Como já divulguei em postal anterior dei por finda as minhas caminhadas em peregrinação até Fátima!
Quem se coloca a caminho até um qualquer lugar santo em peregrinação sabe de antemão que irão ser dias duros, pesados e acima de tudo desafiantes.
Se para mim todas as peregrinações tiveram um sentido muito específico e diferente em cada ano que caminhei, também fiquei ciente que aquelas deixaram de ser uma penitência mas algo até agradável.
Em termos meramente teóricos uma peregrinação carrega simbolismo, é certo, mas outrossim algum sofrimento, alguma dor física e de alma e mais que tudo deverá estar envolvida em muito espírito de sacrifício.
Ora se caminhar para mim é um prazer ou uma alegria, logo o verdadeiro sentido de uma peregrinação fica desvirtualizado.
Vai daqui fiquei a matutar nesta última ideia e conclui que é maior o sacrifício de ficar em casa que andar pelas estradas, mesmo sob um sol inclemente. Sofro mais por não escutar a Palavra do Senhor, por não poder ajudar outros companheiros de caminhada, por não ser porto de abrigo das palavras dos que comigo caminham.
Então se peregrinar é sofrer concluo que estando em casa também peregrino. Oiço o meu silêncio e as minhas leituras mesmo que não sejam do evangelho têm a mesma função de me fazerem acordar para outras realidades.
Peregrino assim ao âmago da minha alma procurando lá as respostas que necessito!
Na última peregrinação que fiz a Fátima em Outubro do ano passado decidi que seria a última! Talvez por isso tenha aproveitado todos os momentos, palavras e leituras. Silêncios e alegrias...
Pois bem amanhã bem cedo um conjunto de peregrinos voltará à estrada, desta vez sem a minha presença. Não imagino quantos serão a caminhar, mas acredito que muitos... Como quase sempre!
Quando me perguntavam porque ía a uma peregrinação respondia invariavelmente: não sei porque vou, mas Deus saberá! Para no fim muitos dos caminhantes virem ter comigo dizendo que fui um estímulo e uma força na caminhada!
Não serei mais peregrino de estrada porque na vida é necessário perceber quando chegou o tempo de parar!
Obviamente que mora em mim uma enorme tristeza. Mas há que aceitar o que Deus nos dá!
Rezarei pelos caminhantes que eles certamente rezarão por mim! Que façam bom caminho. Arrisco mesmo a dizer que o farão certamente sem a minha presença!
Falar do melhor de 2022 é como dizer que a melhor comida do mundo é o "cozido à portuguesa", pois cada um tem os seus gostos, as suas preferências e nada disso supõe que esteja mais certo ou mais errado que os outros.
Por isso não venho opinar sobre o melhor deste ano em termos genéricos, mas unicamente numa visão assaz pessoal!
Assim coloco em pé de igualdade duas situações que me preencheram totalmente:
Não, não vou fechar este espaço, mesmo que isso contentasse muuuuuuuuuuuuuuuuuuita gente...
O título aponta somente para o que foi a minha breve vida de peregrino.
Iniciei tarde nestas santas caminhadas pois fiz a primeira por volta dos 46 anos de idade. Desde esse ano de 2005 fiz 13 (coincidências ou Deuscidências? este número) peregrinações a Fátima.
Recentemente e após três anos e meio sem caminhar devido à pandemia, regressar à estrada foi um tanto difícil e estranho. Mas tudo se ultrapassa quando somos levados por... São os nossos pés, são as nossas bolhas, mas serão as dores somente nossas?
Hoje houve encontro de peregrinos que comigo partilharam, em Outubro passado, caminhos e chãos de pavilhões para dormir, igrejas e capelas para orar, almoços e jantares para desfrutar.
Porém aproveitei este momento para decidir que é a hora de parar. Convencer-me que a idade já pesa e que estas longas caminhadas estarão naturalmente destinadas aos mais novos. Daqui assumir o meu "fim de linha".
Foi muito bom enquanto durou. Chorei e ri muito, aprendi mais do que ensinei, vivi experiências incríveis e quase impossíveis de descrever, mas agora é tempo de... parar! Entender que nunca temos o que queremos, mas tão-somente o que precisamos.
Guardo destas jornadas muuuuuuuuuitas e gratas recordações, também algumas dores, um cajado, mas em primeiro retenho a coragem de cada um de nós enquanto peregrino para assumir a sua diferença.
Finalmente passei testemunho... Apraz-me saber que deixei alguém imbuído do mesmo espírito que durante estes últimos 20 anos viveu dentro de mim.
“Peregrinar é rezar com os pés” bela e conhecida frase que diz muito do que é caminhar para qualquer lugar santo.
Porém eu acrescentaria que peregrinar será mais um retiro… a andar! Digo eu que senti isso muuuuuuuuuuuuuito bem.
Quem vai com este grupo de peregrinos tem de estar muito bem preparado para sofrer. Sendo que o menor dos sofrimentos está nas dores das pernas, nas bolhas ou nas unhas dos pés amassadas.
Quem caminha é paulatinamente convocado a abrir o seu coração aos outros e obviamente a Deus. Um Deus que é misericordioso e que nos quer felizes. Sempre felizes.
Porém a felicidade só entrará nas nossas vidas se conseguirmos desalojar uma série de mágoas e tristezas que fomos angariando durante muito tempo.
A proposta deste ano seria: “Vai e faz como eu”!
A fé nos tempos modernos torna-se para muita gente algo estranho, quase bizarro. Para que quero eu a fé se tenho feicebuque, instagram e mais um sem número de aplicações. Como é que sou mais feliz com fé do que com uma rede social?
As respostas a estas questões não se explicam, nem se teorizam apenas se sentem. E vão surgindo a cada passo que damos no caminho para Fátima.
Dizia-me um peregrino no final da subida da serra que nos levaria a Minde: Esta caminhada só se consegue, porque há fé. Sem esta nada disto faria sentido – concluiu.
Touché!
Cada dia, cada quilómetro, cada saudação que demos fez parte integrante deste caminho ao âmago de cada um de nós.
Falou-se muito de Santos (Santa Teresinha do Menino Jesus, São Francisco de Assis, Sãozinha, Santa Teresa de Ávila) tudo gente que um dia se colocou ao serviço do Senhor. Eles deram testemunho através das obras, os peregrinos através do exemplo de estoicismo e coragem.
Conquanto íamos aproximando do regaço da nossa Santíssima Mãe, o Espírito Santo alargava os nossos corações para que neles pudéssemos receber todas as ideias e venturas que íamos testemunhando.
Caminhar não é fácil, nada mesmo. Os trilhos irregulares, as pedras a fugiram sob cada passo, o “tuvenam” branco escorregadio e traiçoeiro, o alcatrão negro, quente e abrasivo tudo fez parte deste caminho físico que é muito menos penoso que a fé a esgueirar-se por todos os poros da nossa alma e a colocar em causa algumas certezas que tínhamos.
Se juntarmos a tudo isto o companheirismo, a camaradagem, a alegria, a solidariedade, a disponibilidade, a preocupação com o próximo, diria que uma peregrinação inicia-se com um conjunto de peregrinos a andar pela estrada e termina como uma irmandade a chorar.
Finalmente... a fé é o trilho único e obrigatório para a felicidade interior em cada um.
Saibamos cada um de nós perceber e desvendar esse caminho que é e será sempre o mistério supremo!
Partirei amanhã de madrugada para a peregrinação de 2022. Após dois anos sem direito a tal é com um misto de alegria e algum receio que amanhã de madrugada, partirei para Fátima a pé.
Serão aproximadamente 150 quilómetros entre muita gente (menos do que é costume), muitas estradas, caminhos e trilhos. Muita fé no coração, mas sempre com a certeza que Deus e Mãe Santíssima velarão por nós.
Prevê-se tempo quente para estes dias. Demasiado quente se bem que as manhãs sejam já bem frescas. Veremos como correrá!
Nestas horas que me restam até à partida tento reposicionar-me mentalmente para aquilo que posso a vir a ter necessidade nos próximos dias, se bem que não seja a primeira vez que peregrino há sempre aquilo que nos esquecemos.
Para quem por aqui fica, tenha um óptimo fim de semana. E se porventura forem crentes rezem por nós. Também necessitamos.
Eu pelo caminho rezarei certamente por todos vós, crentes e não crentes!
Irei, na medida do possível, tentar escrever alguma coisa sobre a caminhada. Mas se não virem nada publicado não se admirem... é porque não tive rede ou fiquei sem bateria no telemóvel.
Na Cova da Iria, neste dia tão santo para os católicos, os peregrinos não estiveram, mais uma vez, presentes. Nem ontem à noite na célebre Procissão das Velas.
Um recinto vazio de pessoas, mas repleto de profunda fé.
Foi na casa de cada um de nós, que peregrinamos muitas vezes até Fátima e na vida, que ontem a luz se tornou realidade. À janela, nos nossos corações, no espirito cristão que nos acolhe em cada passo.
Aqui morou e ainda mora a esperança de um novo dia… mesmo sem ninguém!
Fazendo parte das comemorações do ano jubilar da Catedral de Santiago de Compostela, o filme “O Caminho” realizado por Emílio Estevez e tendo como protagonista um dos actores de Apocalipse Now, Martin Sheen, é um filme, no mínimo, muito curioso. E que só recentemento consegui ver.
Não obstante estar datado de 2010 ainda assim esta grande-metragem toca um dos principais pontos e quiçá o mais difícil de explicar ainda hoje e que se prende com uma simples pergunta: o que leva alguém a peregrinar?
A questão colocada assim de chofre poderá não obter a resposta desejada. Muitos dirão que é por promessa de carácter religioso, outros por puro turismo, há aqueles que terão somente curiosidade e finalmente os que vão peregrinar porque…
…Nem sabem porquê!
Como peregrino que sou, mesmo que seja somente até Fátima, reconheci no filme muitos dos dilemas que nos assolam durante a caminhada. As dores, as conversas, o cansaço e acima de tudo o tal dilema… interior.
Como por diversas vezes neste espaço fui referindo, peregrinar não é chegar, mas tão-só fazer o caminho. Partilhar vidas, camas e comidas, lágrimas e risos, frustrações e alegrias, todos imbuídos das mesmas sensações, sentimentos e vontades.
Ainda do filme retive dois momentos fantásticos: o primeiro quando a personagem principal mostra o terço a um padre, que este lhe havia oferecido muitos quilómetros antes e o segundo quando uma das personagens entra na Catedral de joelhos. O único que parecia estar ali apenas para perder peso, foi o que se vergou à fé que aquele local santo tanto carrega.
Acordamos novamente muito cedo. Ainda por cima a hora mudara...
Tralha arrumada, pequeno almoço tomado e eis-nos a caminhar debaixo de uma chuva miudinha e muito, muito fria.
Mas peregrino que se prese não se atemoriza com a intempérie e parte para o caminho repleto de coragem e fervor.
Onze quilómetros palmilhados e parámos em Sobral de Monte Agraço, onde numa pastelaria confortámos o estômago com cafés e pastéis de feijão. Uma delícia...
Depois a oração das laudes rezadas em conjunto. O almoço seria a próxima paragem.
Pelo caminho surgiram as primeiras questões formuladas pelo padre J. A nossa alma começa a perceber que nem tudo é como gostaríamos. E que a fé advém da palavra.
Ficou então no ar uma questão: qual a palavra que define a nossa fé?
Temos mais 90 quilómetros para encontrar a resposta.