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Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

Inexistentes!

São seis horas da tarde. A noite cai sobre a aldeia fria. Ao longe ainda restam uns laivos do que fora o dia de sol acolhedor.

Estou parado perto da ribeira e de um antigo lagar agora quase em ruínas. Aguardo que a carrinha seja cerregada para seguir viagem. De súbito surgem da escuridão uma quantidade de jovens de ambos os sexos. Eles à frente no meio os filhos de palmo e atrás as mulheres de crianças de meses colados à mama riga de leite quente.

São ciganos!

Vivem no lagar abandonado. Vêm ajudar o patrão que os alimenta e os protege. Elas são magras, esguias, bonitas. Os bebés vêm mal vestidos de pés descalços e não fosse o calar das mães morreriam de frio. Os outros miúdos terão 4/5 anos e já têm o sangue quente da traquinice. Finalmente os pais... jovens, muito jovens, magros, irresponsáveis mas sorridentes.

Pergunto-lhes o nome:

- Raul, Rafael...

- E elas?

- Maria, Pilar...

- E as crianças?

- Casimiro e Lúcia...

São bons conversadores os rapazes. Falamos do frio que cai, da azeitona apanhada, das crianças irrequietas e da fome de todos os dias. Quando lhes pergunto a idade dizem que não sabem.

- Mas no cartão de cidadão está lá a data de nascimento...

- Não temos...

- Não têm?

- Não... - respondem-me em uníssono.

Nem quero acreditar que em pleno século XXI num país denominado Portugal haja ainda tanta gente inexistente.

Mas inexistem em alegria.

 

Este é o Portugal de Costa!

Hoje dia de Carnaval com o país em alerta amarelo devido ao mau tempo, com tanto folião a veguear por essas terras eis que um homem com cerca de trinta anos me bate à porta a pedir comida para alimentar a família constituída pela mulher e quatro filhos.

Arranjei um avio pequeno, porque nestas coisas lamentavelmente fico sempre de pé atrás, e entreguei-lho. Ele agradeceu e perguntou-me se sabia onde poderia arranjar trabalho. Disse que não sabia, mas dei algumas dicas de empresas às quais poderia recorrer.

Voltou a agradecer e partiu em busca de outras portas onde bater.

Será este o país que António Costa nos oferece com tanta veemência?

O pedinte de todos os dias!

Ainda por causa da iniciativa do Banco Alimentar contra a fome assumo que nunca fui muito apreciador de dar esmola. Lembro-me em 1979 logo pela manhã no Rossio em Lisboa um miúdo veio ter comigo a pedir uma esmola.

Disse que não dava dinheiro mas que em troca lhe daria de comer. O que ele aceitou. Fomos então à pastelaria Suiça e lá dentro ele comeu o que quis. Paguei e fui embora.

Perto onde hoje trabalho há uma casa onde normalmente vou tomar o pequeno almoço. Todos os dias. À porta está sempre um homem baixo de origem esgtrangeira, de barba branca e a todos cumprimenta e estende a lata para uma moeda.

Nunca lhe dei nenhuma, seguindo o mesmo princípio. Mas hoje uma antiga colega que trabalha muito perto de mim e que também toma a primeira refeiçãono mesmo sítio que eu trouxe um casaco para dar ao mendigo.

Eu assisti à oferta, mas esta criou uma situação complicada já que passados minutos o pobre estava rodeado de outros pedintes que quase estragaram o casaco… somente por inveja pelo que oude perceber.

E depois falam dos ricos capitalistas.

Será que só eu é que assisto... (II)

Devo ter mel!

Hoje mais um caso bizarro.

Estou longe da grande cidade. Também necessito de mudar de ares, de quando em vez. Mas parece que também aqui na Beira Baixa os ares já viveram melhores tempos.

Estou ao balcão a pagar a minha despesa. Ao meu lado chega um casal mais ou menos da minha geração. Vestem roupa simples mas asseada. O cavalheiro pede:

- Um café e um pastel de nata...

A empregada serve-os lesta. Ele volta a solicitar:

- Importa-se de partir o pastel ao meio!

- É para já...

E num hgesto rápido e decidido meia o bolo.

A senhora bebe um pouco de café e come uma metade. Ele bebe o resto e saboriea o outro naco.

Partlha? Talvez...

Pobreza? De certeza!

Será que só eu é que assisto...

Hoje mais uma história num supermercado. Perto das seis horas e tenho três compras para pagar. A fila é relativamente extensa mais vai-se despachando. À minha frente diversas senhoras aguardam tal como eu para pagar.

Reparo então numa idosa que chegou à caixa com um braçado de compras e tem com a empregada o seguinte diálogo:

- Boa tarde menina.

- Boa tarde - a empregada pega nas compras e começa a passá-las pelo leitor de código de barras.

Diz a anciã:

- Só tenho 3 euros. Destas compras todas escolha até esse valor.

A caixeira pegara logo num pacote de manteiga.Perante a limitação devolve:

- Mas ó minha querida, só este pacote custa mais que os 3 euros...

- Então esse não vai...

Demorou um pouco a escolha entre os produtos levados para a caixa, quase todos essenciais, aqueles que três meros euros podiam pagar. Finalmente.

- 2 e 71... - disse a menina da caixa.

A idosa entregou as duas moedas, recebeu o troco e levou os dois litros de leite, um pão e um chocolate nas mãos, porque os sacos também se pagam e são caros.

O resto? Ficou no supermercado!

Solidariedade – uma palavra desvalorizada

 

Há já algum tempo ouvi uma estória, a requerer, todavia, confirmação mas tomando em conta o local onde terá acontecido, acredito plenamente que tal tenha acontecido. Eis o episódio:

 

Numa certa aldeia dinamarquesa os seus habitantes descobriram que um dos seus elementos fugira, durante anos ao fisco, deixando de pagar os impostos que lhe competia. Duma forma civilizada os aldeões pura e simplesmente votaram ao ostracismo o seu conterrâneo.

 

Este caso jamais se passaria em Portugal, pois neste país quem engana o Estado é considerado um cidadão com valor. O problema é que o exemplo vem de cima, isto é, do próprio Estado que não cumpre devidamente com o acordado.

 

Recorro a este tema porque sinto que muitos de nós estamos a ser enganados, não só pelo governo, mas pelos próprios portugueses.

 

Sempre que oiço a palavra solidariedade, eriçam-se os pêlos todos. Custa-me entender como há gente capaz de viver debaixo da capa da tal palavra solidariedade sem nunca fazerem um esforço que seja, para sair desse marasmo social.

 

Sei que o desemprego tem assolado demasiadas famílias. Que há pessoas a passarem muito mal os seus dias. Crianças a irem para a escola sem uma refeição. Sei tudo isso e sinto que poderia fazer um pouco mais por alguns deles.

 

Mas infelizmente há quem se aproveite deste estado de coisas e nem pretenda trabalhar mesmo que haja que fazer. Quem prefira o dia esfomeado mas ocioso. Há quem se sinta bem na pele de pobre e desgraçado.

 

E é por estes casos que a palavra solidariedade perde todo o seu valor.

 

Paga sempre o justo pelo pecador!

 

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