens) aparecem, vindos sabe-se lá de onde para incomodar quem anda pela rua.
Se eu tivesse sido aluno universitário e pertencesse à turma da praxe, aplicava à malta caloira a pastilha de irem para a praia apanhar todo o lixo que encontrassem. Resolvia dois problemas: limpava as praias da poluição existente e podiam gritar o que quisessem sem incomodar ninguém.
E acima de tudo educavam-se, de forma vincada, os futuros doutores deste país!
Todos os anos há quem fique claramente traumatizado.
Falo obviamente das praxes académicas.
No entanto para este ano lectivo o governo lançou uma campanha defendendo o estudante que não pretende participar nos actos das praxes. Ou como diz o povo "depois de casa roubada, trancas à porta".
Vai para muuuuuuitos anos que os portugueses vão recebendo notícias de acções menos próprias e menos correctas nas praxes académicas, já para não chamar a algumas delas violência pura (física e intelectual). Os grandes defensores destes actos, todavia, consideram esta tradição uma forma dos caloiros serem melhor aceites nas respectivas faculdades. Tudo muito bem, desde que o limite do razoável jamais seja ultrapassado. Mas é aqui precisamente que está o busílis da questão: o que é razoável para mim pode não ser para o outro e vice versa.
Vou mais longe... Pelo que sei há caloiros que aceitam todas as acções sobre eles, subordinados a uma ameaça, de durante a futura vida académica não serem ajudados por outros colegas. Chantagem ignóbil!
Por isso não acredito que esta recente campanha, lançada pelo actual governo e unanimemente apoiada pela AR, consiga de alguma forma controlar esta (nova) forma de violência juvenil, devidamente encapotada por "Capas Negras".