Um peregrino não é aquele que caminha para um qualquer lugar santo tão-somente para acrescentar à sua história de vida mais um objectivo alcançado.
Peregrino é essencialmente aquele que deixa que o Espírito Santo caminhe dentro de si. Que se alegra com a pegada que Cristo vai deixando no seu coração enquanto caminha para a sua alma. Que se deixa envolver pelos braços envolventes e ternurentos de Mãe Santíssima.
A Peregrinação deste ano a Fátima foi, quiçá, a mais marcante de todas quantas fiz. Contam-se, com a deste ano, uma dúzia delas… Todas claramente diferentes, todas assertivas mas a deste ano…
Sou certamente um pobre peregrino que tentou encontrar nos trilhos que percorreu nestes últimos dias um renovado sentido para os seus dias.
Rezei, ouvi, chorei, partilhei muito, muito, muito… E tudo isto fez parte da longa caminhada.
Cada minuto, hora, quilómetro que palmilhei foi uma bênção. Ou como se reza mas laudes: bendigo ao Senhor todos os momentos da minha vida.
A catequese sobre a eucaristia, as questões que Jesus me foi formulando, os desejos que deixei no colo da nossa Mãe fizeram outrossim parte desta alegria para a qual uma só palavra consegue traduzir e à qual chamamos fé.
A fé que nos salva, que nos ilumina, que transforma tristeza em alegria, o desespero em esperança, o amor incondicional de Cristo em força permanente.
O verdadeiro peregrino não conta bolhas, nem unhas caídas, nem dores sentidas, mas fala somente da felicidade que é ter o dom de acreditar.
Cinco extenuantes dias e quatro longuíssimas noites que me/nos puseram a reflectir em coisas tão simples mas ao mesmo tempo tão marcantes e essenciais na nossas vidas quotidianas.
Coisas essas que variaram, na sua essência, de pessoa para pessoa. Como não podia deixar de ser já que cada um tem o seu próprio mundo. E a sua cruz...
Há por isso que sabê-la carregar até ao Calvário, que são os nossos dias comuns.
Durante os próximos cincos dias estarei fisicamente ausente deste espaço. Essencialmente porque irei regressar aos caminhos de Fátima em mais uma Peregrinação a pé até ao altar do Mundo.
Os preparativos estão feitos: a mala com a roupa e outros apetrechos está pronta, os colchões testados, os sacos-cama preparados.
Se não me falha a memória está será a 12ª caminhada. Comecei em 2006 e de lá até hoje falhei duas vezes, uma por não ter havido peregrinação em 2007 e em 2017 por motivos de atraso na inscrição.
Regressar ao caminho é sempre um momento muito especial. Não só pelas companhias, mas especialmente pelas vivências que cada metro caminhado, cada quilómetro percorrido, cada peregrino andarilho nos dá!
Assim ficam já meio escritos e agendados alguns textos que eu terei de completar à noite com a ajuda do telemóvel. Se tal for capaz e tiver rede.
Portanto até Domingo fiquem por cá bem e não se preocupem connosco pois vamos muuuuuuuuuuuuuuuuuito bem acompanhados.
Não, ainda não estou a caminhar, todavia participei numa reunião preparatória com direito a mais de cinco quilómetros de caminhada de forma a que os próximos novos peregrinos avaliem do seu estado físico.
Não é que uma mão cheia de quilómetros seja suficiente para testar ao limite as forças dos próximos caminhantes, mas pode dar uma ideia. E houve mesmo quem ao fim desta curtíssima distância já aparecesse com uma bolha.
No entanto este breve encontro a precisamente um mês de distância do início da verdadeira caminhada foi um momento importante. Especialmente porque o Padre J. usou da palavra para apresentar as propostas para o caminho deste ano.
Utilizou para tal um texto do actual Bibliotecário do Vaticano o Arcebispo José Tolentino de Mendonça. Como quase todos os textos do Padre que nasceu na Pérola do Atlântico, aquele foi mais uma profundíssima reflexão que nos tocou a todos.