Há momentos na minha vida em que fico a pensar se não estarei, por vezes, a exigir demais dos outros, especialmente daqueles que me rodeiam. Esqueço-me que cada uma das partes que fazem de mim um todo são também um todo feito de outras partes. Parece confuso mas é muito simples.
O problema é que a velhice não é somente uma espécie de filosofia de vida (só é velho quem se sente realmente velho, dizem!), mas acarreta consigo algumas bravuras, tristezas e incapacidades de lidar... com o inesperado. Ou como costumo ouvir dos mais idosos cá de casa: "isso é já muita confusão para a minha cabeça"! No fundo este é que é o verdadeiro buzilis dos idosos.
Também já cheguei àquele momento em que gostaria de ter uns dias mais serenos, observar mais ao meu redor e receber dos meus aquele carinho tão especial.
Mas a vida nem sempre (nunca é!!!) como nós gostaríamos que fosse e assim só há que aceitar e sorrir ao ver o Sol de manhã, mesmo que este traga um inclemente calor.
Quando eu era menino havia uma filosofia demasiado machista que nos era incutida e que consistia em que um homem "nem que visse as tripas a sair da barriga para fora" nunca choraria.
Só que a vida vai-nos ensinando e hoje aquela teoria parva do antigamente caiu redondamente. E ainda bem!
Sinceramente, se eu visse as minhas tripas hoje de fora, eu choraria que nem um desalmado. É que aquilo deve doer à bruta!
Como não jogo nos jogos de sorte ou azar nunca serei contemplado com algum prémio. Portanto jamais serei rico... pelo menos dessa forma!
Todavia há tentações... E se uma delas me impelisse para jogar e fosse contemplado, entre algumas diferentes coisas que faria, uma delas seria, certamente, comprar um carro.
Eu bem sei que isso é o que diz toda a gente, só que eu quero um carro muito especial. A marca é francesa e o modelo antigo. Digo mesmo que é uma daqueles carripanas que não tem idade e que serve todos as faixas etárias.
Falo obviamente do Renault 4. Um modelo já em desuso e descontinuado pela fábrica francesa, mas que ainda anda nas nossas estradas com a competência devida.
Esta é uma daquelas viaturas que me fariam imensamente feliz. Nunca soube explicar o porquê, mas que gosto muito deste carro, isso é verdade.
Como dizia o poeta andaluz António Machado "o caminho faz-se caminhando". É assim que vivo os meus dias: numa permanente caminhada.
Se por vezes trilho caminhos tortuosos e quase inóspitos, também calcorreio veredas direitas e de bom piso. Porém nunca me escuso a evitar um carreiro unicamente por que me surge desconhecido. A aventura da descoberta pode ter, e terá certamente, momentos fantásticos e inolvidáveis.
Porque escrevo esta espécie de ensaio pré-filosófico? Acreditem que não sei...
Mas hoje ao fim de um dia de trabalho e de uma longa viagem noturna... apeteceu-me dizer isto.
Porque nunca sabemos como acordamos amanhã... ou mesmo se acordamos.
Deste modo fica assim escrito o que penso sobre a filosofia da vida, para memória futura.