Foi notícia de primeira página num jornal diário a errada atribuição da autoria de um poema a Sophia de Mello Breyner Andresen.
Segundo o autor do texto, a filha da poetisa tenta desassociar o escrito da suposta autora. Todavia parece um trabalho árduo já que numa pesquisa rápida na Internet este poema está (quase) sempre atribuído à primeira mulher vencedora do Prémio Camões.
Voltando ainda ao texto do jornalista, este refere que o poema é “…fraquinho…” entre outros epitetos desvalorizando obviamente os versos. Não sou um especialista na escrita da poetisa nascida no Porto e portanto não posso avaliar se o poema teve ou não o cunho de Sophia.
Mas nestas coisas de direitos de autor e apócrifos fico sempre de pé atrás, porque não percebo porque alguém que escreve um texto deixe que a autoria do escrito seja atribuído a outrém sem que isso o melindre. Só se houver segundas (más) intenções, o que não parece ser o caso.
Há, no entanto, nesta história algo estranho, aspectos que não consigo compreender. Primeiro a forma como este poema aparece ligado à Sophia, depois a sua imensa proliferação.
Fica somente uma questão: não poderia a poetisa ter somente escrito um poema menos bom aos olhos dos especialistas?
Quem anda pela escrita nem sempre é feliz nos seus textos. Faz parte da vida!
Hoje em 1580 falecia Luís Vaz de Camões e pouco tempo depois Portugal perderia a sua soberania para Espanha, que só recuperaria em 1640.
Hoje é dia de Camões, quiçá o maior poeta de todos os tempos.
Hoje andei a reler diversos sonetos de diversos autores, Camões incluído..
Hoje li também Bocage... e ficou dessa leitura este lindo soneto em homenagem ao nosso enorme poeta:
Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu quando os cotejo! Igual causa nos fez perdendo o Tejo Arrostar co sacrílego gigante:
Como tu, junto ao Ganges sussurrante Da penúria cruel no horror me vejo; Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, Também carpindo estou, saudoso amante:
Lubíbrio, como tu, da sorte dura, Meu fim demando ao Céu, pela certeza De que só terei paz na sepultura:
Modelo meu tu és... Mas, ó tristeza!... Se te imito nos transes da ventura, Não te imito nos dons da natureza.
Comemora-se hoje os 100 anos da morte daquele que foi por muitos considerado o impulsionador do Modernismo em Portugal.
Amigo íntimo de Fernando Pessoa a quem influencia com a sua visão vanguardista, foi a este poeta que Mário escreve uma última carta anunciando o que faria alguns dias depois: suicidar-se.
Um dos mais brilhantes poetas do início do século XX e que raramente é divulgado, deixou-nos alguns textos fantásticos.
Descobri faz algum tempo um talento numa prima, Isilda de seu nome: o de escrever poesias.
Nasceu numa pequena aldeia, de nome estranho: Covão do Feto.
Aprendeu a ler e a escrever sim, mas cedo partiu para a fábrica para trabalhar e ganhar o seu sustento. Um dia, porém, decidiu procurar sorte em França. E para lá partiu onde já se encontrava um irmão.
Casou em terras gaulesas também com um imigrante luso e lá nasceram os seus dois filhos. Regressou à aldeia que a viu nascer e por cá foi refazendo a vida.
A Isilda é mulher de resposta sempre pronta. Obstinada, tem até nos seus dizeres alguma graça.
Contou-me ela que certo dia vindo da loja, aflita com os pés, por causa do reumático que a atacava, passou por um aldeão inválido, sentado na cadeira donde nunca saía, na frente da casa. O doente vendo a minha prima arrastando os pés, perguntou-lhe em tom de gozo:
- Vens do Manel Ferrador?
Isilda aproximou-se e observou, tentando perceber se ouvira bem a questão:
- Diga lá senhor Zé, o que me quer?
Ele insistiu:
- Vens do Manel Ferrador?
Furibunda com a pergunta, logo respondeu a preceito:
- Venho, venho! E sabe o que ele me disse?
- Eu não…
- Que há muito tempo que vossemecê não vai lá para ser ferrado!
O velho calou-se, engoliu em seco e deixou a mulher seguir o seu caminho.
É desta fibra que a minha prima Isilda é feita.
No dia em que fez 64 anos aceitou que eu abrisse um blogue em seu nome, onde vou colocando as suas poesias, tão simples mas ao mesmo tempo tão genuínas.