Quando em 2021 escrevi este texto perante a imagem do célebre quadro de Frida Kahlo "El sueño", não tinha verdadeiramente consciência do que fora a vida da pintora mexicana.
Portanto quando hoje saí da "Mãe de água" nas Amoreiras em Lisboa, percebi que aquela prosa ficara muito aquém daquilo que o quadro pretende transmitir.
Hoje fui ver a exposição sobre a vida e obra de uma dos maiores ícones do México: Frida Kahlo.
A primeira ideia com que ficamos é que não haveria necessidade de uma menina sofrer tanto. A segunda ideia esmaga-se no pensamento de que se a pintora tivesse seguido a sua vida de forma normal jamais teria dado ao mundo uma grandiosidade de beleza, misturada com muito sofrimento, plasmado nas suas telas.
Frida desde cedo se mostrou diferente das demais crianças da época e depressa enveredou pelos caminhos políticos e não só. Também o da pintura...
Esta viagem de uma hora pela vida da activista mexicana, é imperdível. Nela se percebe a dor, o sofrimento, o amor e a coragem! A tenacidade e a resiliência. A paixão e o inconformismo!
Uma mostra engendrada num ambiente muitíssimo bem aproveitado.
Pudesse eu escolher a arte onde fosse incrivelmente bom e escolheria com toda a certeza a pintura. Nem prosa, nem poesia, nem outra arte qualquer... Somente pintura.
Sempre que visito museus ou galerias fico demoradamente especado a olhar a arte à minha frente. Sejam figuras assimétricas, retratos, paisagens, naturezas mortas ou até traços simples como os três quadros de Juan Miró que há uns anos pude observar na sua Fundação, na cidade condal de Barcelona.
Acima de tudo fico a pensar o que terá levado o artista a descarregar toda aquela beleza numa tela que em tempos foi vazia. Obviamente que há as influências que cada pintor adquiriu, a experiência que a vida lhe deu, o sentimento interior que é decalcado, por fim, numa tela.
Deste lado tudo isto seria totalmente impossível. Nunca tive jeito para a pintura nem sequer para fazer um simples desenho. Não fui brindado com esse dom e que sinceramente muito falta me faz, já que sinto que alguns dos meus textos, com uma bonita ilustração, ganhariam outra beleza.
Um exemplo perfeito do que escrevi acima poderá ser encontrado neste espaço onde escrita e pintura se misturam de uma forma quase perfeita.
Quando vi este quadro em Viena nem acreditei... "O Beijo" de Gustavo Klimt? Não podia ser...
Mas era!
Esta belíssima imagem pintada pelo grande mestre austríaco não vale só pela técnica e beleza das cores e formas, mas acima de tudo pelo... gesto. E que gesto...
O beijo é, na minha modesta opinião, o mais singular, mais genuíno e a mais pura demonstração de sentimentos por parte do ser humano. Nele pode-se condensar tudo: amizade, carinho, ternura, paixão, amor. Até alegria e felicidade.
Se o beijo de mãe ao seu filho é deveras belo e pictórico mais bonito é o beijo duma avó ao seu neto. Dado assim, sem razão aparente, unicamente por ser ser avó. São sempre breves os momentos de profundíssima ternura. Mas claramente intensos...
É uma oferta e um desejo. Uma esperança e um delírio. Uma realidade e um sonho.
Tudo misturado num só gesto.
O beijo... esse tradutor físico de sensações e desenganos. Todavia perfeito!