Quando a tróica andou cá pelo burgo, uma das regras que impôs foi dividir parte do subsídio de Natal em duodécimos.
Deste modo muitos funcionários públicos, reformados e pensionistas e até privados passaram a receber mais dinheiro ao fim de cada mês por troca de menor dinheiro em Novembro.
Recordo-me que nessa altura os protestos foram imensos, quiçá justificados. Passado este tempo de vacas magras eis-nos novamente a crescer. Deste modo o actual governo decidiu, e bem acrescente-se, repor a totalidade dos subsidios de Natal.
Curiosamente escuto agora novos protestos, desta vez por ter sido retirado dinheiro da reforma ou pensão, esquecendo que receberão um bolo maior em Novembro.
Portanto, das duas uma: ou a Segurança Social não explicou devidamente aos reformados e pensionistas o que fez em 2013, ou não explicou agora.
E pasme-se até deixei de crer na Selecção Nacional.
Durante os anos setenta, Paco Bandeira cantava uma canção em que a determinada altura dizia “não acredito não/em quem me promete o céu/ sem poder dar o chão.”
Curiosamente já naquele tempo o povo se sentia triste e vilipendiado pelos políticos e governantes. Entre estes podemos encontrar o antigo PM e mais tarde PR Dr. Mário Soares, hoje tão crítico das actuais políticas. Terá razão no que afirma, porém calculo que se esqueceu do que fez ou mandou fazer, enquanto liderava Portugal. Tal como Jorge Sampaio, que duma forma, quiçá mais comedida, aproveitou também para lançar achas para uma fogueira que já consome demasiado combustível humano.
Enfim o futuro deste país está irremediavelmente hipotecado por imensos erros de 30 anos de (más) governações.
A tristeza que me assola não representa obviamente apenas o meu sentir, mas de muitos e ilustres desconhecidos lusos. Especialmente daqueles que descontaram toda uma vida e agora nem têm direito ao retorno merecido.
Se o problema do nosso país são os reformados, se é nas pensões que se observam os maiores cortes, então para quê reformar-me?
Estou mesmo a imaginar-me, daqui a muuuuitos anos, a entrar no Metropolitano à hora de ponta de bengala e com um sorriso nos lábios.
Foi um dos meus filhos que me veio pôr à estação do Metro, pois já não estou em condições de conduzir. Aconchegou-me o casaco ao corpo, poia a manhã está muito fria e entregou-me um aviso verbal:
- Toma cuidado nas passadeiras... há condutores que não param para te deixar passar.
Eu, com o pouco cabelo grisalho vou acenando que sim com a cabeça. E tento despachar-me... é que acabei de ver uma garota para aí com cinquenta anos bem jeitosa e que me atirou uns olhares...
Pois é, imagino muita coisa, mas só espero que a imaginação não se torne nunca, realidade.